Capítulo 8 - Then we'll do it one more time

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[POV Sue]

Nos últimos dias eu tenho sentido muitas coisas, mas sempre que meu corpo era consumido pelo medo e pelo incontrolável desejo de me isolar, eu corria pro Ben e pra Nat. Até Jane tem me ajudado, afinal, nós compartilhamos o mesmo quarto e fica difícil "esconder" algumas coisas, — como quando eu não consigo parar quieta e fico andando pelo quarto sem parar — e ela se revelou uma ótima conselheira, e até então amiga também. Amigos, era estranho ter amigos além do Ben, — os poucos momentos em que senti isso foram há tanto tempo que não passam de uma lembrança vaga — mas era bom. Quarta-feira foi bom, as coisas aqui são boas, tá tudo muito bom e isso me assusta. Me assusta porque sempre que alguma coisa tá indo muito bem, algo ruim acontece — normalmente, na minha vida, alguém morre.

Ok, são pensamentos bem sombrios pras dez da manhã de uma sexta-feira, mas cá estou eu com as minhas costas doendo de ficar deitada nessa cama. Checo minhas mensagens e nem Ben, nem Emily responderam, devem tá dormindo ainda. Por pensar em Emily, — como se eu já não pensasse constantemente, ha! — os momentos com ela tem ficado cada vez mais... especiais, e de novo, medo. Quando ela sentou do meu lado na quarta-feira, eu juro que as palavras de Woolf "nenhum rapaz teve, nunca, olhos daqueles, que pareciam pescados do fundo do mar" invadiram a minha cabeça — e por pouco, não recitei. Mas em minha defesa, era magnífico como os olhos de Emily variavam as tonalidades — às vezes mais castanhos, às vezes mais esverdeados. Não, eu não acho que ela seja um vampiro, até porque ela pega sol e não brilha, pelo menos não do mesmo jeito que o Edward Cullen.

Tenho tentado seguir o conselho de Ben e "não desviar dos meus sentimentos ou enterrar eles", mas nem sei onde isso vai dar. É óbvio que eu gosto de estar com a Emily, gosto de beijar o seu rosto e segurar sua mão. Mas, ainda sinto um bloqueio absurdo quando se trata de me expressar em palavras — talvez, por isso, não tenha conseguido tocar no assunto da festa até hoje, nem planejo. Pelo menos, eu consigo entender algumas coisas que sinto, não consigo expressar, mas só de entender já é algo... se bem que quando se trata de Emily, são sentimentos completamente inéditos pra mim, então eu não entendo a maioria deles. É, muitos pensamentos pra uma manhã. Deveria tentar dormir mais porque hoje tem a festa, mas já fiquei tempo demais nessa cama. Levanto, pego minhas roupas, vou pro banheiro, me troco, checo se Jane ainda tá dormindo, — e ela tá, como sempre — e ao invés de ir ao quarto do Ben, como toda manhã, entro no elevador e decido caminhar pelo campus. O aparelho para no sexto andar, como se dissesse "têm certeza que não quer acordar o Ben?", mas para minha surpresa, quem entra nele é ninguém mais, ninguém menos, que Austin Dickinson.

- Bom dia, Austin. - expresso a maior cara de deboche que posso.

- Bom dia, Sue. - ele responde, as bochechas semelhantes às maçãs que Emily come. - Dormiu bem?

- Dormi sim, mas sabe... meu vizinho do andar de baixo tava meio barulhento. - falo, era mentira, mas a expressão de Austin foi cômica.

- Meu Deus me desc - ele tenta, mas só tenta mesmo. - Relaxa Austin, eu tô brincando. - falo, ele coloca a mão no peito e respira fundo.

- Então, o nosso garoto já acordou?

- Acho que não, eu disse que precisava ir e ele respondeu alguma coisa indecifrável e virou pro canto, então.... - ele finaliza a frase levantando uma sobrancelha.

- É, ele tá dormindo mesmo. - A porta do elevador abre e nós dois saímos. - E você, indo pra organização?

- Sim, já tô meio atrasado. - ele fala, agora abrindo a porta do saguão e dando espaço pra eu passar. - Mas faz parte, e você, precisa de carona pra algum lugar?

- Não, eu só desci pra caminhar um pouco. - caminhamos lado a lado - O horário do café já acabou, então vou esperar o do almoço...

- Entendi. - ele fala e sorri. Nós continuamos caminhando e por um momento me pego observando Austin. Ele é esteticamente parecido com Emily, se eu não soubesse da diferença de idade, talvez até achasse que eles são gêmeos. Aus sempre sorria e estava sempre disposto a ajudar todo mundo, ele passa essa sensação desde o primeiro dia no refeitório. Na verdade, cada Dickinson é tão excêntrico e genuinamente lindo que me faz ter um pouco de inveja da genética deles — é claro, isso é mérito única e exclusivamente deles, por serem pessoas tão gentis e fofas que a beleza física só aumenta.

900 segundos de tensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora