O Nascimento de Um Novo Dia

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O Nascimento de Um Novo Dia
 


Na encantadora noite na Cidade de Ferro, na Rua Baltasar de Jorge Augusto, no prédio popularmente conhecido como “Prédio do Hotel”, devido aos seus andares com empresas que oferecem os mesmos serviços prestados em hotéis como restaurante, spa, piscina entre outros. No oitavo andar há um restaurante chamado “Comida dos velhos tempos”, hoje é um dia de bastante movimento, todas as mesas reservadas e quase todas ocupadas, um entra e sai da cozinha constante e a música presente no salão se misturando com as diversas vozes que ecoam pela noite e enfeitam o fundo sonoro. Um som alto e estridente penetre no ambiente, um cliente frente ao metrion do restaurante tocara o pequeno sino para chamar a atenção do mesmo
 
– Boa noite senhor! – Um sorriso convidativo e uma expressão agradável enfeita o rosto do homem de 1,67, entre os 30 e 35 anos, cabelos curtos e pretos e com olhos castanhos claro – Seja Bem-vindo ao Restaurante Comida dos Velhos Tempos, o lugar para os viajantes de todos os eventos, funcionando desde 1889, eu sou Carlos, o concierge do restaurante, o senhor fez reserva?
 
– Boa noite Carlos, minha reserva está no nome de Constantino – Um jovem, entre os 25 e 30 anos, de cabelos médios, na cor castanho claro, levemente bagunçados, com olhos na cor marrom-claro e com um olhar afiado fitou o homem enquanto ele procurava o nome que fora-lhe dado – Constantino Verumortem! – Um sorriso sagas tomou conta de seu rosto
 
– Aqui está! – Um tom calmo e amigável está nas palavras – Por favor, queira me acompanhar – Ele pegou um cardápio e seguiu em direção ao salão principal, o jovem foi logo atrás
 
Eles passaram por diversas mesas, algumas cheias de pessoas, outras apenas com 1 ou 2 e algumas sem nenhuma pessoa, apenas esperando as reservas serem devidamente cumpridas. Sem muita demora, o concierge mostrou a mesa ao jovem, sua mesa fica próxima a janela, o que proporciona uma vista noturna incrível da maravilhosa Cidade de Ferro. O jovem sentou-se á mesa de forma calma e delicada
 
– Por favor Carlos – Ele o chamo antes que se retirasse – Peça para me trazer uma jarra com água e 2 copos, por favor
 
– Como o senhor desejar, apenas um momento – Ele entregou o cardápio e saiu em direção a cozinha
 
Durante o tempo em que espera seu pedido, o jovem começou a prestar mais atenção aos detalhes de seu entorno, a toalha da mesa que fora colocada em perfeita simetria, as flores de verdade que enfeitam o centro das mesas, os trajes dos demais clientes e funcionários, algumas mulheres com vestidos longos, outras com um decote, alguns com calças e blusas, o jovem achou todas as peças de muito bom gosto. Dos funcionários, uma calça preta lisa com sapatos finos, uma camisa de botões e aventais, passando com os pedidos das demais pessoas do salão, sempre com um sorriso simpático no rosto, eles estão fazendo de tudo para agradar os clientes. Após observar isso, ele passou a notar a decoração do lugar, uma iluminação baixa para criar um clima de conforto e ternura, cores claras e sem tantos contrastes, sem poupar na utilização do natural, branco, rosa claro e, em alguns lugares, azul-claro, a música de fundo é ao vivo, um jazz melódico e suave que, aliado a decoração, se torna imbatível no objetivo de criar um ambiente agradável. Após alguns poucos minutos, um garçom chega com o pedido inicial do jovem, uma jarra com água e cubos de gelo e uma taça de vidro também com alguns cubos de gelo
 
– O senhor já decidiu o que vai querer?
 
– Não, ainda não, eu estou esperando uma pessoa chegar – O jovem deixou os olhos correrem soltos pelo cardápio observando de forma rápida os pratos oferecidos pelo lugar – Por hora, isso é tudo, pode ir – Ele sorriu em direção ao garçom
 
– Tudo bem senhor, para qualquer coisa, basta me chamar – Ele se retirou de perto da mesa indo na direção oposta para atender outros clientes
 
“Me pergunto quanto tempo mais ele vai demorar, espero que não muito, é ruim ficar esperando uma pessoa” – Seus olhos vislumbraram a magnífica visão da cidade noturna, o brilho dos prédios mais baixos enfeitam a paisagem como se fossem estrelas no céu, tal semelhança o fez olhar para cima – “Como o céu de noite é lindo, sua complexidade simples é capaz de deixar qualquer um maravilhado com sua beleza resplandecente, em momento assim eu entendo o desejo humano de estudar o céu, seus corpos celestes, as maravilhas do espaço e desvendar os segredos do cosmos “ – Seu pensamento fora votado para a mesa da frente,onde há duas pessoas sentadas, dois homens, que estão muito bem vestidos, concentrado na cena que vê, ele começa a escutar a conversa
 
– Estes realmente é um lugar lindo para se comer – Um dos homens, com cabelos pretos, entre os 25 e 30 anos começou a falar – Permita-me saber com descobriu tal local?
 
– Bem – O outro homem, com cabelos castanhos claro, que também aparenta estar entre os 25 e 30 anos começou a gesticular – Foi através de um cliente meu, durante a reunião da empresa ele nos recomendou este lugar, eu vim aqui algumas vezes antes de te trazer, apenas para ter certeza de que seria um ambiente adequado para você – Um olhar atencioso fita o companheiro – Você sabe que não são todos os estabelecimentos que fornecem uma experiência agradável aos seus clientes, bem, ao menos em sua maioria – Ele olhou as demais pessoas ao seu redor – Você consegue ver como todos aqui estão satisfeitos com o serviço que está sendo prestado a nós?
 
– Nisso você tem razão – Risos foram ouvidos
 
– Qual o motivo da risada? Foi algo que eu disse?
 
– Não, não, está mais para algo que você não disse – Ele se recompôs – É que é difícil pensar em algo que você não tenha razão, uma pessoa tão cuidadosa como você pensa muito antes de falar sobre qualquer coisa, você pondera muito antes de fornecer qualquer informação, isso faz com que você seja uma pessoa extremamente eficiente em qualquer empresa – Seus olhos fitaram a taça com água – Sua opinião e palavras são transparentes como a água, já que mesmo olhando de todos os ângulos, elas continuam transparentes e, de certa forma, irrefutáveis – Seu olhar sério se fixou na taça por alguns segundos
 
Enquanto o jovem presta atenção nos jantares alheios, o sino que fica no balcão do concierge penetra o ambiente com seu som estridente chamando a atenção do mesmo novamente
 
– Boa noite senhor! – Com seu sorriso simpático ele recebe mais um cliente – Seja Bem-vindo ao Restaurante Comida dos Velhos Tempos, o lugar para os viajantes de todos os eventos, funcionando desde 1889, eu sou Carlos, o concierge do restaurante, o senhor fez reserva? – Ele pegou o tablete pronto para verificar o nome do cliente
 
– Boa noite, eu me chamo Constantino – Um homem forte e alto com cabelos lisos e um pouco grande de cor marrom escuro, usando um terno preto, que passa a sensação de ser muito antigo, mas ao mesmo tempo ser da última coleção, sapatos engraxados, uma gravata vermelha sangue que quase hipnotiza todos que olham-na – Constantino Verumortem e há uma reserva em meu nome
 
– Claro, senhor, já há alguém em sua mesa, creio que seja sua companhia – Ele sorriu – Por favor, queira me acompanhar – Calmo e alegre ele saiu em direção a mesa onde o jovem está sentado
 
Durante o curto trajeto, uma sensação de familiaridade invadiu o coração de Constantino, como se houvesse alguém, ali dentro do ambiente, que ele já conhecesse muito bem, como um velho amigo, porém ele não expressou tal sentimento, pois junto dele também veio um sentimento de leve perigo. Por conta desta sensação, ele chegou a mesa perto da janela sem perceber
 
– Constantino – O jovem sentando à mesa o chamou, mas não houve resposta – Constantino! Constantino! Ei! – Ele bateu levemente no braço do mesmo que rapidamente respondeu ao chamado
 
– Perdão – Seus olhos miraram o jovem – É que algo me fez pensar longe de mais daqui – Ele puxou a cadeira e se sentou enfrente ao jovem – Bem – Ele olhou o relógio em seu pulso – Creio que não estou atrasado, mas sim você adiantado
 
– Está certo, você sabe que eu gosto de cumprir com meus compromissos na hora em que foram marcados, por isso prefiro chegar um pouco mais cedo para evitar atrasos de percurso – Ele estendeu a mão que segura o cardápio – Eu já escolhi o que vou comer, estava apenas esperando-lhe para pedir
 
– Não é necessário cardápio – Ele pegou o menu e devolveu a mesa – Você sabe que sempre que nós encontramos aqui eu peço a mesma coisa – Ele levantou a mão para chamar o garçom que, sem demora, logo apareceu
 
– Os senhores já decidiram o que vão querer?
 
