Único?

100 6 0
                                    

Era mais uma das noites festeiras e costumeiras entre os fundadores, brindes e risadas, a música que percorria todo salão, os casais dançando e um chamava a atenção de todos em particular.

Um homem dos cabelos brancos e longos, seu terno impecável da cor vermelha com detalhes em dourados combinavam com os olhos do mesmo, uma pele tão pálida quando a luz da Lua que iluminava a noite; Tsukinami Carla, o herdeiro do trono chamava a atenção de todos ali junto de sua acompanhante. A garota tinha os longos cabelos escuros como as trevas, mas seus olhos azuis tão claros quanto o céu, o vestido vermelho sangue combinando com seu par que rodava e se destacava entre os demais junto das joias feitas a ouro.

O nada recente casal sempre se sobressaiam em bailes por sua dança impecável e química, para os dois o mundo parecia parar e ficavam sós naquele salão. Assim que a música cessou os aplausos foram audíveis retirando os dois de seus mundos.

— dessa vez tenho certeza de que não ando mais — a mulher comentou se sentando em uma das cadeiras enquanto se abanava com o leque.

— cadê a Azura que adorava dançar a noite toda? — perguntou irônico enquanto bebericava a taça de vinho sem tirar os olhos da mesma.

— creio que essa Azura esta adormecida a tempos. — respondeu com tranquilidade aproveitando o suave vento.

— esta gostando? — Carla caminhou para o lado esquerdo dela se abaixando na altura de seu ouvido — ou quer dar uma volta?

— a segunda opção me parece mais agradável. Receio que seu pai e o meu não deixarão. — escondeu sua boca com o leque enquanto encarava a direção dos pais de ambos que tinham uma conversa agradável.

— tudo bem, acreditei que gostaria de caminhar perto do jardim comigo, ver as estrelas. — Se levantou a encarando de canto de olho, sabia as coisas favoritas da mesma, usava e abusava disso quando queria.

— te encontro em cinco minutos. - se levantou indo para fora misturando-se no meio da multidão.

O platinado apenas riu dela e esperou um pouco terminando sua taça de vinho, olhou Shin, que conversava com sua noiva, e fez um sinal com a cabeça em que foi entendido rapidamente pelo mais novo, Carla saiu da festa indo ao encontro de Azura enquanto Shin estava alerta sobre os dois patriarcas das famílias.

— supus que não viria. — comentou Azura enquanto mexia nos próprios cabelos, fazia isso quando estava nervosa ou receosa.

— não te deixaria sozinha, por nada. — ele a abraçou por trás a acomodando em seus braços — o que afliges minha rainha?

— essa coisa toda dos boatos sobre o tal Endziet — suspirou pesado olhando as estrelas.

— é para ser uma noite agradável, não uma noite para se preocupar — tocou suavemente a ponta gelada no nariz da noiva que sorriu se virando de frente para ele.

— você é a minha Canopus — repetiu o gesto do nariz com ele observando a feição Confusa.

— me lembre de estudar mais sobre as estrelas — ele comentou ainda confuso enquanto ela ria.

- uma das estrelas mais brilhantes que existem e conhecida por guiar também. Você é a minha estrela guia - os olhos azuis estavam fixos nos amarelos.

- às vezes creio ser o inverso. - ele comentou acariciando o rosto feminino.

- obrigada por estar comigo. - ela disse baixo encostando sua cabeça no peito do maior.

- sempre vou estar com você, é uma promessa e eu não as quebro - disse serio.

- sei disso, estaremos sempre juntos mesmo que não fisicamente. Minha estrela estará sempre perto da sua. - levantou a cabeça recebendo um selar na testa.

- uma amor nunca morre, ele apenas deixa de respirar. - sorriu limpando as lágrimas que caíam de Azura.

- espero que por mais que o nosso amor não respire mais, estaremos juntos. - sua voz saia chorosa, algo doía dentro de si internamente.

Essa foi uma das noites que mais marcou o casal, por mais que uma estrela se Apague, ela será lembrada por aqueles que a viram.

" Quando sentir saudades, basta olhar para as estrelas, serei a mais brilhante e vou iluminar seu caminho"

Essa foi uma das frases que Azura sempre dizia, por mais que Carla não entendesse o fascínio dela pelas estrelas, admirava isso nela.

{...}

Aos poucos tudo que era tão cheio de vida e cor foi acabando, todo o Reino sofreu com aquilo que diziam ser apenas simples boatos para que amedrontassem os outros de coração e mente fracas.
Tudo aquilo se virou de cabeça pra baixo e parecia estar cada vez pior com as guerras e incontáveis mortes. Logo os únicos sobreviventes dos Fundadores eram apenas Carla e Shin, presos no Pandemônium sem Liberdade.

Às vezes nos dias mais quentes, Carla ainda podia sentir o toque frio da sua amada. As lembranças vinham Átona em momentos inoportunos dos seus últimos momentos juntos.

{...}

- temos que ir atrás de uma cura, para todo o nosso Clã! - bufou encarando toda a mesa da sala de reuniões.

