CRÔNICAS - Ecos da imaginação

13 - FOME

Me dispus a escrever a respeito da forma mais natural de prolongar a vida humana. O sustento inato do viver. Uma hierarquia universal. No entanto, dentre toda a espontaneidade de tal sobrevivência, jamais ousarei considerar trivial. Refiro-me ao que você, caro leitor, faz diariamente sem dar-se conta. Comer.

Por que você come? Por que eu como? Simplesmente pela razão de seu corpo, perfeitamente e intuitivamente, produzir sensações, desejos e a necessidade de nutrir.

Comemos porque sentimos fome. Fome. A palavra mais repetida do meu vocabulário! Mas o conceito, fome pode ser muito mais abrangente do que você imagina. Principalmente para quem sofre pela comida. Seja por não tê-la, seja por temê-la. Lamentavelmente, milhões de pessoas hoje no mundo não tiveram o que comer. A fome foi sinônimo de desespero, angústia e até mesmo solidão. Mas, terrivelmente milhões de pessoas ainda hoje, ao deparar-se com uma mesa farta, escolheram sentir fome. Qual o pior? Os dois. A falta, por não ser escolhida machuca e a restrição por ser optada destrói.

Por qual razão pessoas optam por tal escolha? Por medo. Medo das consequências que um simples carbo pode trazer. Veja bem, não estamos falando de algo supérfluo, mas sim algo sério e de extrema importância pautada. Escolher sentir fome, para satisfazer o prazer de ser magro. O prazer de finalmente, se encaixar em padrões. Essa é a verdadeira consequência do desequilíbrio alimentar! Como se o mundo inteiro houvesse perdido a noção. E o mundo inteiro acreditou que para ser realmente feliz, é necessário emagrecer.

Para mim, sentir fome é lembrar que, milhões de seres humanos, iguais a mim, sentem por carência e eu, por medo. Medo dos efeitos que saciá-la trará. Sentir fome, um sinal tão necessário, mas tão comprometedor.

Espero um dia poder me relacionar melhor com tal sensação. Espero poder considera-la natural. E poder agradecer tal necessidade como fonte de vida!