p r ó l o g o

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"Eles dizem que os sonhos se realizam, mas se esquecem de dizer que pesadelos também são sonhos

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"Eles dizem que os sonhos se realizam, mas se esquecem de dizer que pesadelos também são sonhos."

(autoria desconhecida)

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A menina corria sem direção certa por entre uma úmida e tenebrosa floresta de árvores altas e volumosas, com troncos largos cheios de vida que a noite escura fazia parecer apavorante. A lua cheia pairava no céu limpo, junto com suas companheiras brilhantes, sendo elas a única coisa a iluminar o caminho íngreme e difícil da jovem com seu brilho pálido.

No clima ameno, o orvalho gelado na relva a fazia escorregar, e o vestido longo azul-escuro pesava, não só por todos os detalhes em tecido, renda e lantejoulas, mas em toda a lama que já se acumulava na barra rasgada. Tropeçando, ela conseguiu subir mais e descer mais um morro, desviando de galhos que gesticulavam em sua direção, como mãos tentando agarrar qualquer pedaço de pele visível.

Ela sentia o perfume característico da floresta, das plantas, da terra e da chuva que se aproximava. Sentia que estava viva pela ardência dos cortes nas mãos e na sola dos pés. Ouvia não só o sangue passando pelo ouvido, mas também uivos distantes, os sons de pequenos animais bem protegidos nas árvores, e as folhas estalando sob seus pés.

Sem contar as milhares de sombras que pareciam atormentá-la em seus piores pesadelos, formando silhuetas e pessoas, braços e membros tenebrosos que buscavam agarrá-la. Era um misto de sensações indescritíveis.

Pulando por mais algumas raízes grossas e enroladas, resmungou palavrões ao sentir que pisou em espinhos novamente. No entanto, ela tinha de se conformar, pois assim era o seu caminho: cheio de pedras afiadas e espinhos lhe machucando os pés nus. Mesmo ofegante, continuou sua corrida desenfreada. Ela sabia que era para sua sobrevivência.

Um caso real de vida ou morte.

E então, a garota de pele levemente rosada parou repentinamente. Duas notícias. A boa é que ela havia saído da floresta, percebia o clarão da lua cegando-a. A má? Em sua frente estava um penhasco com centenas de metros de queda livre. O mar arrebentava suas ondas ferozmente contra as grandes pedras, pedregulhos e no próprio paredão enquanto o odor salgado invadia seu olfato. Com a vertigem apoderando-se de seu corpo, ela deu alguns passos para trás.

"Ele vai me alcançar", pensava ela, horrorizada.

Neste mesmo momento, a sensação de morte tomou conta da sua mente e um vendaval começou a se formar em volta da garota, fazendo os seus cabelos longos e escuros esvoaçarem, grudando na pele suja e suada pela fuga. Apesar de pesado e sujo, algumas camadas livres de seu vestido balançaram levemente com a brisa. A noite tornou-se mais obscura, e o silêncio se propagou por tudo, apenas o mar e sua fúria quebravam-no.

Era ele.

A menina não precisava de ninguém para lhe informar, apenas sentiu sua presença. Assim como qualquer um sentiria. Além disso, seu perfume era inigualável. Uma atração que aproximava suas presas os trazia para perto nos últimos momentos. Sua aura forte clamava por aproximação.

Ele estava parado entre as sombras das árvores, misturando-se entre elas, espreitando como um animal caçador antes do ataque. Andou até a jovem com graciosidade, elegância e postura de um rei. Sabia que poderia pegá-la rapidamente, entretanto, qual seria a graça? A caçada lhe proporcionava certo prazer, então por que deixaria de fazê-la? Ele afastou todos os pensamentos que passavam em sua mente e concentrou-se apenas na presa encurralada.

Ele percebia o modo como a garota olhava com seus grandes olhos violetas, como se estivesse em transe, hipnotizada. Talvez estivesse e o motivo era óbvio. Ele possuía pele tão branca quanto porcelana, os cabelos curtos despenteados, os músculos bem definidos sob a leve camiseta preta de algodão que vestia e os lábios delineados e carnudos de um tom invejável. Não havia como não ser hipnotizada, não só por sua beleza, mas pelo poder que ele exalava.

Contudo, não eram essas belas características que a garota contemplava, e sim, os olhos, envoltos de uma grossa camada de cílios escuros. As pupilas brilhantes e dilatadas deixavam a cor escarlate da íris ainda mais perigosa. Ele sorriu perverso para a garota, fazendo-a se arrepiar de medo diante da fileira de dentes brancos perfeitos para um comercial de pasta de dente, se não fosse pelas presas. Os caninos eram duas pequenas e mortais navalhas brancas.

O belo e perigoso jovem se aproximou da menina velozmente. Ela olhava-o abismada, sentia no fundo do seu coração que sua hora estava chegando e não havia nada que pudesse fazer.

E não havia mesmo.

— Talvez doa um pouquinho — disse ele, com a voz sofisticada e sensual.

A moça não sabia o que fazer quando o monstro ergueu sua face, deixando à mostra o pescoço frágil onde o sangue e a adrenalina corriam a mil. Segurou o antebraço do homem, procurando um ponto de equilíbrio. Suas pernas estremeceram ao toque leve e sensível das mãos do predador, ela sentia seu corpo fraquejar com a batalha perdida. Seus olhos se encontraram e a vitória estava estampada no rosto do caçador.

O perfume dele foi a última coisa que a garota sentiu antes da dor do contato das presas lhe dilacerando a carne e a alma.

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Ela sentou na cama, apavorada, o coração ainda batendo a mil, a pele suando frio. Estudou o cômodo onde estava, tentando se acalmar. Sua penteadeira com espelho arredondado estava ao lado direito da janela, a cômoda cor creme ao lado do guarda-roupa, no canto esquerdo. O cabideiro rosa posto à esquerda da porta com sua mochila e algumas jaquetas penduradas.

Em sua mesa de cabeceira, o relógio digital marcava três horas da madrugada. Levantando-se e ligando a luminária, algo lhe chamou a atenção: uma silhueta do lado de fora, estando ela em seu quarto no segundo andar da casa de madeira. A cortina estava aberta e a vidraça embaçada. Curiosa, caminhou sobre o macio tapete felpudo e prestou melhor atenção. Nada via além de uma sombra imóvel. Balançou a cabeça, pensando consigo mesma o quanto parecia louca e então apenas fechou a cortina e voltou para a cama, piscando e esfregando os olhos. Desligou a luz e fechou os olhos.

"Foi só um sonho, Edith, durma", dizia, mentalmente, tentando se confortar enquanto seu corpo tremia freneticamente. "Só um sonho".

Só o que ela não cogitava seria a ideia de que a silhueta do lado de fora fosse se mover em direção à rua com as mãos no bolso da calça jeans surrada, e que, sob o capuz do moletom, escuro examinaria o ambiente com seus olhos escarlates.

Só o que ela não cogitava seria a ideia de que a silhueta do lado de fora fosse se mover em direção à rua com as mãos no bolso da calça jeans surrada, e que, sob o capuz do moletom, escuro examinaria o ambiente com seus olhos escarlates

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Asas & Dentes | CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora