Meu sangue gelou por completo, enquanto um nó se formava na minha garganta ao vê-lo respirar com dificuldade enquanto tentava conter o sangramento, pressionando o ferimento. Me arrastei até ele na mesma hora, me encolhendo contra os tiros que ainda atingiam o chão perto de nós.
—Tyler? —Chamei, me erguendo o suficiente para ver o rosto dele inexpressivo e pálido, enquanto seu peito subia e descia com dificuldade à medida que a respiração escapava fraca pelos lábios trêmulos. —Merda, merda, merda... Tyler, o que diabos você fez? Por que entrou na frente dos tiros? —Ele trouxe os olhos até meu rosto, com algo tão caloroso ali que meu coração se rachou no meio. —Tyler foi atingido! —Cold olhou na nossa direção, enquanto Laís entrava no carro e pulava para o banco da frente. —Ele está perdendo muito sangue. Precisamos tirá-lo daqui!
Pressionei o ferimento de Tyler com as mãos, arrancando um arquejo rouco pelos lábios dele. Fechei meus olhos com força, sentindo as lágrimas borrarem meus olhos quando me recusei a pensar nele morrendo por minha causa. Por entrar na frente de tiros que não eram para terem o atingido e sim a mim, por uma desatenção minha em meio a situação caótica.
Cold se arrastou até onde estávamos, me tirando da frente para ver onde Tyler havia sido atingido, enquanto Laís ligava o carro e dava a volta, com ele sendo atingido por balas quando ela deu a ré até cobrir nós três da direção que os tiros vinham. Cold abriu a porta do carro, indicando que eu fosse primeiro. Me arrastei até subir no banco, me virando para ajudar Cold a colocar Tyler ali atrás comigo. Mesmo com os olhos abertos, ele não se movia, como se já estivesse morto.
—Nos tire daqui, agora! —Cold gritou para Laís, assim que entrou ali atrás e bateu a porta com força.
Os pneus cantaram quando Laís pisou no acelerador, desviando dos destroços e carros antigos na estrada, com movimentos bruscos que nos jogavam de um lado para o outro do carro. Cold pulou para o banco da frente junto com ela, enquanto eu me ajeitava até trazer a cabeça de Tyler até meu colo, ignorando a dor na minha perna para focar apenas nele.
—Pressione o ferimento! —Cold abriu um compartimento na frente do carro, me jogando uma toalha pequena branca. —Vamos levá-lo direto ao setor 1, assim que chegarmos!
Amacei a mesma entre meus dedos, antes rasgar a camiseta que Tyler usava, afastando a jaqueta para ver que o tiro havia acertado um pouco abaixo do seu peito. Pressionei a toalha ali, arrancando um gemido de dor dele, que moveu os braços até as mãos agarrarem as minhas. As lágrimas escorriam pela minhas bochechas, pingando como gotas de chuva nas minhas roupas sujas com o sangue dele.
—Me desculpa... Eu sinto muito. —Sussurrei, sentindo um gosto amargo na minha boca quando a toalha branca começou a se tornar vermelha aos poucos. —Mantenha os olhos abertos, Tyler. Nós já estamos voltando. Vai ficar tudo bem... —Minha voz falhou quando um soluço escapou pelos lábios. —Vai ficar tudo bem.
—Só fique comigo. —Pediu, com a voz saindo tão baixa que quase não ouvi. Meu coração se apertou, enquanto eu via os olhos dele perdendo o brilho pouco a pouco. Ele não deixou de encarar meu rosto por um segundo sequer, sem nem mesmo piscar, como se estivesse com medo de morrer sozinho. —Hannah...
—Eu estou aqui. Não vou deixar você sozinho, Tyler. —Afirmei, encarando o fundo dos olhos dele, enquanto sentia suas mãos apertando as minhas, com os últimos resquícios de força que ele tinha. —Por favor, mantenha os olhos abertos. Não me deixe sozinha aqui também. —Eu soltei um soluço, fechando meus olhos com força e encostando minha testa na dele, sentindo um medo irracional queimar nas minhas veias com o medo de que ele morresse nos meus braços. —Íamos cuidar um do outro, lembra? Você prometeu que nenhum de nós dois ia morrer hoje... Por favor... Só aguente mais um pouco. Não vou deixar você.
Senti as mãos dele apertarem as minhas ainda mais, enquanto meu coração se estilhaçava em milhares de pedaços.
[...]
Fechei meus olhos enquanto sentia minha cabeça latejar como se uma bomba fosse explodir nela a qualquer momento. Eu estava medicada e limpa, sentada naquelas camas estreitas e super altas da Zona Hospitalar. A enfermeira andava de um lado para o outro, separando os remédios que eu teria que tomar até estar 100%. Ela também fez milhares de recomendações, mas não prestei muita atenção, já que minha cabeça estava em Tyler desde que Cold me puxou para longe dele quando chegamos e não me deixou ver como ele estava.
—Você vai poder voltar pro seu setor, mas precisa ficar de repouso. Sem treinamento até os ferimentos estarem cicatrizados. — enfermeira murmurou, me fazendo balançar a cabeça positivamente. Não ia querer colocar a mão em uma arma tão cedo depois do dia de hoje mesmo.
—O outro rapaz que deu entrada comigo, como ele está? —Indaguei, porque estava desesperada por qualquer notícia de Tyler. A enfermeira olhou pra mim, desviando os olhos logo em seguida, quando comprimiu os lábios.
—Ele entrou em cirurgia. Mas vai ficar bem, apesar de ter perdido muito sangue. —Ela suspirou, enquanto eu descia da cama, fazendo uma careta com a rigidez da minha perna enfaixada. —Não vai poder receber visitas agora, então sugiro que se recupere, para então poder vir vê-lo.
Fiz uma careta para a sugestão dela, pegando minhas coisas e os remédio que ela havia deixado ali pra mim, antes de sair do quarto. Aqueles corredores brancos, assim como as pessoas vestidas de branco, me lembravam da primeira vez que acordei ali. Alguns deles olhavam pra mim a medida que eu passava, enquanto eu tentava andar o mais lentamente possível, já que minha perna doía um pouco.
Me escorei em uma das paredes, respirando fundo antes de esfregar as mãos na testa, sentindo o peso das últimas horas ameaçar me esmagar naquele momento. As portas mais à frente se abriram, revelando um Ethan descabelado e ofegante, como se tivesse vindo correndo assim que soube o que aconteceu. Soltei um suspiro de alívio na mesma hora, me sentindo muito melhor só de ver que meu irmão estava bem.
Ele pareceu aliviado quando me viu, caminhando na minha direção, com os braços se abrindo pra me receber. Porque Ethan me conhecia e sabia que era disso que eu precisava naquele momento. Grudei nele assim que o alcancei, escondendo meu rosto no peito dele, como se as últimas horas pudessem simplesmente desaparecerem da minha mente.
Continua...
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Em Destruição
General FictionO mundo sucumbiu as guerras e os países se tornaram ruínas. Agora, décadas depois, as pessoas precisam viver em zonas de contenção no subsolo, impedidas de ir além dos muros que cercam o complexo em que vivem. Cada um tem um papel crucial nessa nova...