14: Desrespeitável público

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— Hein? Hein Emília. Hein. Emília. Emília.

— Se você cutucar o meu braço mais uma vez ou falar esse nome, eu vou te acertar. — a mais velha avisou e não era a primeira vez, mas o ruivo não calava a boca ou se aquietava tão facilmente. Ela tinha aberto a porta segundo vagão e assistia Pégaso brincar, jogando um galho para ele. O cachorro tinha recuperado um pouco de sua cor branca, mas as manchas amarelas não sairiam até que trocasse de pelo.

— Hehe, calma. Eu só estou tentando fazer você sorrir um pouquinho, sua chata. — O ruivo argumentou, decidindo não ir para o lado de fora porque Pégaso era grande demais e tinha essa mania de pular e correr atrás dele, o derrubando quando conseguia alcançá-lo.

— Pégaso, pega.

— Para com isso. — ele disse se protegendo do cachorro atrás da porta, já que Áster tinha proibido que ele entrasse no trem até mesmo o próprio Pégaso parecia entender a regra — Você tá bem? O que achou do ensaio com o Jade ele tem equilíbrio, mas fica sempre achando que não tá bom, acha que ele vai voltar?

Emília piscou, não conseguia acompanhar o ritmo de conversa de Dálio, então todas as perguntas dele eram geralmente ignoradas, mas ele nunca se chateava com isso — Cadê a Quimera, hein? Por que não vai atazanar ela?

— Tá no rio com o Narciso, saberia disso se não tivesse ficado o dia inteiro no quarto, bobona. No que você tanto pensa? É sério, essa é a parte de você que eu não consigo entender de jeito nenhum. Você não fala nada, não dá pra eu adivinhar.

— É exatamente o objetivo.

O ruivo desistiu, batendo as mãos nas pernas — Mas que coisa. Eu vou atrás da Quimera mesmo, ela não me ignora feito você. Fica aí com seu cachorro, não vou nem falar mais com você.

— Eu ficaria feliz de ouvir isso se não repetisse todo santo dia. — Emília respondeu e Dálio deu de ombros várias vezes, lhe dando um tapinha na cabeça antes de sair correndo, fugindo e ignorando as reclamações da mais velha.

Não saiu do trem para entrar pela porta externa, batendo na porta da divisória entre vagões do quarto que Quimera dividia com Emília.

— Quimera?

— Pode entrar, Dálio. — Ela disse e estava se embrulhando num cobertor depois de se trocar, com os cabelos ainda presos num coque alto para evitar a água.

— Como foi no rio? — ele perguntou. sempre ia com os dois mas não entrava no rio mais que até o quadril, então nem todas as vezes eram tão empolgantes assim. Já a outra adorava dias ensolarados como aquele foi para aproveitar a oportunidade, e Narciso fazia questão de acompanhar quem quer que fosse para o meio da pequena floresta. Enquanto isso ele pescava ou cortava mais lenha para o fogão e para fazer carvão, esperando até que estivesse pronta para voltar.

— A água está ótima. Ainda não acredito que temos um lugar tão bonito para ir tão pertinho. — ela respondeu sorrindo e se ajeitando na cama, quando um livro grosso caiu.

— Que isso, você começou outro diário?

Ela já tinha explicado a diferença, mas ele chamava assim sempre — É. Vir pra cá me deu umas ideias sabe? — Dálio escutava atentamente e com isso se sentou na cama dela, colocando as mãos no colo como se estivesse se aprontando para ouvir mais. Quimera riu, recolhendo o journal — Não é grande coisa... Só anotei no papel porque me distrai, não nos juntamos pra jogar faz um tempo, á noite eu fico com tédio...

— Não se explica tanto, dá aqui deixa eu ver. — ele disse, pegando e abrindo.

— Não é nada de mais. — ela assegurou, mas as páginas diziam o contrário. Ela caprichava na letra e nos quadrantes para planejamentos detalhados, listava características de cores e sabores, até ingredientes diferentes.

A Queda de ÁsterOnde histórias criam vida. Descubra agora