– Sim – Constantino respondeu sem dar muita importância – Eu quero carne de sol com arroz branco, feijão macarrão e farinha – Ele pegou a jarra e derramou um pouco de água na taça, após isso pegou-a
 
– E eu vou querer bife com arroz branco, macarrão, farinha e feijão, somente – Ele olhou para o garçom, um jovem branco com cabelos um pouco grande e com tons leves de loiro – E para beber, nós queremos o vinho mais velho que houver em sua adega
 
– Como os senhores quiserem – Ele anotou em deu bloco de notas e saiu em direção a cozinha
 
Enquanto no salão principal as coisas estão, de certa forma quietas, na cozinha as coisas estão agitadas, como em todas as cozinhas, o entra e sai dos garçons, o barulho das panelas, o chefe e sua equipe preparando cada pedido com maestria, um dos homens que está cuidado das panelas se vira para o colega
 
– Marcos – Ele toca no ombro do companheiro que o olha – Eu vou tirar meus 15 minutos de descanso agora, você pode fica de olho nas panelas até eu voltar?
 
– Pode deixar Will – Ele pega na colher e começa e mexer no conteúdo das panelas – Só vê se não demora muito
 
– Pode deixar, talvez eu volte antes dos 15 minutos – Ele saiu em direção a uma porta que fica do outro lado da sala
 
– Ei! – Um dos garçons segurou seu braço – Vai ao terraço de novo? – um jovem branco com cabelos um pouco grande e com tons leves de loiro o olhou
 
– É, você sabe como é, lá é o meu lugar favorito deste prédio
 
– Só toma cuidado pra não escorregar e…
 
– Não precisa me dizer o óbvio, eu não tenho 5 anos, na verdade faz bastante tempo desde que eu tinha essa idade
 
– É eu sei que você não tem mais 5 anos, é só que hoje eu estou sentindo que tem algo diferente – Seu olhar apreensivo prendeu Will
 
– Entendo, não se preocupe, eu só vou dar uma respirada e volto – Seu sorriso transmitiu confiança ao colega
 
– Bem, se você diz, só me resta acreditar – Ele solta o braço do amigo
 
– Anastácia! – Um homem com pratos feitos grita na direção dos dois – Pedido da mesa 14 aqui!
 
– Bem, enquanto você vai dar uma respirada, eu vou servir as mesas – Ele se vira e vai em direção ao homem – Mas vê se não demora, hoje estamos com a casa cheia!
 
– Não vou – Ele observou o amigo passando pela porta que dá acessoa ao salão principal, quando a porta se fechou ele seguiu seu caminho
 
Subindo uma escada quase interminável ele observa os demais 4 andares restantes até o terraço, imerso em seus pensamentos, quase que sem perceber ele chegou a porta que dá acesso ao terraço, uma porta de metal com um suporte para que ela se feche sem que precise uma pessoa para fazê-lo. Ao abrir a porta, o vento gélido da noite tocou o rosto de Will, a sensação o fez relembrar de tempos e lugares mais frios por onde já passou ao longo de sua vida, sem demora, ele caminhou de forma lenta até a ponta do terraço, se apoiou no batente frio de concreto e olhou para o seu entorno, vislumbrou prédios, casas, ruas e algumas árvores, mas o que mais chamou-lhe a atenção foram as luzes acesas no horizonte tem seu charme encantador, este brilho artificial espalhando pela terra até onde o horizonte permite vê, é comparável a observar o céu no mais absoluto escuro, permitindo a visão extraordinária das estrelas. Pensando nisso, ele volta sua cabeça aos céus, observa a imensidão da escuridão da noite que contrasta com o brilho majestoso da lua cheia, enche seus pulmões de ar e com rapidez e agilidade, ele sobre no batente do terraço, ficando apenas a um passo de cair deste lugar, um forte vento bate em seu corpo, fazendo as peças mais longas de sua roupa flutuarem sobre o ar por alguns instantes, porém logo o vento para de soprar e um silêncio se instaura ao seu redor
 
– Eu sei que você está ai, não precisa se esconder – Mantendo seu olhar fixo no horizonte, sua voz ecoa por todo terraço
 
– Mestre – De um canto escuro uma voz baixa e levemente falha responde ao pedido de Will – Eu tenho informações para entregar-lhe – Um homem magro de cabelos longos e liso na cor marrom claro emerge das sombras e caminha em direção ao batente de concreto
 
– Pare! – Com uma voz e uma ordem imponente ele faz com que o homem para de caminhar, quase enfrente a uma grande sombra feita por uma pequena casa que guarda algumas ferramentas – Não se aproxime mais
 
– Há algo de errado meu mestre?
 
– Não – Ele vira sua cabeça o suficiente para que possa olhar para homem que está parado com um olhar apreensivo – Apenas conte o que feio me informar – Sua cabeça volta a olhar para frente fitando o horizonte
 
– Eu fiz o que o senhor me pediu, fiquei de olho em nosso pequeno projeto, até agora nenhum dos 3 mostrou mudanças significativas, mas pela quantidade de – Seu olhar se tornou mais cuidado de afiado – “Combustível” que eles receberam eu tenho certeza de que não deve demorar muito para que os resultados comessem a aparecer
 
– Eles não suspeitam de absolutamente nada, não é? – Seu olhar firme continua a observar o horizonte
 
– De forma alguma meu senhor, para eles a vida continua normal como sempre esteve – Ele toca em seus bigodes bem cuidados enquanto fala – Tenho certeza de que logo as coisas estarão de acordo com seus planos mestre
 
– Sim, isso de fato é verdade, quando os resultados começarem a aparecer, não vai demorar muito até que aquele homem – Um frio percorreu por toda sua espinha, assim o fazendo para por alguns instantes
– Mestre? O senhor está…
 
– Não se preocupe, e estou bem – Agora a sensação de que estão sendo observados invade seu ser – Se as coisas continuarem como estão, tudo ficará de acordo com meu plano e não vai demorar muito para aquele homem encontrá-los – Ele puxou um pequeno relógio antigo de seu bolso, ele é feito de ouro, provavelmente feito entre as décadas de 1920, 1930, os ponteiros estão alinhados com a hora atual – Agora é questão de tempo para que tudo esteja alinhado, os dados foram lançados e a sorte será dada e, em breve, essa rodada será decidida
 
– Permita-me saber mestre – Seus olhos encaram as costas de Will – Há algo incomodando-lhe?
 
– De forma alguma, agora diga-me – O vento soprou forte mais uma vez – Ainda existe alguma coisa que da qual eu tenha que saber?
 
– Por hora meu mestre, isso é tudo o que eu tenho para informar
 
– Se eu estiver certo, logo eles estarão aqui – Ele se virou ainda encima do batente – Por enquanto, continue de olho no nosso projeto e nada mais!
 
– Como o senhor desejar meu mestre! – Ele se curvou por alguns segundos, depois se virou e caminhou em direção a sombra da qual veio
 
Com a partida do homem, Will está sozinho novamente, ao menos é o que ele deseja, embora saiba que não poderá aproveitar o resto do seu descanso
 
– Diga-me, por quanto tempo você pretende se esconder nas sombras? – Ele olhou para a grande sombra feita pela pequena casa onde se guardam algumas ferramentas – Fingir que não estão aí não é a melhor coisa a se fazer, eu sei que estão ai, eu sei disso desde o décimo andar, vocês acharam mesmo que poderia se ocultar de mim? Não sei se é estupidez ou apenas arrogância da parte de vocês, mas tenho certeza de que sabiam que este momento chegaria – Seu olhar se tornou esmagador perante a enorme sombra
 
– Não esperava menos de alguém com você – Um jovem saiu das sombras, seu cabelo é longo e preto ele usa uma calça comprida e uma blusa de mangas longas, no pescoço ele usa um grande cachecol laranja, seus olhos são escuros como a imensidão da noite – Mas não esperava que fosse um traidor – Ele olhou diretamente para os olhos dourados de Will
 
– Eu me pergunto o que um verme com você tem na abeça para me acusar de traição – Ele começou a analisar a figura em sua frente
 
– Eu sinto muito, mas eu apenas sigo ordens
 
– Então diga-me, a quem você serve?
 
