Querido Diário: Socorro!

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-Te darei uma chance, mas porque a senhorita fala com muita convicção. Pedirei ao meu filho, e ao meu marido, que tragam alimentos, colchões, produtos de higiene e cobertores e roupas de cama. Meu filho tem uma caminhonete, então acho que poderão trazer bastante coisa. Mas se algo der errado, senhorita Mendell, você será a primeira a ser jogada aos mortos-vivos.

Aquela última frase da diretora da minha escola me assustou muito, tanto quanto a possibilidade de as ruas estarem cheias de não mortos. Ela parecia ter falado sério quando disse: " será a primeira a ser jogada aos mortos-vivos"...jogada. Ela pretendia me culpar caso algo desse errado, e a minha punição seria ficar à mercê de minha própria sorte, ou possível habilidade, que a minha adrenalina poderia me trazer.

Nossa diretora não era conhecida por ser uma mulher amável, e sim por ser muito severa e até mesmo cruel. Mas aquela última frase dela, além de me causar um arrepio nada confortável na espinha, me fez criar um medo e talvez até uma certa repulsa daquela mulher, que já tinha uma aparência, maltratada pelo tempo.

Tudo vai dar certo.

Tudo vai dar certo.

Tudo vai dar certo.

Só não deixe que te mordam.

Essa última afirmação atrapalhou meu mantra, invadiu meus pensamentos sem pedir licença. Só não deixe que te mordam...é um bom mantra num mundo cheio de monstros que anseiam por qualquer descuido seu, e então, eles devoram você, ou te transforma num deles. E sinceramente, eu não sei o que é pior.

Pouco a pouco, os pais dos meus colegas foram chegando, e eu fui espalhando a notícia pela escola para que mais famílias pudessem se salvar, mas claro, muita gente não quis dar ouvidos à uma adolescente.

Fiquei muito ansiosa até que meus pais chegassem com o carro completamente lotado de produtos de higiene e muitos alimentos. Por sorte, eles chegaram bem e me disseram que não havia nenhum desses monstros nas redondezas da escola, mas que era melhor nos prevenirmos.

Não achei que fosse prudente mandá-los de volta às ruas, então decidi que iriamos eu e Ayko, buscar os bichinhos dela.

-Você está maluca??? Quer mesmo correr risco de vida pra buscar os animais da sua amiga? O pai dela não pode simplesmente trazê-los até aqui?

-O pai dela não virá. E eu não vou deixar que você ou a mamãe saia de novo, acabaram de chegar... além disso eu sou menor e mais veloz que vocês, Ayko joga Futsal então também é bem veloz, por sermos pequenas, podemos nos esconder em lugares que você não pode. São só cinco casas à frente. Não vamos demorar.

-Eu não gosto nada da ideia. Ainda acho loucura. Aliás, por que raios o pai dela não virá? Ele é louco?

-Ele disse que ia retirar a Ayko. Ele é uma pessoa complicada, pelo que ela me disse, ele é um pouco severo demais, até mesmo violento, muito cabeça dura e só piorou depois que a mãe dele morreu. Ayko sofre um pouco nas mãos dele.

-Eu não sabia de tudo isso filha.

-Eu sei que não sabia pai, Ayko tinha medo de que eu contasse a vocês e você, como juiz, poderia querer tomar providências e sabe Deus o que ele poderia fazer com ela. É por isso que ela passava tanto tempo lá em casa. Pra fugir da dela, fugir dele. E lá era o único lugar que ele liberava para que ela fosse, o único lugar que ele confiava em deixá-la, inclusive para dormir.

-Claro, porque eu sou juiz.

-Também por isso, mas ele também me conhecia, eu fui lá diversas vezes, e ele já foi em uma das suas reuniões lá em casa, conheceu você, mamãe e a nossa casa, então criou alguma confiança em nós.

Diário do apocalipse: Não Deixe Que Te Mordam.Onde histórias criam vida. Descubra agora