A toca

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Francisco acordou em um quarto escuro, desnorteado. Tudo que se lembrava era seu próprio nome. Tentou se recordar, sem sucesso, de sua vida anterior. Nada lhe vinha à cabeça. Nenhuma lembrança o fazia voltar a sua antiga vida. Francisco era seu nome. Isso era a única coisa que ecoava em sua mente.

Mas ainda que não se lembrasse de nada, ele sabia que era alguém antes de estar ali. Sabia que precisava descobrir seu passado e que só ele poderia desvendar o mistério que rondava aquele quarto.

Francisco olhou ao redor: não havia nada demais naquele cômodo. Apenas uma cama, um criado mudo e um armário com roupas limpas. Depois de observar todas as gavetas, encontrou um papel amassado escrito a lápis: 07.

A porta que levava até os outros cantos da casa não era uma porta comum. Não tinha fechaduras nem maçanetas. Era branca e de metal que não continha nada além de um aço forte e resistente. Portanto, ciente de que nada demais ocorreria, Francisco dormiu aguardando o que aconteceria no dia seguinte.

Logo cedo a porta se abriu. Na sua frente havia um largo corredor, cada lado com portas à esquerda e à direita. As paredes eram brancas e lisas e o corredor, bastante longo. Depois de caminhar alguns metros, encontrou uma mesa farta: bolos, pães, frutas e carnes. Era a hora do café da manhã. Em volta da mesa diversos jovens conversavam animadamente. Todos usavam roupas brancas.

Uma menina com cabelos loiros e olhos azuis disse:

– Bom dia. Bem-vindo! Eu sou a Amanda. – disse ela, passando manteiga no pão.

– O que é isso? Onde estou? - indagou Francisco, preocupado.

– Não sabemos. Chamamos esse lugar de a Toca. - Amanda deu de ombros.

– Como vim parar aqui? - questionou.

– Você é o número sete. Eu sou o quatro. Cheguei há três semanas. A cada sete dias uma nova pessoa aparece em um dos quartos. Sem memória, se lembra apenas do seu nome. A propósito, como você se chama? - ela falou, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

– Francisco. – falou, quase sem voz.

– Não se preocupe. Você se acostuma com o tempo. – ela disse, com um sorriso.

Amanda apresentou Francisco a Henrique, o número 01. Ele contava que, quando chegou à Toca, havia passado sete dias sozinho, acreditando estar no inferno. Tentou encontrar uma saída, mas era impossível. Não havia para onde fugir. Pouco a pouco passou a aceitar seu destino e fez da Toca seu novo lar.

O número 02 era conhecido como Carlos. Ainda que na Toca ninguém soubesse a própria idade, ele, com certeza, não era mais do que um adolescente. Tímido e preocupado, seu olhar transparecia medo. Ele era o único com quem Francisco simpatizou.

Luísa era o nome do número 03. Extrovertida, animada e engraçada, transparecia doçura e felicidade, como uma professora de jardim de infância. Ela era, de longe, a mais entusiasmada e feliz do grupo. Estava sempre sorrindo.

O número 05 se chamava Antônio. Na opinião de Francisco, não passava de um velho ranzinza e rabugento que não parava de reclamar. Não tinha dentes na boca, e os seus cabelos eram brancos como as nuvens.

Ana, por fim, era a número 06. Demonstrava uma grande tristeza no rosto e não dizia palavra. Depressiva e triste, parecia que cairiam lágrimas dos seus olhos a qualquer momento.

– Bem-vindo ao grupo, Francisco. Espero que você se sinta à vontade. Só há uma regra na Toca: passamos o dia inteiro no quarto e apenas nos encontramos no horário das refeições. - Amanda lhe deu um abraço de boas-vindas.

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