— estão morrendo por serem fracos! - Giesbach rebateu mais alto.

- são o nosso povo meu pai! - elevou seu tom para o de igual ao pai que o encarou repreensivo.

- bom, acho uma ideia interessante jogar todos aqueles doentes em um só lugar a acabar com a dor deles, prevenir que aconteça mais mortes. - KarlHeinz se intrometeu na conversa chamando atenção dos dois fundadores presentes.

- ficou maluco? Podemos ir atrás de uma cura, alguma coisa que nos faça mais fortes! - Carla rebateu indignado.

- você é apenas uma criança ainda! Espero que se ponha só seu lugar, ou se esqueceu onde é, Carla? - os amarelos olhos do rei se fizeram mais intensos deixando um rosnando sair fazendo seu filho se curvar.


- perdão, meu pai. - abaixou sua cabeça como forma de respeito e depois se levantou observando a conversa na mesa.

- os sentimentos de amor só enfraquece! Somos criaturas superiores e não precisamos disso. - Karl falou recebendo concordâncias dos Clãs.

Antes que Carla entrasse no meio da discussão novamente foi escutada cinco batidas na porta e ela foi Aberta dando visão para uma das serviçais que se curvou perante os reis.

- a Senhorita Azura pediu para encontrar Carla em seus Aposentos - avisou e logo se curvou uma última vez saindo dali.

- com sua licença Senhores. - o platinado saiu da sala indo para o quarto de Azura que era no mesmo andar.

Ao entrar lá a cena doía em seu peito ao ver sua noiva de tal forma, tão fraca em cima de uma cama, ela estava magra por não se alimentar da forma correta e seus dias pareciam contados.

- o que aconteceu? Passou mal de novo? - a preocupação no rosto dela era eminente enquanto analisava tudo com o máximo de cuidado.

- sinto que precisava te ver - ela tossiu cobrindo a região da boca com um pano na qual saiu com sangue - desculpe querido, mas quem quebrou a promessa de nunca nos separarmos, foi eu.

- não fale isso - puxou a cadeira ali se sentando ao lado dela - vamos achar um jeito de curar isso. - o tom saiu choroso.

- não faça isso por mim, faça pelo nosso povo, será um rei incrível Carla

- não se esforce tanto. - pediu acariciando a mão dela.

- nos dois sabemos aonde isso vai levar, mas eu gostaria dizer que eu te amo uma última vez. - tossiu olhando nos olhos marejados do noivo - eu te amo.

Ele não conseguia responder, as lágrimas e a vontade de gritar o impediam. Quando se deu conta a mão já estava gelada assim como o resto do corpo, a feição calma e um sorriso foi a última visão que tivera dela. Junto disso a dor de não ter conseguido responder um último "eu te amo".

{...}

- Parece que todas as estrelas se foram pra acompanhar a sua partida - falou encarando o céu vazio, apenas a lua estava presente na escuridão. 

- não é como se só em você doesse. - Shin falou encarando o céu junto ao irmão. - ela era minha amiga também, não foi o único que perdeu uma noiva.

- mas as pessoas lidam de diferentes formas com a dor. - uma voz falou ao fundo fazendo os dois se virarem - você prefere esconder a dor e sorrir, seu irmão por outro lado...

- veio aqui pra filosofar, Dabi? - o mais velho perguntou encarando nos olhos do amigo.

O de cabelos escuros ergueu as mãos em sinal de rendição e sorriu olhando para os dois, seus braços eram os únicos que tinham poucas queimaduras.

- se essas queimaduras subirem vai cheirar a carne podre - o ruivo comentou saindo do jardim e indo para dentro deixando apenas os dois ali.

- veio fazer o que aqui ? - a voz saiu abafada pelo cachecol.

- uma breve visita, saber como estavam as coisas por aqui. - respondeu com indiferença enquanto caminhava calmamente.

- como pode ver, nada mudou, esta a mesma coisa. Pode ir agora - os olhos amarelos acompanhavam cada movimento do amigo.

- e o carvalo ataca como sempre, já trocou as ferraduras hoje? - cruzou os braços rindo.

- já viu sua família hoje? - falou sem paciência tocando diretamente na ferida vendo o sorriso alheio desaparecer.

- você não sabe jogar - parou o olhando - vamos beber logo.

- só pensa nisso? Que estupido - começou a caminhar para dentro de casa.

- me chamar de estúpido é nova dessa vez. Cansou de idiota? - andou para dentro junto acariciando um dos lobos que guardavam a porta de entrada.

- talvez - andou até a sala de bebidas e suspirou pegando um vinho para inicio de noite.

- um vinho? Que coisa fraca - reclamou já acomodado no sofá da mansão Tsukinami.

- não vou gastar minhas bebidas boas com você, vai para um bar se não estiver satisfeito. - pegou duas taças e abriu a garrafa sem dificuldade servindo para ambos.

- ah, quem sabe o álcool te deixa menos grosso. - exclamou tomando o vinho.

