Capítulo Catorze

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Abrir os olhos foi uma enorme luta. Parecia que meus olhos foram colados com cimento ainda há pouco. A primeira coisa em que foquei foi no que estava no meu colo. Uma pequena mancha vermelha. Uma única mancha. Pequena demais. Parecia sangue.

Mas quando pisquei, a marca sumiu. Minha cabeça doeu. Olhei para o lado direito e vi apenas uma cortina branca. Eu devia estar no hospital. Nenhum quarto na Katharine é assim, branco.

Ao olhar para a esquerda me deparei com uma pessoa. Ele estava em uma cadeira de plástico, daquelas velhas e que não deixa ninguém confortável, Eu não o conhecia, mas ele estava lendo um gibi da Marvel. Não consegui ler o titulo. Minha cabeça ainda latejava, começava dos lados e atrás dos olhos... Parecia que eu havia caído de um lugar bem alto e ouvido alguma coisa que fez meus ouvidos ficarem com esse zumbido. Um barulho estridente.

Mas claro que sei o que aconteceu e me parece impossível que depois de ter desmaiado no meu próprio vômito, eu esteja vivo. E limpo. Ah, droga, alguém me limpou. Sinto minha vergonha crescer e imediatamente quero sumir.

O garoto que lia percebeu que eu estava desperto e veio até mim. Ele usava o uniforme da Katharine. Um aluno.

Pisquei para afastar a ardência atrás dos meus olhos. Malditas luzes fortes.

— Como você está?

Eu ainda precisava de tempo para descobrir.

— Bem — acabo dizendo —, quem me trouxe?

— Eu. E Fênix. E Linda.

Acabo gemendo de frustração. Linda. É claro.

— Ela está lá fora há alguns minutos — o estranho diz —, conversando no telefone. E Fênix teve que voltar para a escola porque ele ainda tinha trabalho a fazer. Ele também não gosta de hospitais.

— Entendo ele — digo e o estranho ri.

Sinceramente, eu ainda ouvia o zumbido nos meus ouvidos e ainda sentia cheiro de vômito. Eu queria voltar a dormir, mas não sentia mais vontade de fazer isso, sentia vontade de fazer perguntas.

— Você me achou?

— Sim.

— E eu estava...

— Com a cara no vômito. Literalmente.

Franzo o nariz.

Não acredito...

— Quem fez aquilo? Você podia ter morrido.

— Nicholas — resmungo.

O estranho, que analisando melhor já que está mais perto de mim, tem cabelos pretos que vão até um pouco das sobrancelhas. E os olhos dele são castanhos intensos. Mas não com pontinhas verdes no centro, nem parecem castanho-avermelhados. Um tipo simples de castanho, mas que é bem bonito. Ele matinha um sorriso no rosto. Até mesmo quando falei de Nicholas.

Meu estômago afundou e me perguntei na possibilidade de vomitar mais coisas sendo que não comi nada.

Minha boca secou.

— Você é amigo dele? — Em outras palavras: Está aqui para terminar aquela brincadeira?

O sorriso dele morreu um pouco.

— Não. Ele também já fez uma brincadeira comigo. Estou na lista dele. Somos dois, ao que parece.

Acabo rindo e isso faz uma pontada de dor surgir nas minhas costelas. Então me lembro de algo.

— Linda... Ela me viu?

— Viu. Mas não viu seus hematomas. Eu vi quando... Enfim... Eu te levantei e vi.

Entrelinhas (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora