"A vida é um sopro..." queria eu ter entendido isso antes de perder você.
Capítulo 1
Luto contra a falta de ar que sinto depois de correr 15 quarteirões, quando recupero o fôlego e entro no saguão do hospital não paro para verificar quantas horas são, o relógio é o meu completo e o mais cruel inimigo hoje. Na recepção a mulher sentada atrás do balcão me olha aliviada e com pena ao mesmo tempo.
-Achei que você não iria aparecer - diz ela em um tom de tristeza que me dói o coração.
A realidade do que vai acontecer hoje, mais especificamente daqui 7 minutos, me atinge pela primeira vez no dia.
-Não perderia o show por nada- digo ironicamente, pois é meu mecanismo de defesa que mais utilizo. E ela sabe disso.
-Eles estão apenas te esperando- ela faz uma pausa como se decidesse o quão suas palavras pesavam naquele momento - e ela também.
Aquilo da uma fincada em meu peito que tenho que me segurar no balcão para não transparecer que o fato de que ela, em especial, não vai estar totalmente presente no que facilmente entra em primeiro lugar como o dia mais torturante da minha vida. Temo esse dia des do dia em que nós assinamos nossa sentença de morte.
-Eu sei.- minha voz não carrega mais o mesmo tom de ironizismo de antes, ela está banhada em cansaço e dor.
Vou andando até o elevador que já estou tão familiarizada. Não comprimento os enfermeiros e os médicos enquanto faço toda a minha trajetória até aquele maldito quarto, todos aqui me conhece bem, no começo eu trazia café para os enfermeiros que cuidavam dela, mais com o decorrer desses 2 meses, foi como se a luz ou o brilho, como ela dizia, fosse se esvaindo de mim a cada vinda até aqui. E acho que eles perceberam porque agora só recebo olhares de tristeza e pena enquanto ando pelos corredores do hospital.
Enquanto vou até a ala da UTI, lembro da primeira vez que andamos por esses corredores, ambas em cadeiras de roda, lembro que ela disse que hospital tinha cheiro de vida, porque de acordo com ela nos hospitais muitas pessoas morrem, mais muitas pessoas vêm para cá achando que vão morrer e saem daqui com um sorriso no rosto e curadas. Lembro que disse pra elas que seríamos uma dessas pessoas, acho que mais uma vez a decepcionei.
Sinto meu celular vibrar no meu bolso e vejo o nome de sua mãe na tela.
-Oi querida - escuto sua voz embargada como se tivesse chorado por horas.
-Oi - minha voz sai fraca mais gentil.
-Ja está quase na hora. - ela diz, E não foi uma pergunta - voc... você pode dar um beijo nela por mim antes dela... quer dizer eles...
-Claro que eu posso- a interrompo antes que ela comece a chorar outra vez. Quase sorrio com a lembrança de quanto eu e ela zoavamos sua mãe por ela ser tão manteiga derretida.
-Bom querida, eu já vou desligar, não acho que conseguirei falar por muito tempo - diz já chorando.
- Quando eu sair daqui eu te ligo - ela murmura oque eu penso ser um sim e desligamos.
Estou a um corredor de distância de seu quarto, já consigo ver a plaquinha que escrevemos com seu nome na porta, sorrio ao lembrar dela subornando e fazendo chantagem emocional com os médicos para deixá-la por a plaquinha na porta, seu nome está escrito com uma letra de dar inveja e umas borboletas enfeitando em volta, Ayla não fazia ideia do quanto aquele quadro causou problemas com as crianças que queria fazer o mesmo, só que nas paredes.
Sabe aquela vontade de querer voltar no tempo, nesse momento eu daria até a minha propria vida só pra poder ter pelo menos mais 1 minuto com ela.
4 meses atrás