A chuva caia grossa e forte, castigando todos que estavam na rua aquela hora da madrugada.
Qualquer pessoa inteligente estaria em casa debaixo dos lençóis, aqueles apaixonados estariam com seus parceiros aproveitando para ficarem juntos vendo algo na televisão, porém esse não era o caso do pequeno Chuuya.
Este ruivo com problemas temperamentais estava parado dentro de uma cabine telefônica encarando o telefone público a sua frente, ainda incerto se deveria ou não usa-lo.
Em uma de suas mãos estava uma garrafa de vinho caríssimo, momento ou outro ele dava goles longos e isso já havia deixado ele meio bambo. Respirando fundo, o ruivo discou o número que decorou outra hora e agora esperava nervosamente o outro lado atender.
— hmn? Alô? – a voz rouca e cansada de Dazai soou do outro lado. Ele provavelmente estava dormindo, claro já se passavam das quatro da manhã, quem estaria acordado??
— depois de tanto tempo a primeira coisa que vou ouvir é um "Alô". – Chuuya sorriu melancólico – é engraçado.
— Chuuya-kun? Por que está me ligando essa hora? – perguntou confuso enquanto se levantava aos poucos até estar sentado.
Dazai focou sua visão sem acreditar em quem lhe ligava, seu sono já foi se esvaindo.
— antigamente você passava noites virando taças de vinho comigo no meu quarto... – Chuuya bebeu mais gole de sua garrafa que estava quase no fim – Dazai você sabia que é um parceiro de merda? Quem abandona seu parceiro sem nem ao menos se despedir? Até mesmo o seu pupilo...
— Chuuya você está em um telefone público no meio dessa chuva? O quanto você bebeu? – Dazai tentou ignorar aquelas palavras, pois quanto menos pensasse naquilo menos ele se sentiria mal.
— Dazai...– sua voz soou chorosa e ao mesmo tempo rouca – em quem eu vou confiar agora? Eu nunca mais devo usar a corrupção, certo?
Chuuya largou a garrafa -agora vazia- de vinho no chão, ele suspirou enquanto mordia o lábio inferior tentando chorar o mais silenciosamente possível. Não queria que Dazai ouvisse ele chorando, isso já seria humilhação de mais.
— chibi-chan deve sentir muito a minha falta~ – Dazai tentou quebrar aquele clima sério. Era melhor um Chuuya bravo do que um Chuuya melancólico.
— sim, eu sinto a sua falta! Idai? – ele gritou em plenas pulmões, já nem se importando com o soluço que escapou pelos seus lábios – maldito filho da puta, eu sinto tanto...tanto... – a voz dele foi morrendo aos poucos e isso deu espaço a apenas um choro baixo.
Dazai a esse ponto já havia se trocado e agora corria pela casa em busca de seu sobretudo e as chaves do carro.
— é melhor voc-
— eu cortei o cabelo...– o ruivo deixou um biquinho transparecer enquanto mexia nos fios curtos recém aparados – Akutagawa disse que tá feio, mas eu sei que fiquei bonito.
— eu sei que ficou, agora que tal você me sair daí e–
— tá bom caralho, já sei que você não quer falar comigo! Por isso foi embora? Eu não sou tão insuportável... e não me importo! Morra logo seu suicida maníaco!
Dazai chamou diversas vezes pelo nome do ruivo mas não recebeu retorno já que o telefone foi deixado pendurado na cabine telefônica enquanto Chuuya corria pra fora dali, deixando para trás aquele idiota e uma garrafa vazia de vinho.
Dazai mesmo que sem vontade nenhuma acabou por sair de casa em busca do ruivo problemático.
Não precisava procurar muito, ele sabia exatamente quais locais o Nakahara gostava de frequentar.
Estacionou em frente a um pequeno bar decrépito. Antes aquele bar costumava ser animado e cheio de festas, inclusive Chuuya já participou de algumas dessas enquanto ainda não era da máfia, porém o bar fechou após um tempo e mesmo assim o ruivo continuava indo lá.