" talvez o álcool me faça esquecer", foi o pensamento que passou por sua cabeça. Esquecer as memórias dolorosas daquela noite.

[...]


O dia em si tinha sido muito cansativo para o herdeiro do trono, seu pai não parava de o pressionar e a preocupação com o tal Endziet só piorava a cada dia, de que forma aquilo seria transmissível? Todos estavam adoecendo rápido demais. Queria o abraço reconfortante de sua amada que parecia lhe ignorar no ultimo mês foi inevitável, a preocupação, de perde-la para a tal doença.

- Filho? - a voz feminina o tirou dos pensamentos o fazendo encarar a figura diante de si. - o que foi aquilo no jantar?

- ah, perdão mãe - abaixou a cabeça sentindo vergonha de si mesmo - eu não pude conter.

- seu pai tem pegado muito pesado, ele não me escuta - ela acariciou os fios brancos com cuidado - vocês homens tem uma cabeça difícil.

Ele não pode evitar de sorrir com o comentário.

- temos que ter uma cabeça forte - segurou a pequena mão que lhe afagava os cabelos.

- você tem que saber ouvir também. Mas sei que criei meus filhos certo, ou eu tentei ao menos - um suspiro pesado saiu dos lábios femininos.

- sei que fez o melhor - disse a tranquilizando - sou grato por isso, obrigado.

- achei que seria bom uma visita - mudou de assunto observando a cara confusa do filho. - não vai a deixar esperando, não é? - riu esperando a ficha do mesmo cair.

Com um largo sorriso abraçou sua mãe e saiu andando um tanto eufórico sentindo o cheiro dela invadir suas narinas, caminhou em passos rápidos ate a sala principal que tinha apenas uma dama sentada em um dos sofás.

- senti saudades - ela o olhou com a expressão tranquila como de costume.

- achei que só te veria no dia do casamento - brincou a puxando para um abraço cheio de amor e saudade.

- não aguentaria tanto tempo longe de você - falou perto dos ouvidos dele - precisamos conversar.

As palavras lhe atingiram em cheio fazendo a felicidade se tornar preocupação, a serenidade em receio, mas ambos compartilhavam do medo.

- vamos a um lugar mais privado - pediu a mulher o olhando.

- vamos para o jardim - ele a guiou pela mão enquanto mil pensamentos o rodeavam, agradecia por ela não ler pensamentos.

Ao chegar no lugar se sentaram na grama sem cerimônia, um de frente para o outro, apenas eles, a lua, as estrelas e as flores. Pelo menos era o que eles pensavam.

- tenho que te contar algumas coisas - falou ainda calma mantendo a calmaria.

- pode começar então - disse receoso - se explicar o motivo de seu sumiço é melhor ainda.

- eu vou chegar lá - revirou os olhos.

A conversa estava se seguindo tranquila, não souberam como, mas a conversa serena virou uma briga, das feias.

- você simplesmente some por um mês e não pode me dizer?! - perguntou pela decima vez elevando a voz cada vez mais.

- Não eu não posso! E já mandei pra você parar de levantar a voz! - ela fez o mesmo batendo o pé estressada.

- quem é você pra me mandar fazer algo? - rosnou autoritário. Odiava quando qualquer um falava assim.

- a sua mulher? - rosnou de volta.

- é apenas a minha noiva! Não somos casados, ainda da pra cancelar! - deixou as palavras saírem.

- você quer voltar atrás?! - perguntou incrédula.

- eu não sei, se a minha noiva não pode confiar em mim pra contar as coisas como posso dar um tiro no escuro?! - a olhou nos olhos.

- eu sempre te conto tudo e quando não posso falar uma simples coisa você surta? Ah pelo amor de Deus, cresça homem! - começou a andar em direção a saída.

- vai dar as costas pra mim? Quem esta largando a corda dessa vez?! - ele ficou a olhando.

- esfrie a cabeça! Não da pra falar com você desse jeito. - continuou andando sem olhar para trás.

- faça como quiser, vossa alteza! - disse ironicamente fazendo uma reverência.

Quando ela foi dar o ultimo passo para enfim entrar na floresta um arrepio lhe percorreu, uma sensação ruim, seu extinto dizia algo mas ela ignorou e apenas adrentou na floresta escura.
  Um tanto distante dali o Rei Fundador observava a cena com um sorriso nos lábios, seu plano estava correndo melhor do que o revisto, ele faria seu filho sentir a dor e pegar por tê-lo desafiado.

- vão, agora - a voz ordenou liberando seus lobos, ele se virou para o ruivo de óculos e lhe entregou uma adaga - você sabe o que fazer.

- sim, meu pai - pegou o objeto de prata e saiu dali rumo a floresta, queria parar mas era necessário, tinha que ser feito.

Quando os uivares ficaram mais altos, ela soube, soube que tudo mudaria naquela noite e apenas abraçou seu destino de braços abertos.

- seja lá o que acontecer essa noite, cuide dele - pediu encarando as estrelas - cuide do meu amor por mim.

Meu eterno amor Onde histórias criam vida. Descubra agora