ANDY CADMAN
Ontem a tarde, quando o Drake resolveu que estava na hora de irmos embora, eu apenas concordei, já tinha achado isso a umas duas horas atrás. Ele me acompanhou até perto de casa, e depois seguiu para a sua, eu até cheguei a perguntar se não precisaria da minha ajuda pelo ocorrido de um tempo atrás, que o deixou com o pé machucado, mas ele disse que não, pedindo que eu ficasse despreocupado.
Na mesma noite de ontem, nos encontramos de novo, mas foi bem mais rápido, por não estar tão tarde, e por ser no farol, sempre teríamos de tomar muito cuidado, se nossos pais descobrissem que estávamos nos encontrando alí, provavelmente colocariam guardas no local, para que nós dois jamais voltassemos lá.
Felizmente ninguém nos viu, apenas quando saímos da floresta, e caminhamos um pouco mais para retornar as casas de Summerside, que duas crianças vieram correndo em nossa direção, e abraçaram o que estava ao meu lado, me fazendo rir pela forma em que ele quase caiu.
Depois disso cada um foi para sua respectiva casa, sabendo que o dia seguinte seria longo, já que era o dia do baile tão esperado, e diferente do que todos exalavam, eu não estava muito empolgado, não gostava muito de lugares cheios, preferia o meu quarto, os meus quadros, e passar o dia sujo de tinta.
Como já havia imaginado, foi um dia de extrema agitação aqui na casa dos Cadman, os meus pais andavam de um lado para o outro, decidindo coisas, alegando que tudo precisaria estar perfeito, e que nós teríamos de estar totalmente apresentáveis, a família que ganharia todos os olhares da noite.
A minha mãe insistia em dizer que naquele baile, alguma outra mãe desesperada, chegaria em nós com uma proposta, e assim negociariam para que eu me juntasse de forma matrimonial com a filha deles, o que ela sabia que não iria acontecer se dependesse de mim.
── Querido, já está pronto?── ouvi a voz da minha mãe, e logo em seguida ela bateu na porta do quarto, abrindo-a lentamente.
Eu estava em frente ao espelho pequeno, terminando de me arrumar, na verdade não faltava mais nada, estava apenas adiando a minha descida, na esperança de que me esquecessem, mas foi algo que não aconteceu, infelizmente.
Ela se aproximou de mim, parando atrás do meu corpo, e colocou as duas mãos em meus ombros, depositando um beijinho naquela região, voltando a olhar meu reflexo pelo espelho, seu olhar era quase como se estivesse se perguntando se estou nervoso, e na verdade eu estava, do modo ruim.
Sabia que independente do meu comportamento naquela noite, hora ou outra iria acontecer uma balbúrdia, pois eu não havia pensado nos mesmos planos que a minha mãe, eu queria que fosse uma noite calma.
── Claro, já podemos ir ── sorri para seu reflexo, vendo ela concordar.
Eu caminhei ao lado da mulher, até o momento em que chegamos no andar de baixo, quando o meu pai a tomou pelo braço, e assim seguimos para o lado de fora da casa.
Adentramos a carruagem em silêncio. Eu me sentei no assento em frente aos meus pais, que me olhavam orgulhosos, e eu não entendia o porquê, afinal, eu não havia feito nada para que se orgulhassem.
Eu realmente não conseguia entende-los, em um dia falam sobre uma tal doença que desconfiavam que eu teria, e isso parecia causar repugnância na minha mãe, e hoje estavam quase me enchendo de beijos, e sussurrando coisas como "estão tão crescido" "nosso menino lindo".
Ignorei esse jeito estranho deles, desviando meu olhar quando a carruagem começou a se mover, eu só precisava pensar em um jeito de fugir dos meus pais ao chegar no salão em que ocorreria o baile, um salão enorme por sinal, já que várias outras pessoas de cidades vizinhas, como Charlottetown, viriam somente para o determinado evento.
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Cartas para Andy Cadman [LGBTQIA+]
Romansa*OBRA CONCLUÍDA* Era o começo de 1890, na ilha do príncipe Eduardo -Canadá- quando as famílias Cadman e Mackenzie resolveram tentar quebrar toda richa criada anos atrás, pelos seus ancestrais, mas ainda sim não se suportavam, mantinham sempre distân...