Da vida até a morte || Dayline

08

Já parou pra pensar no quanto a vida nos surpreende? O quanto ela não planeja nada, apenas nos entrega algo, e nós decidimos o que vamos fazer?

Dayane nunca iria imaginar tudo isso que tornou sua vida. Antes se criticava Santiago por tê-la demitido, hoje ela se ajoelharia aos seus pés agradecendo-o. Ela não imaginaria que sair da Espanha, voltar para o Brasil, e trabalhar no Hospital do Câncer iria resultar em uma mudança radical na sua vida - e lógico, uma mudança maravilhosa.

Muitas coisas da vida de Dayane, ela não imaginava que iria acontecer, a Dayane de 15 anos, nem chegaria a chutar que dali há seis anos ela estaria fazendo pré-natal, escolhendo decoração de quarto, nomes para menina... e ainda mais, fazendo isso sozinha. Talvez Day tivesse sonhado em primeiro namorar, depois noivar, casar e ter filhos - independente se fosse com homem ou mulher, já que sempre foi muito decidida sobre sua bissexualidade - ela ainda sonhava com o seu conto de fadas.

Mas quem escreve o conto de fadas não somos nós - ou escrevemos só o que a vida permite. Atualmente, Dayane escreve sua vida. Não nos momentos tecnicamente planejados por ela, mas tenta.

Uns dizem que preferem deixar a vida levar, pra quê ficar planejando, afinal, se a vida vai fazer o que lhe der na telha? Já ouvi outras dizer que se planejar, a vida conspira a favor disso. Dayane viveu até os 21, deixando a vida a levar. Ela nunca foi a filha mais quieta, mais obediente, mais presente em casa. Sempre gostou de sair para festas, de beber com as amigas.

Após descobrir que estava grávida, Dayane despertou na vida. Já estava há três anos no curso de enfermagem, e então, começou a levar mais a sério os estudos. Após os 21 anos, Day percebeu que a ela não era mais menor de idade, que "fazia merda e os pais iam se responsabilizar", agora se fizesse merda, ela ia tomar todas as consequências. Dayane não estava perdendo a juventude depois que preferiu focar mais nos estudos e deixar de lado as festas - claro que a gravidez também foi uma das causas disso, ao decorrer da gravidez, possívelmente ela iria deixar de ir para festas que só voltavam no outro dia - mas ela estava conquistando e ganhando uma nova Dayane. Do mesmo jeito que disse a Aline, ela estava conquistando uma nova Dayane, no corpo de uma velha Dayane.

A vida é feita de escolhas, sendo elas boas ou não, todas têm consequências. Dayane escolheu as dela, não foram consequências ruins. Serviram-lhe como experiência. Uma experiência de que a vida quando a virou do outro lado, a fez perceber que o outro lado é o mais bonito e o certo.

Já eram 17:32 quando Dayane escutou a campanhia sendo tocada, possívelmente era Miguel. Bem na mosca! Era o próprio. Ele trazia Sofía da escola.

- Mamãe!

Sofía pulou nos braços de Dayane, que instantaneamente teve que fazer força para segurá-lo. Day olhou para Miguel, que ria com a situação.

- Parece que hoje foi dia de abraço na escola. Algo assim. - Miguel explicou. - Acredite, ela deu um pulo quando me viu. Minhas costas não aguentam tanta pressão.

Dayane sorriu com a expressão de dor que Miguel fez.

- Que tanto amor dessa menina, meu deus. -

Dayane distribuiu beijos pelo rosto de Sofía.

- Posso assistir desenho, mãe?

- Claro que pode... - Dayane já havia se jogado no sofá, e tirado a mochila das costas. Mas comemorou cedo demais. - Mas primeiro pode ir tomar banho.

Sofía resmungou algumas outras coisas que Dayane escutou, mas resolveu ignorar no momento. Avistou a menina se recompor e ir sair da sala.

- Bom, Day, eu já vou indo... - Miguel começou, passando a mão pela barba.