Capítulo 32| Ian

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'Quase uma hora com essa garota no quarto
Se acalma que eu não sou de ferro
Gole na água e fodendo, fodendo
Minha corda no rosto dela batendo
Pede pra que eu não deixe marca
Garota, foda-se, vou deixar assim memo'
É que eu sou teimoso desde pequeno
Cabelo bagunçado, seu pescoço vermelho
Ela senta tão bem que eu até perco a fala'

- Vida Chique, Veigh

Domingo, 31 de dezembro

Apercebo-me de que estou há demasiado tempo a apreciar a morena quando ela estala os dedos na minha cara, trazendo-me de volta à realidade. Por momentos, pensei que estava num conto de fadas, pois uma deusa surgiu à minha frente.

Não tenho adjetivos suficientes para a caracterizar, não sou capaz de listar todas as suas qualidades naturais. Mathilde é esplêndida e eu podia passar o resto dos meus dias a inventar novas palavras para tentar descrevê-la, mas morreria sem conseguir fazê-lo, pois ela é indescritível.

Sinto-me um sortudo só por ter a oportunidade de tocá-la, de apreciar os seus sorrisos e até mesmo as expressões que tomam conta do seu rosto durante os momentos de prazer. Sou um sortudo por não ter sido dispensado, como todos os outros.

- Tudo bem, querido? - pergunta, mas eu não consigo prestar atenção. - Tens de te controlar, Ian. Não acho que queiras que alguém saiba que estás a babar por uma mulher.

- Eu quero que toda a gente saiba. - retruco. - Não me importo de gritar pelos quatro cantos do mundo.

Ela afasta-se e as suas bochechas coram levemente. Dou um passo à frente, segurando a sua mão e beijo o dorso.

- Vais ficar comigo durante a noite toda? - ela pergunta a medo.

- Vou ficar contigo para o resto da minha vida, morena. - respondo. - Não te vou deixar sozinha. Não vou dar esse gosto aos convidados.

- Elas querem mais ver-te sozinho do que eles querem-me ver sozinha. - indaga.

- Todos juntos são irrelevantes. - pontuo.

A sua mão livre toca o meu peito e os seus lábios vermelhos aproximam-se dos meus. Ela beija-me com gentileza e eu permito-me saborear lentamente o seu gosto a morango. Deixo-a ditar o ritmo, que continua lento até ao final.

Não é um beijo fogoso de arrancar o fôlego, é algo mais contido e formal, mas agrada-me da mesma forma. Ela afasta-se apenas para vestir o sobretudo e volta a aproximar-se, enlaçando o seu braço no meu. Encontramos os nossos amigos na entrada do edifício. Ricciardo acomodou Thiago e Valentina nos bancos traseiros do seu carro, orgulhoso por poder dar boleia aos amigos.

Chegámos à minha propriedade e as diversas equipas que eu contratei já esperavam do lado de fora. Abri o portão e deixei que os camiões passassem primeiro, antes de eu estacionar a minha preciosidade na garagem privada, garantindo que ninguém se aproxima do meu carro. Ricciardo também acomodou o seu veículo.

Enquanto se organizava a festa, subi até à suíte master, para confirmar se tudo estava impecável. De facto, a cama encontrava-se imaculadamente arrumada, forrada por lençóis brancos. Os armários abertos, prontos para receberem os nossos pertences, os meus e os da morena, que eu desejo conquistar esta noite.

O buquê de rosas gigante está pousado na mesinha branca perto da varanda, com uma garrafa de champagne logo ao lado e morangos cobertos com chocolate. A hidromassagem também é bastante convidativa. Um cenário romântico que eu espero agradar a minha mulher.

Quero começar um novo ano nos braços dela, fascinado por tudo o que nos envolve, que consegue ser tão perfeito e tão pecaminoso ao mesmo tempo.

A ansiedade consome-me, especialmente à medida em que a mansão fica abarrotada de universitários. Novatos e veteranos conviviam alegremente, com álcool e jogos para adultos. Eu limito-me a supervisionar o salão principal, onde a diversão é mais moderada, devido à classe social dos indivíduos presentes. Apenas elementos das mais importantes famílias se concentravam no largo espaço.

Mathilde aproxima-se e o meu olhar foca-se nas suas formosas pernas, que se movimentam em cima dos saltos altos, com a sigla da Yves Saint-Laurent majestosamente exibida. As minhas mãos formigam com o meu desejo de retirar, lentamente, cada pequeno acessório que adorna o seu corpo.

Ela está magnífica, é um facto, mas eu prefiro admirá-la de outra forma, absolutamente exclusiva, para a minha sorte. Não posso deixar de notar as suas íris escuras cravadas em mim. Mathilde não me resiste, tal como eu não lhe resisto.

Se fosse feita a minha vontade, eu desaparecia com ela, sem deixar rastros. Contudo, a morena ampara-me e mantém a nossa descrição em público.

Ao ver que não tem nenhum assento livre, ela senta-se no meu colo sem se preocupar em pedir permissão, porque sabe que, independentemente da situação, poderá sempre fazê-lo. Ajeito a minha postura no cadeirão e puxo-a para mais perto, enlaçando a minha mão na sua. Percebo uma nova jóia brilhante no seu dedo.

- Que anel é este? - interrogo desconfortavelmente, vendo o aro cravado a diamantes no seu anelar.

- Foi um presente. - ela responde tranquilamente.

- De quem? - insisto.

- De um admirador secreto. - a sua seriedade não dura muito, pois a minha expressão fechada agrada-lhe.

Um sorriso malicioso se forma nos seus lábios quando ela percebe que estou com ciúmes. As minhas mãos firmam-se ainda mais nos seus quadris.

- Vou colocar um verdadeiro anel nesse dedo. - afirmo. - Vais ostentar a minha riqueza e, em breve, espero eu, o meu sobrenome, doutora.

- Isso agrada-me muito mais do que deveria. - admite.

Deslizo as mãos pelas suas pernas nuas e o seu corpo aquece sob o meu toque. Os meus dedos estão próximos da sua intimidade e ela remexe-me no meu colo, fazendo-me dar um aperto firme na sua carne.

- Não te fartas de me provocar, pois não? - questiono.

- Devo me fartar? - ela arqueia a sobrancelha, mexendo-se no meu colo para me encarar. - Só usufruo do que é meu, moreno, não me aproveito de absolutamente nada.

- Ainda não tive livre acesso ao que é meu, morena. Pelo menos, não da forma como queria. Tens usufruído mais do que eu, aparentemente. - declaro.

Mathilde volta a remexer-se no meu colo e eu condeno-a por isso. O meu membro desperta e posso adivinhar que a diabinha tem um sorriso no rosto por conseguir o que queria.

- Vais ter de me mostrar o que esse vestido esconde. - aviso.

- Leva-me. Sou completamente tua, de corpo e alma. - limita-se a afirmar.

- Não posso. Não te vou obrigar a nada. - recuo, pois recordo-me de que ainda não lhe contei sobre a acusação.

- Provocamo-nos mutuamente até querermos muito mais. - indago. - Eu permito-te provar o que é teu.

- Há algo que precisas de saber, antes de tomar qualquer decisão. - pontuo.

- Conta-me. - pede ansiosamente.

Eu assinto e indico o corredor. Caminhamos até lá apressadamente, fugindo da confusão. Revejo mentalmente um bom discurso para lhe contar sobre a acusação de forma a não assustá-la.

- Eu fui acusado de algo grave, morena, que claramente não cometi. - hesito, porque não era com esta revelação inesperada que eu gostaria de acabar o ano. - Não quero que esta fama negativa se espalhe pelo campus. Eu não mereço, nem tu mereces. Não sou um monstro, morena. Jamais seria capaz de maltratar uma mulher. Vou provar a minha inocência e, quando estiver livre de toda esta merda, voltarei. Voltarei para ti e espero ser recebido de braços abertos.

- Qual é a acusação? - interroga calmamente, absorvendo a informação que despejei sobre si.

Custa-me verbalizar o que li há alguns dias na carta que me chegou do tribunal. As lágrimas rapidamente surgem e eu evito ao máximo deixá-las escorrer pelo meu rosto.

- Abuso sexual. - sussurro, fungando logo em seguida.

Mathilde vê os meus olhos marejados e aproxima-se lentamente, envolvendo-me num abraço.

Não me deixesOnde histórias criam vida. Descubra agora