– Isso não é relevante no momento, tudo que você precisa saber é que – Em um piscar de olhos, o ser desapareceu da frente de Will – Eu estou aqui para matá-lo – A voz da criatura vem de trás de Will, que instantaneamente sentiu o que ia acontecer
 
De forma surpreendente, a criatura está flutuando atrás de Will e em um golpe certeiro, ela o puxa para atrás, o levando a cair do prédio, o tempo parece está congelado para Will, como se sua vida estivesse passando diante de seus olhos. A queda livre continua com a criatura agarrada a Will, ela tenta de todas as formas quebrar seu pescoço, mas até agora todas elas foram falhas
 
Em um instante, Will parece finalmente estar de volta a realidade, ele toma ciência de que está caindo em alta velocidade e que há alguém segurando-se nele e, este, tenta quebrar seu pescoço. Ao mover sua cabeça para olhar quem está o segurando, com isso o jovem percebe que algo está prestes a acontecer, com um movimento rápido, Will encrava com extrema força os dedos no pescoço do jovem que, agora ficou surpreso, usando sua força massiva, Will consegue puxar o jovem para longe de si, fazendo-o soltar de seu corpo com facilidade, os olhos dos dois se cruzaram e foi como se o tempo tivesse parado de novo. De um lado, a expressão de desespero e medo nos olhos escuros e assustados do jovem, do outro a frieza e calma nos dourados olhos firmes de Will, um movimento foi feito por ele e assim arremessou o jovem para cima, assim afastando-o ainda mais de si
 
Sem pensar duas vezes, Will se virou e mergulhou sem medo em sua queda livre, fazendo assim sua velocidade aumentar devido a sua postura, cada segundo ele ficava mais rápido e mais próximo de atingir o chão com força total, de absoluto ele morreria por conta do impacto, mas parece que ele não está nem um pouco preocupado com este fato, ele parece mais interessado em ganhar velocidade, mesmo que isso, de forma aparente, leve-o para uma morte horrível
 
Por outro lado, o jovem que foi jogado para cima, começa a para de subir e logo começará cair novamente, seu estado mental é de atordoamento, talvez devido a suas feridas no pescoço, que, de alguma forma, estão menores do que antes, e com o passar dos segundos elas diminuem mais e mais e com isto ele começa a recobrar os sentidos. Ao notar que o Will está cada vez mais de si, o jovem tenta, sem sucesso devido seu estado de atordoamento, começar a cair novamente, embora ele não tenha que fazer muita coisa além de esperar um pouco, já que a gravidade vai se encarregar disto por ele. Enfim o rapaz parou de subir e por alguns instantes, ele flutua no ar, no ápice de sua subida, porém este momento não dura mais que meio segundo e ele logo volta a descer
 
Devido a sua alta velocidade, Will passará pelos andares sem ser notado, aparecendo apenas como uma visagem na visão periférica das pessoas que estão próximas as janelas. Enfim ele passa pelo 8 andar, o lugar aonde ele trabalha, ao passar próximo a janela, ele rapidamente olha para uma mesa com duas pessoas, um jovem de cabelos grandes em tons de castanho claro e olhos da mesma cor, sentado afrente do jovem, um homem mais velhos, de cabelos e olhos pretos como a própria escuridão, ali, o tempo congelou, Will se mantêm firme e sem desviar o olhar dos dois, quase como se esperasse eles olharem de volta, de fora era perceptível que Will percebeu algo nos dois, porém estes pequenos segundos não duraram muito e logo Will continuou a cair
 
– Você acha mesmo que vai conseguir escapar de mim? – De forma impressionante, ele está apenas a poucos metros de distância do homem de olhos amarelos – Eu fui contemplado com altas quantidades de sangue, consigo plenamente me igualar a um vampiro como você!
 
– Sua arrogância não deixará você sair deste lugar – Ele se virou revelando só jovem um brilho intenso em seus olhos – E nem mesmo permitirá que saia – O escuro da noite começara a cobrir o corpo de Will, como um manto, a noite escondia gradativamente o seu corpo – Com vida!
 
Uma expressão de medo e pavor tomou conta da face do jovem, ele rapidamente percebeu o que o brilho intenso significava, ele sabia que mesmo tendo tanto poder, ao seria capaz de lutar contra aquilo, o poder especial de um vampiro é suficiente para derrotar até mesmo outro vampiro. No mesmo instante, ele parou no ar, fora como se sua gravidade tivesse chegado a zero e da mesma forma abrupta que ele parou no ar, repentinamente ele começara a ascender aos céus, de forma veloz ele se distanciou de seu alvo, que agora está quase totalmente envolvido pela escuridão noturna
 
“Mas que merda! Merda, merda, merda, merda, merda!” – Sua velocidade aumentou – “Eu tenho que ficar o mais longe que eu conseguir, caso contrário ele vai me matar!” – Ele esta quase chegando ao terraço
 
Neste momento, Will está apenas com seu rosto descoberto pelas sombras, seus olhos amarelos são facilmente vistos, já que por estarem brilhando são como faróis na eterna e esmagadora escuridão da noite no alto-mar. Enfim, o último indício da existência de Will finalmente se foi, seus olhos foram envolvidos pela noite e então, já no 2 andar, ele desapareceu
 
O jovem que antes perseguia e agora teme ser perseguido e esmagado, ultrapassou o terraço e está cerca de 2 metros acima dele, quando de repente, uma mão surge bem enfrente ao seu rosto que mirava o infinito céu, pois seu medo era tamanho que ele estava fugindo sem quaisquer possibilidades de olhara para trás. Seu sangue gelou e foi como se seu coração tivesse parado de bater no momento em que percebeu do que se tratava, aquela é a mão de Will, que aparecera em sua frente, seus olhos vão de encontro com os do jovem, que expressa um medo imensurável ao saber que não pode fazer absolutamente nada para mudar seu futuro fatal
 
– Você tem, de fato, um poder esmagador, porém – Ele se aproximou mais do jovem e começou a falar próximo a seu ouvido – Contra um de verdade, você não é nada! Você achou que podia competir contra mim, esse não foi seu erro, foi apenas uma consequência, seu erro foi ter um dia pensado que podia mesmo se igualar a um de nós, este foi seu único e maior erro em toda a sua miserável existência – A calma em seu rosto e a gentileza de suas palavras não confortam o jovem, apenas deixam ele mais aterrorizado – É mesmo uma infelicidade que um como você tenha que morrer hoje, mas admito que você foi o mais corajoso que eu pude conhecer, ainda mais levanto em conta que você tentou me enfrentar, mesmo sabendo que morreria sem poder fazer nada – Ele olhou para o rosto do seu perseguidor – Por isso, me diga seu nome para que eu possa guardá-lo para toda a eternidade
 
– Arthur! Meu nome, é Arthur
 
– Foi um prazer enorme conhecer um ser tão corajoso quanto você, Arthur – Sua face se contorceu em desagrado – Agora é hora de fazer valer o fato de eu saber seu nome para lembrar dele para sempre – Sua face ficou tão séria que se tornou assustadora até para aquele com estômago forte – Adeus – Sua voz se tornou grave com a de um demônio – Arthur, O Corajoso!
 
Sua mão esquerda está bem encima do rosto de Arthur, dentro de instantes, Will já havia encostado no rosto do jovem e a cada instante que se passa mais e mais pressão fora sendo colocada contra o rosto do garoto, de forma rápida, a mão de Will começou a afundar no crânio de Arthur e continuou descendo pelo seu corpo, rasgando-o o no processo. Com apenas força, ele rasgou no meio o corpo de Arthur que agora também começara a se dividir em 4 partes, 2 superiores e 2 inferiores, isto devido a uma estranha e incomum força de atração, depois de alguns segundos a força de atração fora tanta que os pedaços do corpo de Arthur começaram a colapsar dentro de si mesmo, até em um ponto onde deixou de existir
 
– Buraco Negro! – Os olhos de Will estão mais brilhantes do que nunca, seus cabelos começaram a flutuar e ganharam alguns leves tons amarelados
 
Em um segundo ele estava no suspenso no ar, cerca de 2,5 metros acima do chão e no segundo seguinte, ele foi envolvido pela escuridão da noite e apareceu no batente do terraço, tendo a própria noite como um sobretudo. Seus olhos fitam a imensa paisagem da cidade, mesmo que ele já tivesse dado uma boa olhada nesta vista, ele nunca se casaria de olhar mais uma vez. Enquanto ponderava sobre o último acontecimento, com sua audição impecável, ele ouvira alguém se aproximando da porta que dá acesso ao terraço, quando ele se virou para trás com o intuito de verificar o que estava a reproduzir tal som, o silêncio é cortado pelo barulho da porta de ferro sendo aberta bruscamente, do outro lado está um homem vestido de garçom, ofegante e se apoiando sobre os joelhos, Will rapidamente deixou o vento levar seu sobretudo feito da noite e desceu do batente
 
– Anastácia?! – Seu olhar confuso foi em direção do garçom
 
– Eu, apenas, um – Ergueu seu braço indicando que precisava de alguns instantes para se recompor. Assim fora feito, alguns minutos se passaram e logo ele havia recuperado sua postura – Desculpa, mas é que eu tive uma sensação estranha a seu respeito – Seu olhar apreensivo se cruzou com o olhar curioso do colega – Então decidir vir aqui atrás de você
 
– Uma “sensação estranha” ao meu respeito? – Ele mexeu sua cabeça – Como assim?
 
– Bem – Seus olhos cortaram o contato visual com o colega e se desviaram para a imensidão da gélida noite – A alguns minutos atrás, eu estava servindo as mesas no salão e eu tive a leve impressão de ter visto você – Ele parou por um momento
 
– Eu o que? Vamos fala logo
 
– Vai parecer meio idiota, já que você claramente está aqui e não lá embaixo
 
– Fala logo Anastácia!
 
