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Janet

Janet

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Doía. Ainda doía ouvir aquelas palavras soarem tão nitidamente por meus pensamentos. A noite caia em sua profunda escuridão enquanto eu ainda tentava dormir um pouco para amanhecer decente no outro dia. Fortes dores me atormentavam e o lençol sobre a cama já havia secado das inúmeras lágrimas derramadas.

Eu só queria conseguir conviver naquele casamento. Tudo parecia estar indo como os conformes, queria ao menos aparentar ser uma boa esposa para ele e poder demonstrar desejar conhecê-lo melhor. Quem sabe talvez, amá-lo um dia. Por mais que isso parecesse inalcançável no momento, ma estava cada vez longe.

Minha respiração não seguia seu percurso natural e causava apertos em meu peito com sufocos agoniantes. As malditas crises de ansiedade me perseguiam novamente. Os sintomas familiares assolavam meu corpo fraco na ligeirice de uma vela ao se apagar. Toda vez que uma situação fosse forte o suficiente para me irritar ou entristecer, aquilo vinha. Segurei por muito tempo meus ombros e lembrei da mamãe.

A porta continuou fechada desde a saída dele e apenas troquei de roupa por algo mais confortável. Meus olhos seguiam rumos entre o teto e as sombras através das cortinas que se moviam com a janela entreaberta. O quarto tinha seu tom melancólico e não sobrava espaço para bons pensamentos.

Pensei em fugir, em ir para os braços de papai e não precisar sair de lá até que tivesse esquecido tudo isso. Doeria novamente olhar-lhe e ter que chamá-lo marido. O homem que deveria me honrar como esposa duvidava que eu fosse irracional demais para criar um filho seu. Uma criança tão minha quanto dele, do meu sangue e retirada de meu ventre não escaparia de meus braços por ideais equivocados do homem. Maldito.

Já não bastassem os comentários indesejados de Nara e dos parentes, vinha também a desconfiança de quem deveria confiar em mim. Um peso mental desgastante demais. Algo que não deveria ser mencionado entre conversas públicas, pois seu quadro final levava ao estado hostil da loucura, segundo eles. Problemas emocionais deveriam ser cravados sob à terra dos pés.

No outro dia, não o vi durante a manhã e busquei refúgio no meu novo paraíso. Papai mandou preparar uma pequena área no jardim, quase idêntica à antiga, para procurar sempre que precisasse. Tinhas árvores de pequeno porte bem podadas, flores em grupos separados para cultivo, grama verde espalhada e acesso aberto ao céu para ouvir passarinhos cantarem sem precisar prendê-los numa gaiola.

Apenas pude sorrir triste ao estar ali tão cedo. Não pensei que fosse buscá-lo no segundo dia de casamento. Se pudesse passar o dia todo reservada ao lugar, seria tão bom quanto poder dormir sem preocupações.

Dália olhava para um livro em mãos sem ficar muito longe e eu não pude convencê-la a ficar sozinha um pouco. Era como se fosse desaparecer caso alguém me deixasse. Já havia enfrentado situações demais para fugir em uma como essa. Sentia medo do que poderia fazer. Sentia medo de mim mesma. Então a deixei ali.

MARQUESA • kthOnde histórias criam vida. Descubra agora