-- Ok! O que vamos fazer? -- Lara pergunta.
O mapa estendido sobre o capo do carro. O sol brilhando forte e quente sobre nós. A encruzilhada a nossa frente é uma surpresa desagradável, significa que pegamos o caminho errado em algum momento e depois de analisar o trajeto até aqui, concluímos que não vale a pena voltar. Já fomos longe demais.
São três opções de caminhos, uma delas leva direto pro interior, pequenas cidades e vilas, fazendas e lavouras. Outra leva para uma enorme cidade, na qual não achamos boa ideia arriscar. As cidades grandes se tornaram verdadeiros vales mortais para desavisados e ou corajosos, que ousam tentar atravessá-las. O outro caminho também leva em direção a uma grande cidade, porém, está fica no litoral. Ned observou que existe uma ilha não muito longe do continente por ali, sugeriu, que seguissem para o litoral, pegassem um barco até a ilha e tentar fazer dela uma casa.
A ideia realmente não é ruim, alguém do grupo mencionou que a ilha foi um local de preservação ambiental no passado e que as únicas pessoas que por ali habitavam eram pesquisadores e os cuidadores da ilha.
Depois de alguns minutos de conversa abrimos uma votação. Havia aqueles que consideravam o interior a melhor opção, pois geralmente tem poucos mutantes nas cidades menores, além de mais recursos. Eles consideram que podem montar uma base numa dessas fazendas abandonadas. Fortificar com muros e viver por lá. Tomo a vez de falar quando ouço o homem dizer isso. Lembro-lhes que os mutantes são caçadores e eles sempre atacam aglomerados de pessoas. Criar uma vila é uma sentença de morte.No final, a maioria optou pela ilha. E eu tbm considero ser uma boa ideia.
Minutos depois estão todos se preparando para o cair da noite. Barracas são montadas, armadilhas armadas aos arredores. Três jovens sabem no ônibus para vigiar do alto.
Estou sentado numa Rocha pensando em tudo oque houve até aqui. Ainda hoje procuro por um sinal da Genoma, aquele pessoal que tentou me raptar quando fui infectado. Acredito que eles sabem muito mais do que nós, sobre o que está acontecendo. Acredito que saibam o que eu me tornei e talvez possam me curar. Me tirar a fome.
A fome. As vezes tenho vontade de morrer alguém. Eu sinto vontade de comer, não é necessidade, é somente desejo. Um desejo grande por carne e sangue. Tenho medo disso, medo de perder o controle em algum momento e machucar alguém.. tenho medo de me tornar um monstro.
Não quero seguir com eles. A ideia de ficar ilhado com tantas pessoas, todas tão apetitosas, me deixa um tanto ansioso. Acho que eu não estou pronto pra uma vida calma. A agitação, a luta, o perigo constante... isso deixa minha mente ocupada. Penso menos em comer e mais em matar. Não sei como seria depois de um tempo longe da ação.
-- No que está pensando? - Ned pergunta ao se sentar ao meu lado sobre o gramado.
Desperto de meu transe sem realmente saber oque responder.
- Acho que preciso fazer uma escolha difícil. - Respondo sabendo que ele não se daria por satisfeito.
- Você não pretende ir com a gente. - Ele afirma.
Olho para seu rosto. Ele tem esse jeito sóbrio, sereno, equilibrado. Acho realmente incrível como Ned mantém sua resiliência intacta.
Lembro de nossa espoca escolar, ele sempre cuidando de mim, mesmo quebeu fosse um pouco grosseiro por vezes. Tive sorte de ter um amigo como ele. Tive sorte de tê-lo como amigo.
- Não me sinto pronto para parar de...
- Lutar. - Ele. Sorri e olha para o céu quase noturno. - Eu sei como se sente. É como se tivesse nascido pra isso. Para ser um sobrevivente, como se esse fosse o sentido exato da sua vida. A emoção de lutar, de sobreviver. De estar por aí viajando e rodando na estrada, salvando pessoas aqui e ali. - Ele suspira. - Eu também não acho que estou pronto pra parar.
- Espera... Você não quer ir pra ilha? Mas a ideia foi...
- Minha, eu sei. Essas pessoas merecem uma chance. Vou ajudá-las a chegar até lá. Mas se você ficar, vou ficar contigo.
Rian se aproxima aparentemente cansado. Ele se abaixa e beija minha testa, depois de cumprimentar Ned.
- Estão bem? - Ele pergunta simplesmente.
- Sim. - Digo.
- Só estávamos planejando pra aonde vamos depois de levar o pessoal até o litoral. - Ned revela.
Olho para Rian esperando uma reação. Não era assim que eu queria falar isso pra ele. Queria montar todo um discurso na minha cabeça, para errar tudo na hora h. Ned estragou tudo.
- Espeta! Vocês não querem ir pra ilha?
Ele parece surpreso, apenas.
- Não. Acho que quero rodar o mundo. - Ned diz.
- E eu tenho histórias não acabadas aqui. - Digo. - Preciso descobrir oque aconteceu comigo.
Rian segura a minha mão.
- Eu já perdi você vezes demais. Não suportaria perder de novo. Seremos três peregrinos então.
Ned ri.
- Nós tres, rodando as estradas, matando mutantes canibais, salvando pessoas e tendo uma vida emocionante.
Eu vou gostar disso.Sorrio com a ideia.
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Mortal
HorrorRepentinamente as pessoas de uma pequena cidade adoecem. Tudo indica que há uma infecção viral se espalhando, o que ninguém esperava é que os infectados se tornariam loucos canibais famintos. Agora os estudantes de uma escola vão ter que lutar par...