Especial (Kara's View)

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Estava incrivelmente cansada. Cat realmente tinha esgotado tudo de mim com esse projeto. Contudo, ter projetado e acompanhado a obra de forma minuciosa para que tudo estivesse nos conformes e no seu gosto, foi um prazer. Poder mostrar para minha mentora, a mulher que me treinou e me fez quem eu sou hoje no mundo da arquitetura, o quanto eu aprendi e ainda continuo a aprender com sua implicância e cisma, seus ensinamentos por assim dizer, é verdadeiramente revigorante. Além do mais, Cat não foi somente uma mentora para mim, é também uma grande amiga, a qual me ajudou em meus momentos mais sombrios e impediu-me de cometer quaisquer loucuras. Ligou-me por longas e longas noites, permitindo assim que a minha estadia em Milão não fosse tão... fria. Tinha-a como uma figura quase que materna e por tudo o que ela me fez eu sempre serei eternamente grata.

Aperto meu ombro em uma espécie de massagem, estava tensa e só queria voltar logo para casa. Olho em meu relógio, o trem chegaria em alguns minutos. Apresso o passo, porém acabei me esbarrando com alguém. Minha mala caiu e os pertences em sua bolsa espalharam-se pelo chão.

Eu sabia. Sabia que estava perdida no momento em que meus olhos encontraram os seus. Quem diria? Kara Danvers atraída por uma das modelos mais conhecidas de Paris? Uma parte do meu coração me pedia para me afastar, mas a outra para conhecê-la e mergulhar na imensidão que aquele olhar me olhava.

O cansaço pareceu esvair-se do meu ser somente com o seu sorriso.

Se ficasse mais um centímetro que fosse perto dela eu sabia que não teria volta. Mas, por uma obra do destino, em um descuido de atenção, troquei nossas malas por acidente e assim que me dei conta do que fiz eu soube que a veria novamente.

...

A cada dia que passava eu me encantava cada vez mais por Lena. O jeito em que ela me olhava sempre transmitia tanto desejo e curiosidade que sua mera presença já deixava-me inquieta. A queria. Deus, como eu a queria.

Mas eu não podia. Estava prometida. Prometida a outra mulher. Mulher esta, que não me fazia sentir metade das emoções que sentia por Lena. Tentei por alguns meses me aproximar de Lucy, quem sabe assim conseguiria sentir-me feliz. Entretanto, quanto mais eu tentava me aproximar, mais toda essa encenação parecia-me forçada. Talvez seja porque era. Nunca quis me casar com alguém que não amo e certamente não faria isso por Jeremiah. Se estava tentando, fazia por minha mãe.

Afastei-me de Lucy. Estava contente em ficar sozinha, não precisava me casar. Lori era tudo o que me importava e eu via como ela tentava tratá-la bem só por ser minha filha, mesmo odiando crianças. Se a minha própria filha não estava contente com uma mulher que nem mesmo eu amo, eu não insistiria nesse acordo estúpido.

Voltei ao meu isolamento pessoal, mas então Lena chegou na minha vida, a virando completamente de cabeça para baixo. Sentia-me confusa. Como posso entregar-me assim tão abertamente a uma mulher que claramente não conheço direito? Como posso atrair-me facilmente por seu jeito e suas feições? Lena cada vez mais conquistava um pedacinho diferente em meu coração e aquilo me assustava. Como posso ter certeza de que não serei somente uma simples noite e que no dia seguinte ela me olhará como se o que houve entre nós não significasse nada? Acho que sofri o suficiente nessa vida por conta de Michael e não sei se aguentaria ver aqueles olhos me olharem um dia sem um pingo de amor. Seria demais para mim.

Mas eu sabia. Sabia que Lena não era assim. Era pura demais para tal e apaixonar-me por ela tornou-se tão simples quanto o cair de folhas no outono.

...

Por toda a minha vida eu fui frustrada. Jeremiah não mostrava sequer uma emoção para mim e para Alex e quando mostrava era decepção e desgosto e por muitos anos eu não entendi o porquê e acredito até hoje não entender. Por isso sou muito grata a Alex e doeu-me quando soube de Lena que ela havia perdido o irmão de forma tão cedo. Não sei o que seria de mim sem a minha irmã mais nova.

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