1/2: não é fácil ser lindo

749 83 65
                                    

Prazer, meu nome é Park Sunghoon. Tenho 17 anos e, alguns dias atrás, comecei meu último ano do Ensino Médio numa escola nova.

Olha, não me entenda mal, mas... eu sou muito bonito. Não tem como negar. E não é sobre narcisismo, é simplesmente um fato. O problema é que, por mais tosco que isso possa soar, tenho dificuldade de fazer amigos, já que a maioria dos garotos tem inveja de mim e a maioria das garotas só tem interesse no meu rosto.

Eu não fui solitário durante a minha vida escolar inteira, porém todos os meus amigos me abandonaram em algum ponto. E, meio que entendo um pouco o lado deles...? Afinal, já que eu morava numa cidade pequena, praticamente toda atenção (principalmente, a feminina) era voltada para mim, então eles se sentiam em desvantagem e acabavam por me excluir.

Viu só? Não é tão fácil ser lindo.

Apesar de inicialmente ficar magoado, simplesmente me acostumei a isso, mas minha mãe, não. Cansada de me ver sozinho, ela resolveu que eu moraria com meu pai em Seul, porque, de acordo com a Dona Yoojin, na cidade grande haveriam mais garotos bonitos e, por isso, as pessoas estariam mais acostumadas com muita beleza (?). Infelizmente, falhei em convencê-la a mudar de ideia e deixei minha cidade natal para trás.

Agora, a pergunta que não quer calar: a teoria de minha mãe estava certa? Sinceramente, ainda não sei. A parte de ter mais meninos bonitos é verdade. Inclusive os dois garotos que me adotaram, Jake e Jay, fazem bastante sucesso na escola. Entretanto, notei que recebi praticamente a mesma quantidade de atenção que já recebia antes, mas talvez isso não aconteceria com tanta intensidade se eu não fosse aluno novo.

Hoje foi meu décimo dia de aula e estava indo para o portão com os dois garotos.

— Hey, Sunghoon. — O australiano moreno chamou-me. — Eu e Jay vamos encontrar uns amigos no fliperama mais tarde, quer ir com a gente?

— Pois é, os meninos vão gostar de conhecer você! — O loiro complementou, tentando me encorajar a ir.

— Poxa, hoje não vai rolar. Tenho que levar minha cadela ao veterinário para tomar umas vacinas, foi mal. — Respondi naturalmente com a primeira desculpa que me veio à mente. Desculpa por te usar, Gaeul!

— Ah, que pena. — Jay lamentou e até fiquei com peso na consciência.

— Eu sei como é... — Jake, que descobri também ser pai de pet, disse e me deu tapinhas nas costas. — Fica para a próxima, então!

— Tudo bem, aproveitem! — Falei, mas sei que vou continuar fugindo do convite, e separamo-nos.

Não é nada pessoal (é 100% pessoal), porém, caso começasse a passar muito tempo com os dois, eu poderia acabar por me apegar e seria mais difícil quando eles fossem embora. Por isso, prefiro manter nossa relação restrita à escola. Continuei caminhando pelas ruas e avistei um filhote de gatinho extremamente fofo. Tentei chamar sua atenção e falhei miseravelmente, então aproximei-me lentamente. Entretanto, o bichano saiu de perto de mim e decidi segui-lo, eu só quero fazer um pouco de carinho!

Entre uma rua e outra, ele desapareceu e foi aí que percebi que havia me perdido. Parei de andar e vi que estava num local relativamente vazio. Dei um leve tapa na testa, repreendendo-me por ter pensado que um garoto do interior seguindo um gato por Seul seria uma boa ideia. Decidi achar o caminho certo pelo Google Maps, logo, tirei meu celular da mochila.

Foi nesse momento que comecei a ouvir vozes masculinas por perto e, pouco depois, os donos delas saíram de um dos becos à minha volta. Reconheci seus uniformes, eram da mesma escola que eu. Por algum motivo, meu sexto sentido acendeu e senti que seria melhor sair dali. Antes que os garotos me notassem, virei de costas e tentei ir embora discretamente, pelo mesmo lado que cheguei. No entanto, infelizmente, a vida nem sempre é fácil assim.

— Hey! Garoto, chega mais! — Ouvi uma das vozes ditar e olhei para trás, ainda com esperanças de que o "garoto" não fosse eu, porém todos estavam me encarando.

— Sim? — Perguntei, confuso e um pouco ansioso, afinal eu não teria chance contra cinco caras, caso quisessem brigar.

— Você é Park Sunghoon, né? O novato da roça. — Notei certa soberba em seu tom de fala e todos eles começaram a se aproximar.

— Sou. E você é...? — Ele pareceu um pouco perturbado com minha resposta e parou a um metro de mim, mais ou menos.

— Sou Lee Jaewon e vou te explicar como as coisas funcionam no colégio. — Essa é uma frase clássica de moleques arrogantes e mimados, não é? Que cringe.

— Olha, foi legal te conhecer, mas tem como a gente fazer isso outra hora? Eu tenho um compromisso daqui a pouco e tô com pressa... — Usei minha justificativa favorita e atuei para deixá-la mais convincente, já virando-me para ir embora.

— Ei, espera um pouco, cara. Não vamos demorar. — O tal de Jaewon falou e, ainda de costas para ele, revirei os olhos. Virei-me de novo para frente e encontrei-o sério. — Primeiro de tudo, quero deixar claro que tudo naquele colégio é meu. Por isso, fiquei bem ofendido quando um qualquer do interior chegou achando que poderia roubar algo que não é dele.

Calma, roubar algo que não é meu? Mas o conceito de roubar automaticamente envolve pegar algo que não é meu... Ignorei o pleonasmo e tentei não rir do jeito esnobe do Lee, então decidi entrar no joguinho dele.

— Hum? O que eu acho que posso roubar?

— Não se faz de bobo, Park. Você acha que não te vi dando em cima da Hwang Minhye? — Mas eu nem sei quem é essa... — Fique sabendo que ela é minha, garoto.

— Uou, uou, uou, espera aí. — Resolvi interrompê-lo, foram muitas besteiras para ouvir de uma vez só. — Primeiramente, eu não faço ideia de quem seja essa garota aí. Segundamente, seja quem for, não é nada legal sair falando como se ela fosse uma propriedade sua. Apesar de não a conhecer, tenho certeza de que ela não gostaria de ser tratada como um objeto. — Falei com firmeza, esse cara já estava me dando nos nervos.

Percebi que ele ficou ainda mais irritado com minha fala, provavelmente porque ficou sem argumentos, porém não me intimidei com seu olhar pegando fogo. Vi Jaewon cerrar os punhos e, furioso, vir até onde eu estava.

— E quem você pensa que é para me dizer o que fazer, hein?! — Ele esbravejou e foi mais rápido do que esperava, então só percebi que eu havia sido empurrado com força quando fui de encontro ao chão.

Minha mão ardeu contra o asfalto, ficando arranhada, e minhas costas doeram pelo impacto. Sem que eu pudesse me defender, o Lee levantou uma perna para me chutar e esperei pelo baque, porém ele foi interrompido por uma voz feminina, assustadoramente furiosa:

— Yah, Lee Jaewon... — Todos olhamos para a dona da fala e vi uma garota loira que aparentava ter a nossa idade, usando um uniforme do nosso colégio. — Perdeu a cabeça?

pretty boy; sunghoonOnde histórias criam vida. Descubra agora