Ele achava que aquelas paredes velhas ainda guardavam um pouco daqueles que um dia foram sua família. Ele nunca iria admitir mas sentia certa saudade das Ovelhas, e era ali que ele ia para pensar diversas vezes.
Dazai viu a figura pequena e encolhida no canto do antigo estabelecimento, ele tinha a cabeça apoiada nos joelhos e tremia um pouco pelo frio. Aos poucos ele se aproximou tentando não assuta-lo.
— se esconder aqui é tão previsível...– a voz de Dazai soou baixa, mas alta o suficiente para Chuuya se assustar e o olhar rapidamente.
— o que você 'tá fazendo aqui?
— tsc...sempre tão mal educado, Chuuya-Kun...– ele disse com falsa decepção na voz. Dazai pegou o sobretudo marrom que usava e jogou sobre os ombros do menor – vamos embora antes que a chuva aumente, as ruas são mais perigosas de dirigir.
— quem disse que eu vou com você?
— pretende dormir aqui? – arqueou uma sobrancelha e Chuuya suspirou cansado antes de lhe erguer a mão em busca de apoio.
Dazai ajudou Chuuya a entrar no carro e juntos eles fizeram uma viagem silenciosa, não por opção própria mas sim por que o ruivo caiu no sono nos cinco primeiros minutos de viagem.
Isso não durou ja que pra levar ele até o apartamento de Dazai foi necessário enfrentar alguns pingos de chuva.
Chuuya se revirou no colo do Osamu, tentando cobrir seu rosto daquelas irritantes gotas de chuva.
Dazai achou aquilo inegavelmente fofo.
Ao coloca-lo na cama, dazai tratou de tirar suas peças de roupa o deixando apenas com a roupa íntima, depois lhe deu um moletom que ficou grande o suficiente para se parecer com um vestido.
Sorriu com o feito e depois de se trocar se deitou ao lado dele no seu pequeno futon.
— isso não te faz ser menos filho da puta. – afirmou Chuuya se virando para ficar cara a cara com Dazai.
— eu sei...
— e eu vou ficar com isso. – disse se referindo ao moletom, Dazai sorriu curto e concordou com a cabeça – você vai estar aqui quando eu acordar?
— eu vou, você confia em mim, certo? – Chuuya concordou – então pode descansar.
— eu sempre vou confiar em você...
[...]
Chuuya sentia sua cabeça latejando, era quase como se ele tivesse levado uma surra noite passada.
Ele se esforçou muito para abrir os olhos e encarar o quarto em que dormia.
De primeira ele tentou achar o corpo que ontem estava ao seu lado dormindo tranquilamente, e aos poucos foi percebendo algo que lhe feriu profundamente.
Primeiro: não estava no quarto do Dazai, estava no quarto da Kouyou.
Segundo: Dazai mentiu.
— onde...ele...? – de virou desnorteado em busca de qualquer sinal de que Dazai ainda estivesse ali e que não foi tudo coisa da sua imaginação fértil.
— ele já foi. – a ruiva dona do quarto apareceu com uma bandeja em mãos cheia de comida e alguns remédios.
Chuuya sorriu seco, "é claro que já foi..." .
— eu já avisei pra você como o Dazai é. – ela se sentou próximo a ele e indicou seu colo em uma permissão muda para que ele se deitasse ali, e assim ele fez – estrategistas pensam com a mente e não com o coração, espero que aprenda dessa vez, Chuuya.
Era assim...
Dazai era um estrategista, no que estava pensando?
Mas mesmo assim não podia deixar de pensar que em algum lugar ele sentiria algo, mesmo que pouco.
Isso por que...
Bom, por que...
— por que eu também sinto.

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estrategista
FanfictionOnde Dazai recebe a ligação de um Chuuya bêbado no meio de uma noite chuvosa.