Parte 2

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Passamos a semana treinando feitiços de luta. Eu nunca os tinha conjurado, então, era muito difícil. Os piores eram as ondas de ar; conjurá-las e atirá-las no lugar certo. Os escudos de proteção foram os mais fáceis.

Quando o final da semana chegou, eu estava controlando bem os feitiços de fogo, água e ar, mas os de terra ainda eram complicados. Minha avó dizia que era porque a terra é sólida e meus sentimentos para com as fadas ainda não estavam definidos.

O Samhain era no próximo domingo e a lua estaria cheia. O ritual aconteceria no território dos duendes. Minha mãe explicou-me que era uma linda colina, onde nasciam muitas urzas, o principal ingrediente para o Samhain. E eu sabia como era difícil encontrar.

Viajamos para a cidade onde ficava a colina. Minha avó contava que a cidade toda era território dos duendes e os seres que ali moravam tinham que respeitar a lei deles e por isso eu não devia me aventurar sozinha por nenhum lugar.

Eu nunca tinha visto duendes. Já conhecia um lobisomem; um menino da minha sala sempre faltava às aulas nos dias de lua cheia. Ele tinha repetido o ano por causa disso, mas naquele ano estava tendo ajuda da professora, que era uma bruxa amiga da minha mãe.

— Os bandos não mordem os adolescentes, mas o pai do Bruno é o alfa e estava sendo ameaçado por outro lobo que foi exilado do bando — minha mãe explicou-me quando perguntei sobre o colega da sala.

Acabamos nos aproximando e ficando amigos. Ele era divertido, mas na semana da lua cheia ficava irritadiço e com bafo de cachorro.

A professora, sendo como nós, uma bruxa, ajudou-o muito quando viajamos, já que não estávamos de férias e eu iria perder praticamente uma semana de aulas.

A cidade parecia uma vila antiga de filmes que se passavam na Itália. Apenas três ruas e de paralelepípedos. As casas eram todas de pedras grossas, cinzas e marrons, as janelas eram de madeira grossas, algumas redondas outras quadradas. As portas eram redondas e grandes. Algumas casas tinham sacadas. Tinha vasos e jardineiras espalhadas por todos os lados.

— Os moradores daqui são como nós, ou têm humanos também? — perguntei, a minha avó, ao observar os moradores.

— Alguns são humanos, mas hoje quase todos são bruxos como nós, querida. Vieram para o ritual.

A hospedaria era charmosa e aconchegante. Todo o ambiente exalava um cheiro doce que me lembrava de biscoitos recém assados e chá de camomila. Os quartos estavam quase todos ocupados, restava apenas o nosso. Minha avó, Bela, cumprimentava todos sorrindo e falando muito.

De repente, minha atenção foi captada por um par de olhos verdes que me olhavam, quando notou que eu o vi, desviou o olhar e ficou observando o movimento da rua. Ele vestia calças jeans pretas, tênis all star, também pretos, uma camiseta branca e jaqueta de couro marrom. Parecia um tanto rebelde, enfezado e com os lábios finos formando uma linha reta, olhando fixamente para a rua como se estivesse desgosto de estar ali e quisesse ignorar as pessoas de dentro da hospedaria.

Seus cabelos negros estavam espetados para cima. De repente, ele se virou para mim, encarou-me por alguns instantes e levantou-se; uma mulher muito parecida com ele o abraçou e os dois subiram as escadas de madeira.

Minha avó veio ao meu encontro sorrindo e sentou-se ao meu lado.

— Aquele era o Yuri, ele é filho da Margarida, amiga da sua mãe.

— Ele parecia bravo. — disse, enquanto observava a escada por onde todos subiam.

— O pai morreu recentemente e agravou ainda mais nossas desconfianças de que as fadas da lua estão atrás de bruxos.

Ela se levantou e pegou as malas. Nosso quarto estava pronto.


Fadas da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora