City Hunter

Onde nossas angústias se encontram - Ato Um

Em que momento as coisas tinham chegado àquele ponto? Kim Young Joo não podia parar de pensar naquilo. Estava cercado por homens armados num ferro-velho tortuoso, sentindo as narinas queimarem com o cheiro podre de óleo velho e pneu queimado. Se o jovem Kim Young Joo ouvisse sobre ele agora, se sequer imaginasse estar em uma situação como aquela, ele pensava, o garoto se sentiria orgulhoso. Droga, Kim Young Joo, que tipo de ego é esse? Seus devaneios foram drasticamente interrompidos pela dor agoniante que atingiu sua coluna, se espalhando como choques por todos os nervos de seu corpo. Tudo que suas mãos podiam agarrar se tornavam armas preciosas entre a possibilidade de um futuro e a derrota. A cada novo soco e chute mais a possibilidade de um futuro parecia distante, e o gosto amargo de aspirina inundava o paladar como gosto da derrota. Droga, Kim Young Joo, que tipo de covardia é essa? Foi quando ouviu aquele nome.

— City Hunter? — Murmurou Chun Jae Man.

Foi ali, foi ali que as coisas começaram a dar errado. Foi com o City Hunter que tudo chegou àquele ponto. Droga, Kim Young Joo, que tipo de melancolia é essa? Ele aproveitou o segundo de distração dos homens e roubou um dos canos de ferro de um dos capangas. Com uma das mãos pescou o celular do bolso da calça, bom, as coisas tinham dado bem errado, tinha chegado àquele ponto. Não importava como, nem quando, tão pouco por culpa de quem. Tinham chegado àquele ponto. E não tinha mais volta.

A mensagem de texto foi enviada, agora a possibilidade de um futuro, ou a maldita derrota, não dependiam mais só dele, estavam nas mãos de alguém muito melhor do que ele, Lee Yun Seong.

Mas em que maldito momento as coisas tinham chegado àquele ponto? Ele não pode deixar de pensar quando caiu no chão, o corpo inteiramente dolorido, o gosto do sangue se espalhando pela língua. De repente a resposta lhe veio à mente, tão cristalina como água, tão certeira quanto o cano de ferro que lhe atingira a cabeça. A água cristalina escorria pelo seu rosto, mas não era água, ele ouviu alguém sussurrar em seu ouvido, não era água cristalina, Kim Young Joo, era sangue. Sangue vermelho e denso, quente e vibrante. Sangue que entrou por suas narinas, que invadiu seus olhos, sangue que lhe trouxe a resposta. A resposta para quando as coisas começaram a dar errado... City Hunter. O homem entrou na sala agitado, correndo até si.

— Kim Young Joo!! — O homem tomou seu corpo nos braços, com a voz falha, e um desespero tão palpável no olhar que o promotor poderia sentir seu cheiro.

Foi com City Hunter que as coisas chegaram àquele ponto.

...

Quando Lee Yun Seong pegou o voo para voltar à Coreia do Sul em 2011, ele teve a sensação de que não se tratava de um avião, de que não estava indo para oeste. Mas sim para trás, porque aquilo não era um avião, era uma máquina do tempo. E ele estava indo para o passado, o passado de seu pai. Como um relógio maluco rebobinando o tempo, retrocedendo. Não é para o oeste que estamos indo, Kim Young Joo, é para trás, para quando as coisas começaram a dar errado.

...

Aquele café tinha gosto de afeto, por mais que Lee Yun Seong não soubesse explicar o porquê daquela constatação. Mas quando o promotor Kim lhe perguntou se ele ainda seria o City Hunter mesmo que não ansiasse por vingança, se mesmo assim ele arriscaria a vida por outros, outros pequenos e insignificantes cidadãos. Yun Seong sentiu afeto. Porque a resposta era sim, porque inútilmente a resposta sempre seria sim. Aquele era quem ele era, City Hunter.

Young Joo ficou feliz com a resposta que obteve, o homem não lhe decepcionara em nenhum momento até então, aquela constatação também tinha gosto de afeto. Mesmo afeto demonstrado quando o Kim agarrou a mão do outro, apertando-a entre as suas, sentindo seu calor e o pulsar de seu pulso. Seus olhos se cruzaram e os dois sorriram, um meio sorriso discreto, cheio de afeto.