Capítulo Único

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(TW: Violência, violência sexual, traição, relacionamento abusivo.)


Tudo começou quando eu ainda tinha 16 anos. Foi ali que eu a conheci. Era engraçado, porque... ela tinha 10 anos a mais que eu mais ou menos ou quase, então, ela já era uma adulta. E ela era tão linda que eu fiquei bestificada assim que a vi. Sua pele era pálida, mas seus cabelos eram negros. Eles eram muito, muito escuros e compridos e ondulados, com cachos na ponta, chegavam a quase até a cintura. E seus olhos eram de um azul-claro absurdamente aterradores. É sério, eles davam calafrios, ainda mais pela maneira que ela olhava, como se desnudasse sua alma por completo.

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- Bethany, leve para a mamãe as luvas de treino da Srta. Valerie.

E assim eu as levei. Todos estávamos ali, naquele centro de treinamento para pessoas especiais. E eu era uma também, apesar de não dar pra ver na cara. A grande maioria não dava, mas o meu era um "engana trouxa". Isso porque o meu corpo era estupidamente normal para uma garota da minha idade, tamanho, porte físico, etc. Mas a minha força... ela era sobre-humana.

Quando cheguei naquela sala de treino físico, uma quadra coberta, ela estava lá. Tinha feito um rabo-de-cavalo, mas mechas cacheadas escuras teimosas escorriam pelo seu rosto. Suas bochechas também estavam vermelhas, e ela estava suada e ofegante, praticava exercícios.

- O-olá. - eu disse, receosa. Tudo nela me deixava nervosa.

- Oh, olá. Você é Bethany, filha da Sra. Charleine, certo?

- Certo.

- Prazer em conhecê-la, Bethany. - e a vi me encarar com uma expressão um tanto quanto... ahm... provocante?

Ou isso, ou era coisa da minha mente. Eu pensei na época.

Mas depois descobri que não, não era...

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Os poderes de Valerie não eram normais. Aliás, eu fiquei por muito tempo tentando entender como eles funcionavam. Às vezes, eu achava que ela podia ler mentes. Outras, eu achava que ela podia CONTROLAR mentes. Mais adiante, me deparei em pensar que ela tinha controle sobre a líbido das pessoas. E depois, percebi que não era só a líbido que ficava afetada. A questão era... ela conseguia o que queria, quando queria, de quem queria... bastava olhar para seus olhos e falar com calma.

É sério.

E eu ainda não conseguia entender.

Aquela vez que aquele homem encontrou a gente conversando naquele beco no meio do centro da cidade e ele parecia armado e pronto pra nos assaltar, raptar, estuprar e sei lá mais o quê. Ela encarou ele com seus lindos olhos azuis e apenas disse:

- Ei, você não quer isso.

- E-eu... e-eu quero... - ele respondeu, ao olhar pra ela, tão linda, tão bela. Ela parecia uma daquelas sereias que levavam os homens a se matar no mar (e eu não imaginava o quanto).

- Não, você não quer. Você quer... me dar essa arma, certo?

- E-eu... e-eu...

- Sim, você quer... aproxime-se. - e ele veio andando pra perto dela, e eu fiquei com o coração na mão. Porra, aquele homem, a qualquer instante, podia dar a louca e atirar nela. Eu tentei dar um passo, mas ela estendeu a mão pra mim como se me ordenasse a parar, e eu parei.

Era difícil não obedecê-la, mesmo que não fosse eu a olhar para seus olhos.

O homem aproximou o suficiente para... estender a arma pra ela. Sua mão tremia como se ele tivesse parkinson, mas por algum motivo, eu tinha certeza que ele não tinha, não. Ele tinha era nervoso. Nervoso do caminho tortuoso que aqueles olhos penetrantes estavam fazendo consigo... com seu cérebro, com seu coração, com sua alma.

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