– Ok, ok – Ele coçou a cabeça enquanto soutou um suspiro – Bem, eu tive a estranha e leve impressão de ter visto você caindo do lado de fora do prédio
 
– O que?!
 
– É, bem, foi só por um momento, mas quando eu olhei, você parecia está ali, olhando para mim, foi tão rápido que eu não tive tempo de dizer se real ou não, por isso, assim que eu vi isso, eu voltei para a cozinha e disse que precisava usar urgentemente o banheiro e então eu vim correndo para cá – Ele explicou toda a situação de forma articulada e com diversos gestos
 
“Ainda bem que você só chegou agora, mais um pouco e você teria presenciando algo não muito legal” – Um suspiro de alívio – Bem, deve ter sido apenas uma alucinação devido a noites em claro
 
– Talvez você tenha razão – Ele procurou um lugar para se sentar e logo encontrou, uma caixa de madeira velha que estava ali a muito tempo, logo ele se sentou – Não tenho dormindo muito bem essas últimas noites – Tirou a gravata borboleta de sua roupa e a colocou encima da caixa ao lado – Quase como se eu estivesse sofrendo de insônia – Seus olhos se cruzaram com os de Will
 
– Você devia ir ao médico – Um olhar apreensivo fitou o rosto do companheiro
 
– É eu sei, mas eu ainda não tive tempo, você sabe…
 
– Olha – Sutilmente ele caminhou até ele e colocou a mão em seus ombros – Se você estiver com problemas de novo… – Seus olhos se cruzaram, de um lado, a apreensão e angustia do outro, a vergonha e a frustração
 
– Eu tô bem o Do Medo, pode ficar tranquilo – Ele sorriu e segurou a mão de Will – Tá tudo bem mesmo
 
– Você tem certeza?
 
– Escuta aqui – Rapidamente se levantou ficando próximo ao rosto dos olhos de ouro – Você só tem que confiar em mim – Um suspiro confiante fora solto
 
– Ok, mas – Sua mão tocara gentilmente o rosto de Anastácia – Você sabe que pode contar comigo para absolutamente – Com pouca força ele apertou as bochechas do jovem – Absolutamente! – Ele olhou no fundo dos olhos do garçom – Tudo que você precisar, fofinho!
 
– Tá! Tá! – Retirou a mão do cozinheiro de seu rosto – Eu vou voltar agora, acho que o pessoal já deve estar começando a sentir minha falta
 
– Realmente, você não devia se preocupar tanto só por causa de uma “visão” – O sarcasmo apareceu em sua face – Como você pode observar, eu estou aqui, perfeitamente inteiro e bem
 
– Eu já entendi! Agora eu vou indo, você me acompanha?
 
– Não, não, eles vão ficar meio – Uma pausa surgiu, sua face indica que está procurando uma palavra específica – “Entusiasmados” de mais se virem a gente chegando junto
 
– Você e suas “visões do futuro” – Começou a caminhar em direção a porta que leva ao interior do prédio – Depois fica falando de mim
 
– Hum – Sua cabeça virou em direção a sombra feita pela casa de ferramentas – Bem, eu te encontro em alguns instantes
 
– Só não vai demorar muito – Ele abriu a porta – Te vejo em segundos – Ele entrou e a porta se fechou
 
Novamente, o silêncio tomou conta do lugar, não havia nem mesmo uma brisa noturna para quebrá-lo desta vez. Will continuou firme olhando para a sombra, sem nem sequer piscar uma única vez, depois de instantes, ele apertou seus olhos e serrou os punhos, um clima tenso se instaurou no lugar
 
– Vocês tem bastante coragem para continuara aqui depois de presenciar tal ato – Continuou encarando firmemente a sombra – Pois que assim seja feito!
 
Ele correu em direção a sombra e quando chegou próximo dela, pulou como se estivesse prestes a cair em algum lugar que não fosse o chão, rapidamente ele adentrou das sombras, mas não foi como se ele ainda estivesse no terraço, ali, dentro das sombras é um mundo, uma dimensão sombria, cuja a entrada fora a sombra proporcionada pela casa de ferramentas. Lá, Will se deparou com 5 criaturas, completamente monstruosas, o som da respiração pode ser ouvido de longe, grunhidos e o rosnado de bestas ecoa pelo local. Cada um dos monstros com uma aparência vinda diretamente dos piores pesadelos da humanidade, um com dentes grandes e afiados, a parte superior de sua cabeça, acima de sua boca, não existe, aparenta ter sido cortada, seus braços são completamente cobertos de cabeças humanas, de sua cintura até seu pescoço, são milhares de corações humanos pulsando, suas pernas são feitas de braços, mãos e olhos humanos. Outro com duas cabeças acima do pescoço, a esquerda tem milhares de olhos e nenhuma boca, quanto a segunda e repleta de bocas, mas nenhum olho, nenhuma das duas tem nariz ou ouvidos, seu tórax e abdômen é feito de diversos órgãos humanos, fígados, rins, corações, intestinos grossos e delgados, sua perma é coberta de buracos, buracos dos quais saem um líquido preto de aroma pútrido. A terceira criatura tem boa parte de seu cérebro exposto, não há olhos e seu rosto, apenas dois buracos da onde escorre sangue, não tem boca, os braços tem diversas feridas, delas saem o mesmo líquido preto de cheiro pobre, no lugar de mãos, estão garras extremamente afiadas, elas são feitas de ossos seu tórax está todo aberto, ele não possui órgãos específicos, apenas uma massa de aparência gelatinosa, parte dessa massa escorre para fora do corpo e cai no chão. A quarta criatura possui uma mandíbula aberta totalmente, não há tecido que limite até onde ela se abre, no seu torço, há um cortem em diagonal, da esquerda para direita, dele saem diversas mãos apodrecidas, no lugar dos braços, há dois intestinos delgados que encostam no chão e derramam sangue, em suas pernas existem diversos espinhos e ele tem garras ao invés de pés. A quinta e última criatura tem todos o seu corpo cobertos por correntes que estão encravadas em sua carne
 
– Você pode até ser mais forte que todos nós juntos – A criatura com a boca com dentes enormes começou a andar na direção do cozinheiro – Mas sei que você não consegue matar todos nós de uma só vez – De forma rápida ele pulou em direção a Will
 
Com seus dentes monstruosos, a besta prontamente tentou arrancar um pedaço da cabeça de Will com sua mordida, mas com velocidade, ele desviou da besta e antes que ela pudesse fazer o próximo movimento, ele jogou-a para longe de si. Voltando sua cabeça as demais criaturas ali, das 4, 3 se veem em sua direção, a com correntes pelo corpo, a que possui 2 cabeças e a com mãos apodrecidas saindo de sua ferida, a criatura com garras no lugar das mãos está ganhando distância
 
– Vocês não sairão daqui vivos! – Seus olhos ganharam um brilho, ficando iguais a um farol, seu cabelo começou a flutuar levemente – Vocês, antes de tudo – Ergueu sua mão o mais alto que pode e abaixou-a com força, assim fazendo todas as 5 criaturas ficarem imóveis no chão – Devem se lembrar que na Dimensão das Sombras também existe gravidade!
 
Os seres passaram a se debater na tentativa de escapar daquela pressão esmagadora exercida sobre seus corpos, porém não tiveram sucesso, Will continuava com sua mão baixa, uma expressão de ódio profundo tomou conta de seu rosto
 
– Vocês tem duas escolhas! – Ele abaixou ainda mais sua mão, o que fez com que as criaturas se contorcessem ainda mais – Primeira! Vocês me dizem a qual dos 20 vocês servem e eu mato vocês! – Ele abaixou mais um pouco sua mão, a pressão sobre os corpos é tanta que se fosse em um chão de concreto, o mesmo já começaria a quebrar – Segunda! Vocês não me contam a qual dos 20 vocês servem e eu mato vocês da mesma forma!
 
– Você – O ser antes monstruoso, agora começara a assumir uma forma mais humana – Não, ganhar, nada, se, nos, matar – Logo as demais criaturas assumiram formas humanas – Não, pode, nos, matar, se, fizer, isso, você, não, terá…
 
– Você acha – Will ergueu sua outra mão e o ser que estava falando flutuou sobre o ar e foi trazido para perto de si – Que eu não sou capaz de descobrir a quem vocês servem?! – Sua fúria se torna cada vez mais implacável, ele cerrou o punho levantado e o corpo da criatura foi quase esmagado por completo, a outra mão ele abaixou de vez, os demais seres estão com seus corpos quase completamente achatados – Vocês são seres completamente inferiores a mim, vocês são apenas ratos de laboratório! – Alguns segundos se passaram e o som de dor e dos corpos se contorcendo é a única coisa que ecoa pelo local, de forma repentina, Will assumiu uma aparência calma e séria – Mas, talvez eu possa oferecer algo – Ele abriu um pouco sua mão e a outra ele levantou levemente – Aquele que me disse a quem vocês servem, eu deixarei viver – Um sorriso completamente desconfortável surgiu em seu rosto – Não parece ser uma oferta tentadora?
 
– Você acha mesmo que algum de nós cairá nesse seu truque? – Um dos seres presos ao chão falou – Você não nos deixaria ir com tanta facilidade assim, você não está…
 
– Silêncio! Sua forma de vida inferior! Diferente de vocês, nós temos honra e por isso honramos nossas palavras – Caminhou lentamente até chegar ao ser – Se eu disse que deixarei aquele que me disser o que eu quero saber, livre, é porque eu – Ergueu sua perna e com força pisou encima da cabeça do ser – FAREI!
 
O som do golpe fatal se sobrepôs aos demais sons, se estendendo até onde se podia imaginar dentro desta dimensão sombria. O sangue esguichou alto, sujando levemente o rosto de Will, sem muita pressa, ele chutou para longe a cabeça do corpo sem vida
 
– Mais alguém ainda duvida de mim? – Os demais apenas ficaram paralisados pelo medo, sem dizer nem uma palavra o único som no local é a quase inexistente respiração de Will – Isso é ótimo, agora vamos resolver isto de forma rápida, não tenho intenção de perder meu precioso tempo – Ao fazer um gesto com a mão, uma cadeira saiu do chão e nela Will se sentou – Agora, me digam – Ele apertou mais sua mão fazendo os seres se contorcerem – QUEM É SEU MESTRE?! – Os olhos de Will brilharam como faróis no meio da mais densa neblina da noite mais escura, sua voz monstruosa compltamente distorcida fez com que seus convidados indesejados sentissem arrepios até a parte mais profunda de seus corpos
 
Will continuou com a mão fechada por mais alguns segundos, após olhar bem no fundo dos olhos de cada um, ele abriu sua mão,deixando os seres livres novamente, mais alguns segundos se passaram, Will os esperou pacientemente até que seus fôlegos estivessem recuperados. Em um movimento preciso, ele puxou um dos seres para perto de si
 
– Falar ou Morrer? – não houve nenhuma resposta, o ser apenas desviou seu olhos para o chão – Então é morrer
 
Com toda sua força, ele apertou sua mão e no mesmo instante o corpo da criatura começou a ser comprimido, seus braços foram prensados contra seu corpo assim como suas pernas e cabeça, o som de ossos se quebrando indica que seu corpo continuará a ser comprimido até o limite, não demorou muito para jatos de sangue surgirem devido a compressão, por fim a criatura havia ficado do tamanho de uma bola de gude, porém Will não abriu sua mão, segundos depois o que seria a “bola de gude” simplesmente deixou de existir
 
– Bem, próximo! – Ele puxou mais um dos seres para perto de si – Falar ou – Os olhos do ser se fixaram aos olhos de Will – Morrer?
 
– Eu … não…
 
– Então é morrer! – Novamente ele fechou seu punho e o corpo do ser começou a ser comprimido, porém entre o som de ossos quebrando, um som diferente foi ouvido
 
– Tudo bem, eu falo!
 
– Que coisa excepcional! Vamos! Diga! – Abriu sua mão e ficou a milímetros do rosto do ser
 
– Não faça isso! – Um dos seres soltos se levantou
 
– Eu não vou deixar! – O outro começou a correr em direção a Will
 
– Não – Will os olhou profundamente, ergueu sua mão fechada e a abriu com velocidade, o ser que estava correndo parou e junto com o que está de pé começou a ficar inchado como balões, eles continuaram inchado até que explodiram e com isso espalharam diversos órgãos e partes de seus corpos por todo o local – Interfiram! – Sua atenção voltou ao ser perto de si – Vamos, diga de uma vez ou morra!
 
– Quem nos mandou foi uma pessoa que se dizia ser um vampiro
 
– Disso eu sei, eu quero um nome! – Ele apertou a mão e o corpo da criatura foi levemente comprimido
 
– Ele não disse seu nome, mas disse que a gente tinha que caçar e matar outro vampiro – Seu corpo se comprimiu mais um pouco – Mas agora, vendo você, esse cara parece só uma imitação barata – A surpresa invadiu o rosto de Will e abriu sua mão
 
– Uma versão inferior de mim? – Ele voltou a encara o ser – Onde você – Ele olhou todo o sangue e as partes humanas ao redor – Onde vocês acharam esse “cara”?
 
– A cerca de 2 dia estávamos fugindo porque a gente tinha acabado de assaltar uma loja, sem querer a gente acabou derrubando ele no chão, a princípio pensamos que não era nada, mas quando eu olhei para trás, parecia que o sol tava queimando ele, eu só continuei correndo, porém naquela noite, no nosso esconderijo, ele apareceu e matou 10 dos nossos, disse que a gente estragou a missão dele e que quase matamos ele
 
– Então ele não é um vampiro, ele é igual a vocês, igual a você sua besta! Continue!
 
– Ele nos fez beber seu sangue e depois disso disse pra gente ficar e olho em você e que era pra atacar quando o homem de maior confiança dele te atacasse
 
– Aquele primeiro ratinho que eu colapsei? Patético! – Seus olhos reviraram – Por acaso tem mais alguma coisa que eu tenha que saber?!
 
– Não, eu juro!
 
- Ótimo! Agora como eu disse, eu – um barulho distante de uma porta sendo aberta chamou sua atenção, seu rosto instintivamente se virou para a direção da sombra da casa de ferramentas, como se estivesse esperando algo – Não tenho tempo!
 
Ele correu em direção a saída e levou a criatura consigo, da forma como entrou nesta outra dimensão, ele saiu, pulou para fora e na saída comprimiu o corpo do ser até ficar do tamanho de uma bola de gude, porém desta vez não desapareceu, ao tocar o chão do terraço ele pode ver com clareza a porta se abrindo
 
– Nossa, quase que eu me esqueço – Anastácia passou pela porta indo direto em direção as caixas de madeira, os olhos de Will correra soltos tentando ver o que fez seu amigo voltar – Aqui! Eu sabia que estava aqui! – Ele pegou sua gravata borboleta e colocou no pescoço novamente, após isso olhou para Will – Então me acompanha? – Estendeu o braço
 
– Bem, eu ainda não terminei o que eu estava…
 
– Will – A confusão tomou conta do rosto do garçom – É impressão minha ou seus olhos estão brilhando? – Ele começou a andar para mais perto
 
– O que?! – Por dentro ele percebeu que devia ser milimetricamente cuidadosa nesta ocasião – Deixe de bobagens, humanos não tem olhos brilhantes Ana, você realmente precisa de umas noites de sono
 
– Bem, eu tenho minhas leves duvidas sobre o fato de você ser um humano mesmo – Ele parou e fixou seus olhos nos de Will
 
– De toda forma meus olhos não estão brilhando, é só– Com velocidade ele voltou sua cabeça para o céu, viu a lua saindo de trás das nuvens – É só o brilho magnífico da lua refletido em meus olhos, nada de mais – Ergueu sua mão usando-a par cobrir a luz – Ta vendo? – Preciso como uma flecha, no mesmo momento fez com que seus olhos parassem de brilhar
 
– Hum – Ele apertou os olhos – Eu estou de olho em você em – Ele olhou para o relógio em seu pulso – Então, me acompanha ou não?
 
– Bem, eu já vou descer
 
– Você está muito estranho hoje
 
– Eu só tenho que terminar de comer – Ele mostrou um hambúrguer – Eu peguei quando sai
 
– Mas eu não vi você pegando hambúrguer coisa nenhuma!
 
– Isso significa que minha tentativa de pegar essa belezinha aqui sem ser notado funcionou!
 
– Ok, mas mesmo assim, tem alguma coisa errada hoje – Ele andou em direção a porta – Enfim, vê se não demora – Ele abriu, passou pela porta e fechou-a – É sério – De forma repentina ele abriu ela – Não demora!
 
Um suspiro de alívio foi solto por Will, sem perder tempo, seus olhos voltaram a brilhar de forma intensa, ele levantou a “bolinha de gude” e encarou ela por alguns instantes, depois a jogou no ar e ela voltou a ser a criatura que, agora de volta ao seu estado normal, caiu no chão
 
– Você – Olhou para suas mãos – Você realmente vai me poupar?
 
– Claro! – Ele se virou – Matar uma pessoa sem que ela tenha nenhuma chance de se defender é muito – Seus olhos fitaram os do ser – Desonroso, por isso eu vou lhe dar esta chance, a chance de me enfrentar em uma luta justa, sem poderes, um corpo a corpo – Ele começou a desabotoar sua camisa – Sabe, para ser mais justo, já que você quer tanto assim viver, eu permito a você que com esta chance, você possa fazer o que quiser, desde me enfrentar até simplesmente tentar fugir de mim, entretanto tem um porém – Ele jogou sua camisa no chão – Você tem que escolher, o primeiro ataque é seu, ou melhor, a primeira ação é sua, me atacar, fugir ou tentar se esconder são ações, quando você as fizer, será a minha vez, concorda com isso?
 
– Eu achi que – Um lágrima escorreu por seu rosto – Você é um monstro! Você disse que me deixaria ir, mas agora me desafia apenas para me ver tentando lutar pela minha vida, você é superior a mim de tantas formas que não da nem para dizer, você é um sádico de merda! – Ele cuspiu nos sapatos de Will
 
– Vamos lá, tente entender o meu lado, mesmo eu sendo quem eu sou, não posso dizer aos demais que apenas deixei você sair andando como se nada tivesse acontecido apenas porque você me disse a verdade, no mínimo você tem que lutar pela sua liberdade
 
– Você é…
 
– Por favor, você não tem escolha, eu poderia ter te matado logo quando você me disse o que eu queria saber, mas não o fiz, agradeça por estar aqui e ter essa chance de lutar pela sua vida, seus amigos – Ele olhou para as sombras – Eles não tiveram a mesma sorte – Um sorriso surgiu em seu rosto
 
– Você – O terror ficou estampado em sua face, é como se ele estivesse vendo o maior de todos os seus pesadelos – Eu não posso! – Em um ato desesperado, ele se levantou e correu em direção a borda do terraço
 
– Então você esta tentando fugir – Seu sorriso ficou ainda mais largo – Eu aceito isso como um sim e também como ação – De repente, os braços de Will começaram a crescer, sua pele começou a mudar, sua boca se tornou enorme, seus dentes ficaram tão afiados que poderia cortar apenas de olhar – Agora – Sua voz se tornou distorcida e monstruosa, aquele não era mais seu corpo normal, agora ele é apenas uma besta sedenta por sangue e carne – É minha vez! – Ele foi em atrás do ser fazendo barulhos incompreensíveis
 
Enquanto isso, nas escadas, Anastácia corria a toda a velocidade para chegar ao seu andar, sem muita demora, ele finalmente chegou ao 8 andar novamente, levemente ofegante, ele abre a porta e vai direto a cozinha, chegando lá ele ajeita sua gravata e luvas frente ao espelho
 
– Achei que não ia voltar mais!
 
– Foi mal André, mas é que eu tive um pequeno problema no banheiro
 
– Banheiro? Sei, bem – O Homem de cabelos castanhos escuro continuou mexendo o líquido da panela – O Will vai demorar muito ou já está vindo? – Ele olhou para os outros cozinheiro e garçons que estão na cozinha
 
– Não, não – Ele continuou se arrumando – Ele disse que já está vindo – Por um instante ele parou e olhou para os demais que soltaram diversas gargalhadas
 
– Você, como sempre né
 
– Não enche o saco André, eu só disse isso porque o Will nunca se atrasa pra nada, e só olhei no relógio e…
 
– Então você quanto tempo ele tem de intervalo é? Bem intrigante isso
 
– Não é nada disso que você esta pensando! – Ele se virou e apontou para o colega – É só que o horário de intervalo é o mesmo para todo mundo!
 
– Ok, ok, se vce está dizendo, quem sou eu para…
 
– Foi mal pessoal, eu tive um pequeno problema nas escadas – Will cruzou a porta se deparando com diversos olhares
 
– É dá pra ver o seu pequeno – André tocou de leve o lábio – “Incidente” – Ele olhou para Anastácia
 
– O que? – Olhares se cruzaram, ele foi rapidamente ao espelho, chegando lá ele percebeu que havia um grande borrão vermelho em sua boca – Entendo – Seu tom mudou, ficou sério com nunca haviam visto antes, olhando fixamente para o espelho, ele utilizou um pano úmido para se limpar – Pronto, agora – Ele parou e abriu um sorriso largo, com isso viu que um pequeno pedaço de carne está preso em seu dente – Puxa, que descuidado eu sou – Um tom mais ameno tomou conta de si, ele pegou um palito de dentes e habilmente removeu o resto de carne que estava em seu sorriso – Agora sim, tudo como deveria estar – Ele se virou para os demais – Muito bem pessoal, vamos continuar este trabalho, pois esta noite tem que ser igual as outras – Ele pegou uma das folhas de pedido e começou a cozinhar – Perfeita! – Todos voltaram a trabalhar e apenas o som e panelas e talheres batendo podia ser ouvido no local
 
– Anastácia!
 
– Fala Marcos!
 
– O pedido da mesa 16, carne de sol com arroz branco, feijão macarrão, farinha e bife com arroz branco, macarrão, farinha e feijão, já está pronto
 
– Ok, já estou levando – Ele pegou os pratos e saiu em direção ao Salão
 
Enquanto isso, no salão principal, na mesa do canto perto das janelas, Constantino e seu acompanhante se cumprimentam
 
– É bom ver você depois de todo esse tempo meu velho amigo
 
– Se é bom para você, imagina para mim – O jovem de cabelos castanhos claros bebeu um pouco de água – As coisas mudaram bastante desde a última vez que nos encontramos
 
– Sim, da última vez a 1 guerra já havia acabado pouco mais de 3 anos – Um sorriso acolhedor surgiu em sua face – O mundo mudou bastante desde daquela época, me conta, como está sua vida? Fez alguma coisa de interessante nesses últimos tempos, alguma novidade?
 
– Bem, minha vida continua normal, claro, considerando todas as coisas, foi bem normal, diversos empregos – Os olhos do jovem brilharam – Acredita que eu aprendi como controlar uma estação elétrica?
 
– Isso é bastante útil – Se inclinou um pouco mais na cadeira – Fora esse novo conhecimento, tem praticado e se atualizados sobre os anteriores?
 
– Sim! – A felicidade está em evidência em seu rosto – Não precisa se preocupar, eu ainda sei como dirigir um carro, charrete, como pilotar um avião, helicóptero, sei como trabalhar com madeira, aço, ferro e prata, também sei como mexer na internet e mais algumas coisinhas – Uma pequena risada foi solta
 
– Isso é bom, se você aprende a fazer algo, não pode simplesmente deixar de praticar e se atualizar sobre – Ele bebeu um pouco de água – Por exemplo, eu ainda sei os estilos de luta dos Maias e Astecas – Ele chegou mais perto do jovem – Inclusive o pessoal tá começando a descobrir outras coisinhas sobre esses povos, a se eles soubessem – Risadas foram ouvidas
 
– Você continua como sempre
 
– Você também, fico extremamente feliz de saber que esta tudo bem com você, esses últimos anos não foram os mais fáceis
 
– Eu sei, eu acompanhei tudo pelos rádios e televisões, vocês tiveram dias extremamente tortuosos – Um olhar apreensivo encarou os olhos de Constantino – Você pode ter me chamado
 
– Você sabe como isso funciona, para o bem de todos, você não pode sair assim, antes da hora – Seu olhar foi de encontro com o horizonte através do vidro – Seria muito bom ter tido você por perto para ajudar antes, ter você por perto para ajudar agora, mas…
 
– Agora? – Um silêncio ficou entre os dois – Por acaso algo aconteceu?
 
– Na verdade sim, não uma, mas duas coisas aconteceram
 
– O que é?
 
– Eu vou começar com a não tão boa – Um suspiro foi solto – Depois de mais de 5 séculos – Os olhos apreensivos se tornaram sérios, eles estão fixos com os olhos do jovem – Os Parasitas voltaram!
 
O jovem ficou sem qualquer expressão, seu rosto ficou pálido e foi como se sua voz tivesse desaparecido, ele simplesmente congelou como uma estátua, imóvel ele continuou encarando Constantino. As mãos sobre a mesa, paradas, era com se apenas o corpo estivesse ali, a mente foi embora devido ao choque, após alguns segundos, nem Constantino aguentou olhar para o jovem, desviou seu olhar para a janela novamente
 
– Isso significa que aqueles monstros também estão de volta, né? – Após encarar Constantino por longos, tortuosos e quase intermináveis 5 minutos de um silêncio que aparentava não ter fim, o jovem decidiu falar alguma coisa
 
– De forma bastante provável
 
– Os outros já sabem disso?
 
– Sim, eu contei para eles ontem no almoço
 
– Entendo – Ele encaro a água a taça por alguns instantes como se viajasse em suas memórias – Mas ainda há outra coisa – Ele olhou para Constantino novamente – O que é?
 
– Essa é uma boa notícia, seria melhor ainda se não tivesse esta primeira, eu sei que você vai ficar tão empolgado quanto eu – Um sorriso largo e genuinamente alegre tomou conta da expressão de funeral que estava em seu rosto anteriormente – É com grande prazer dizer que, oficialmente, tem mais vampiros além de nós 12
 
– Espera, o que?!
 
– É isso mesmo, há um novo vampiro entre os mortais que não é nem um dos 12 em um dos 20 – Com o sorriso largo seu entusiasmo aumentou – Isso não é a melhor informação que você podia receber em todos os tempos?
 
– É, eu acabo de receber a melhor e a pior informação que eu poderia receber em todos os tempos – Ele pegou e balançou sua taça com água – As duas na mesma noite de uma vez só, eu não sei nem como lidar com isso, é, é, é…
 
– Calma – Ele pegou na mão do jovem – Eu sei que a primeira informação é a pior coisa que você podia ouvir em todos os tempos e que a segundo é a melhor, entendo que isso tudo de uma vez só é muito confuso e é muita coisa para processar, mas você tem que ficar calmo – Ele pegou a taça de água – Amanhã vamos entrar em contato com esse novo vampiro
 
– Espero que dê tudo certo – Um sorriso nervoso está em sua face
 
– Com licença senhores – Um garçom chegou a mesa com uma garrafa de vinho – Aqui está o vinho que pediram
 
– Ótimo – Após o garçom servir uma taça ao jovem, ele lentamente tomou com gole do vinho, deixando que o saber melhorado pelo tempo invadisse sua boca, assim o transportando para outros anos
 
– Obrigado – Constantino esperou o garçom terminar de servir seu copo – Seu nome é? – Seus olhos fitaram o garçom
 
– Meu nome é Antônio Anastácia e serei seu garçom está noite, seus pedidos logo estarão prontos
 
– Tudo bem, obrigado – Constantino deu mais um gole em sua taça enquanto o garçom se foi, do outro lado, o jovem finalmente voltou a realidade
 
– Nossa, todas as vezes que vinhemos aqui eu bebo esse vinho, mas mesmo assim toda vez eu ainda fico maravilhado com o saber, ele me faz voltar no tempo para a primeira vez que estivemos neste lugar – Ele colocou a taça na mesa – É impressionante este lugar ainda está de pé depois de tantos séculos
 
– Eu faço o que posso para manter este lugar aqui, você sabe – Seus olhos correram solto pelo Salão – Um lugar tão maravilhoso quanto este tem que ser visto por todas as gerações
 
– É verdade, uma pena para aqueles que ainda não vieram aqui – Seus olhos apreciam a ternura na expressão de Constantino ao observar todo o local, maravilhado, ele também dá uma boa olhada ao redor – Você tem mesmo razão, sabe, o chão feito de destes ladrilhos, é quase uma obra do cubismo, as cortinas dão a impressão de ternura e aconchego, mantendo o frio da noite fora e o calor do ambiente dentro, faz as janelas ficarem apenas de enfeite, quando é o contrário
 
– Exato, as mesas feitas com material claro, cobertas por uma toalha bordada, a iluminação que imita a luz de velas e a música que ressoa por todas as partes – Ele respirou bem fundo o ar – Estes é definitivamente o lugar mais perfeito de todo o mundo e de todos os tempos
 
– O melhor é que como já viajamos o mundo em diferentes épocas, realmente podemos dizer que um lugar é o melhor de todo o mundo e todas as épocas, bem, ao menos as que passaram – O jovem olhou para Constantino
 
– É isso mesmo, você está certo – Seus olhos se fixaram na taça de vinho – Vir aqui renova minhas forças, é como… – Uma sensação interrompeu sua frase, ele sentiu um frio vindo direto das partes mais profundas do seu ser, depois de pensar um pouco, ele descobriu o que era – Não importa o que aconteça – Ele puxou o jovem para perto de si e olhou no fundo de seus olhos – Não olhe para a janela agora
 
– O que? Mas por quê?
 
– Quieto! Não olhe para ela!
 
Foi como se o tempo parasse, para Constantino e o jovem era perceptível, é algo que ninguém além deles conseguiria ver ou notar, do outro lado da janela, no lado de fora por um único e ligeiro momento, ali está um homem, de cabelos pretos e olhos da cor do ouro e brilhantes com um farol, é como se tanto o homem quanto Constantino e o jovem soubesse um do outro, mas eles não cruzam olhares, eles continuam o que estão fazendo, quase como se estivessem esperando o outro fazer contato. Por fim esse pequeníssimo momento passou e o homem se foi
 
– Constantino! – Os olhos do jovem ficaram arregalados – O que caralhos foi isso?!
 
– Fala baixo! Estamos em um local prestigiado e de respeito, controle sua língua! – Seu olhar se manteve firme
 
– Você só pode esta brincando! Uma criatura acabou de passar pela gente e você me pede pra ficar calmo?
 
– Olha, ela passou por nós, mas não nos notou, você tem que entender que não corremos perigo, se ela quisesse nos pegar, já teria tentado e se ela é como a gente, significa que ela sabe que notamos ela passando por nós, mesmo assim ela não tentou fazer contado visual, apenas seguiu direto, não podemos demonstrar pânico agora, apenas se comporte com se nada tivesse acontecido e tudo vai fica bem – Ele pegou a taça de vinho e tomou tudo de uma vez – Entendeu?
 
– Você fala isso mas acabou de virar a taça de vinho
 
– Isso não vem ao caso, apenas continuem agindo como se nada tivesse acontecido e tudo ficará bem!
 
– Ok, ok – Ele se inclinou na cadeira – Eu entendi, não precisa falar de novo – Ele ficou em silêncio olhando para fora
 
Alguns minutos se passaram e eles tomaram 3 taças de vinho sem dizer nenhuma palavra, seus olhares se cruzaram e um suspiro foi solto
 
– Eu sei que o álcool não afeta nossos corpos
 
– Afeta mais o seu do que o meu
 
– É eu sei Tino, mas enfim, mesmo que não faça tanto efeito, ainda ajuda a relaxar um pouco – Ele apoiou os cotovelos na mesa – Não imaginei que teríamos tanta ação desde a última vez que nos encontramos
 
– É, tudo muda com a volta dos parasitas e dos 20, sem falar nesse novo vampiro
 
– Tino, você acha que o reaparecimento dos parasitas e dos 20 tem alguma relação com o surgimento desse novo vampiro?
 
– Bem, nenhum de nós 12 consegue criar vampiros, só os 20 conseguem, o problema é que não faz sentido eles criarem novos vampiros tendo em vista o objetivo deles
 
– Eu pensei a mesma coisa – Seus olhos curiosos fixaram na janela da porta que dá acesso a cozinha
 
– O que você está olhando? – Ele virou de forma discreta – Aquele é nosso garçom, ele deve está vendo se sua roupa está em perfeito estado, esse lugar realmente faz jus ao seu nome, respeito e prestígio – Ele continuou observando até que Anastácia saiu da frente do espelho e um cozinheiro com cabelos pretos entrou em sua frente, pelo reflexo, pareci encarar Constantino, era como se ele estivesse dizendo “Eu sei que você está ai, eu posso te ver, porém ele apenas ignorou este fato, já que é um fato comum de acontecer visto que por causa do reflexo você pode encarar outras pessoas quando você está apenas apreciando seu rosto – Bem, nosso pedido deve está prestes a chegar em breve
 
Alguns instantes depois, Antônio sai da cozinha com dois pratos e vai até a mesa de Constantino e o jovem, a mesa 16
 
– Aqui está os seus pedidos senhores – Com maestria ele colocou os pratos e os talheres na mesa
 
– Obrigado Antônio, foi até que rápido
 
– Eu que agradeço, os senhores desejam mais alguma coisa?
 
– Que tal uma sobremesa Tino?
 
– Uma boa ideia – Ele parou e pensou por alguns segundos – Quando eu solicitar, recolha os pratos e traga 4 mousses de chocolate – Ele olhou para o jovem – 2 para mim e 2 para você
 
– Como desejar senhor, mais alguma coisa?
 
– Não, por enquanto é só – O garçom acenou com a cabeça e se retirou para a cozinha – Com o passar dos anos a comida deste lugar só melhora
 
– Você tem toda razão Tino, isso é um bom negócio pra todo mundo – Ele pegou os talheres – Agora vamos comer!
 
Sem pressa, os dois começaram a desfrutar do saber inigualável da comida dos velhos tempos, degustando de cada um dos alimentos do prato, a carne de sol macia de derreter na boa, a farinha, gostosa e sem igual, a Constantino lembrou de um lugar quente, bem na Linha do Equador, uma cidade da América do Sul, a qual ele diz ser a melhor do mundo, o arroz quentinho e de dar água na boca o tempero dele está praticamente em perfeita sintonia com o resto dos componentes, o feijão está como o manjar dos deuses, o caldo está grosso e com tempero na medida, o bife foi bem frito e o molho que colocaram por cima deixa ele simplesmente sem igual, o macarrão está divino, temperado com manteiga e colorau o gosto dele complementa e balanceia o resto da comida. Todos os ingredientes estão em perfeita harmonia, todos eles dão uma explosão de sabor na boca, essa comida faz cada um relembrar um lugar em particular do mundo, para Constantino é o Amazonas no Brasil, para o jovem é Roma, na Itália. O Jantar dos dois foi o mais esplêndido que poderia ser
 
– Tino, isso aqui estava uma delícia, simplesmente sem igual, eu não como uma comida tão gostosa a uns…
 
– 100 anos?
 
– Isso mesmo! – Os dois riram – Bem, agora que o prato principal já foi, que tal chamar a sobremesa?
 
– É uma boa ideia, mas sabe, eu tenho algo que vai deixar a sobremesa muito melhor – Ele fez sinal e Antônio veio, recolheu os pratos e foi em direção a cozinha – Olha, eu sinto que o momento está chegando, por isso, eu acho que agora é a hora certa
 
– Espera – Ele olhou nos olhos de Constantino – Você está falando daquilo?!
 
– Sim
 
– Meu santo senhorzinho, eu nem acredito que esse dia finalmente chegou! – A empolgação e entusiasmo tomou conta de seu rosto
 
– Chegou a hora de você ter todas as suas perguntas respondidas – Ele pegou e tomou um gole de vinho – Quem você é, de onde você veio, de onde nós viemos, quem nós somos, quem era Constance – Ele olhou no fundo dos olhos do jovem – Todas estas e muitas outras perguntas que você tem serão respondidas hoje meu querido
 
– Eu espero por esse momento a anos
 
– Eu sei
 
– Aqui está senhores, 4 mousses de chocolate como o senhor pediu – Ele deixou dois para cada um – Desejam algo mais?
 
– Por enquanto é só Antônio
 
– Como desejar – Ele saiu em direção a cozinha novamente
 
– Então, pronto para conhecer a verdade sobre tudo?
 
– Pode começar – Um sorriso largo ficou em seu rosto
 
Assim o jantar dos dois continuou, durante a sobremesa, Constantino respondeu todas as perguntas que o jovem fez, sendo o mais claro possível e imaginável, eles terminaram a conversa e a sobremesa, pagaram a conta e saíram. O resto da noite foi como todas as outras no Comida dos Velhos Tempos, muitos clientes, muitos pedidos, foi assim até as 23 horas quando o restaurante encerrou seu expediente, os cozinheiros limpam a cozinha e os garçons o Salão Principal. As 00:00 tudo já está devidamente limpo e quase todos já foram, no térreo ainda estão alguns funcionários das outras empresas do prédio, dentre eles esta Will e Antônio
 
– Foi um dia cheio, não foi Will?
 
– Foram muitos pedidos hoje, acho que foi o mais movimentado da semana – Ele olhou o telefone
 
– Bem – Uma notificação atraiu sua atenção – Parece que o meu carro já tá chegando, você pode vir comigo se quiser – Ele tocou no ombro do Will – Sabe, a gente podia fazer pipoca e ficar assistindo filmes até mais tarde, o que acha?
 
– Desculpa Ana, mas hoje não vai dá, eu já tenho algo importante para resolver
 
– Mas a essa hora?
 
– Pra você vê o nível de importância que é – Ele continuou com os olhos fixos no telefone
 
– Bem, qualquer coisa meu convite ainda vai continuar de pé, você sabe aonde fica a chave
 
– Olha – Ele olhou para o amigo – Olha, vê se não vai ficara acordado até tarde hoje, tenta dormir um pouco tá?
 
– Ta bom, você é o maior chato que eu conheço – Ele desviou o olhar
 
– Eu só me preocupo com você, alias – Ele ergueu o telefone para que Antônio pudesse ver – Amanhã, as 10 horas vou te levar ao médico
 
– O que?! Qual é Will, não precisa se preocupar tanto assim comigo, você…
 
– Você vai e fim de papo! Essa sua insônia já tá te deixando com olheiras – Ele ficou sério
 
– Ok, você ao menos pode tomar café comigo? – Um pequeno silêncio ficou entre eles, Will voltou a olhar o telefone
 
– Claro, vou chegar as 7 pra te ajudar
 
– Não dá pra ser as 8?
 
– Você tem que começar a acordar cedo sabia?
 
– Eu não te entendo, diz pra eu dormir, mas quando eu to dormindo você fala pra eu acordar, você não faz sentindo sabia?  – Ele cruzou os braços
 
– Não foi isso que eu quis dizer – Ele guardou o telefone – Olha você, você entendeu o que eu quis dizer, não se faça de bobo
 
– Hum! – Novamente uma notificação chegou em seu telefone – Olha, meu carro chegou
 
– Cuidado em
 
– Não se preocupa, eu vou ficar bem
 
– Mesmo assim, toma cuidado – Ele chegou mais perto de Anastácia – Vê se dorme cedo em!
 
– Tá bom, tá bom – Ele se inclinou e deu um beijo em Will – Você se preocupa demais – Outro beijo em Will
 
– Alguém tem que fazer isso né – Ele desviou o olhar
 
– Bem, eu já vou, qualquer coisa me manda – Ele deu mais um beijo em Will – Mensagem
 
– Você também – Com sua mão ele segurou o rosto de Anastácia e deu um beijo mais demorado, eles só se separaram ao ouvir a buzina do carro que Anastácia chamou – Até amanhã
 
– Até! – Ele foi em direção do carro, confirmou que era mesmo o que ele havia pedido, entrou e dentro de segundos o carro foi embora
 
Will observou tudo de longe, perto das sombras, quase como um fantasma, depois de algum tempo, ele percebeu que as pessoas já haviam parado de prestar atenção nele, então com agilidade, ele entrou no mundo das sombras, la ele caminhou por cerca de 30 minutos até sair novamente, agora ele saiu não mais na portaria do prédio, mas sim em um beco escuro, em um zona menos cuidada da cidade, as únicas coisas que iluminam as ruas são o brilho da lua cheia e o letreiro de um bar, “Cachaça de Verdade” o nome do bar, Will caminhou calmamente até o estabelecimento, de fora ele conseguiu ouvir as risadas altas, a música cantando sobre as dores do coração, ele entrou no lugar de forma discreta, deu uma boa olhada no salão com o predador que busca a presa perfeita em meio um rebanho indefeso. Após alguns instantes ele achou o que procurava, andou até uma mesa do canto e la se sentou, nela já estava sentado um homem a sua espera, devido a má qualidade das lâmpadas do bar, o outro homem esta imerso nas sombras
 
– Obrigado por ter vindo 1 – Will encarou os olhos do homem
 
– Você disse que era um assunto urgente, por isso estou aqui, espero que não desperdice meu precioso tempo – Ele pegou um dos copos de bebida da mesa e bebeu metade dele – Agora, o que é esse assunto de extrema importância?
 
– Hoje mais cedo no trabalho, eu fui atacado por um grupo de parasitas – A seriedade em tom de voz fez a curiosidade do homem se transformar em atenção
 
– Entendo, conte mais – Ele bebeu o resto de bebida que estava no copo
 
– Depois de capturar e matar boa parte deles, um resolveu me contar tudo – Ele pegou um dos copos da mesa, pegou a garrafa de whisky, Absinto, encheu o copo e virou de uma vez – Isso sim é bebida forte – Ele se recompôs e voltou a olhar para o homem – Ele me disse que dos 6, 5 eram humanos normais a 2, agora 3 dias atrás que foi quando eles encontraram outro parasita que os transformou em um, ele disse a esse grupo para me vigiar e que deveriam me atacar apenas quando o homem de confiança desse parasita o fizesse, bem esse é o 6 e provavelmente é, ou melhor, era o parasita mais velho entre eles, eles me atacaram e eu os matei, isso é tudo – Ele se inclinou na cadeira de madeira
 
– Entendo, então um parasita criou novos parasitas e mandou eles atrás de você, isso tudo sem eu saber ou autorizar, que coisa mais fascinante, não acha?
 
– De fato, não quis convocar uma reunião com os demais porque sei que não terminaria bem, afinal isso é praticamente uma acusação de traição, de que há um traidor entre nós
 
– Você fez bem, por enquanto não devemos expor esse ocorrido aos demais, eu farei uma investigação sobre, não se preocupe, isso não ficará assim – Ele encheu seu copo e tomou toda a bebida de uma vez – Quando eu descobrir algo, eu aviso você, claro que como vítima, você cuidará deste traidor pessoalmente – Com força ele fechou a mão e quebrou o copo de vidro – Fui claro?
 
– Sim senhor
 
– Ótimo! Vejo você em breve 13 – O homem no instante seguinte desapareceu em meio as sombras deixando Will sozinho novamente
 
Will olhou em volta e percebeu que uma briga acabara de se iniciar, ao observar a situação com cuidado, ele pegou a cadeira a sua esquerda e a jogou no outro lado do bar, assim acertado mais pessoas e fazendo com que mais pessoas começassem a brigar, logo o bar já estava com sinais de destruição interna severa, mesas, cadeiras, garrafas e copos já haviam sido destruídos, porém Will apenas assiste a tudo de longe, sem entrar no meio da confusão, algumas vezes pessoas brigando chegam até a balançar sua mesa, mas não fazem nada além disso, ele continua tomando o Absinto tranquilamente apenas observando tudo
 
Assim a noite continua na grande Cidade De Ferro, a cidade dos encontros, das reuniões, das brigas e, principalmente, dos mistérios, mistérios quais estão envolvidos com o destino e o futuro da humanidade. A escuridão da noite engole todos esses belos e desprezíveis cenários da cidade, essa escuridão e a história desses excêntricos personagens iluminados apenas pela pálida e platinada luz da lua

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⏰ Última atualização: Nov 03, 2021 ⏰

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