leite quente e muito amor

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Maldita insônia.

O pobre garoto com olhos de raposa não dormia direito há semanas por conta do maldito e insistente disturbio que havia se atrelado a ele.

Todas as gravações, treinos, ensaios fotográficos, tudo estava cansativo demais para Sunoo, que parecia não se acostumar com a vida de idol. Ele adorava ser um artista, não entenda mal, sabia que tinha nascido pra ser quem era, mas estava difícil lidar com tantos afazeres. Ele não queria depender de remédios, por isso procurava formas mais naturais para dormir; exercícios (mais do que já fazia normalmente), músicas relaxantes, chás e banhos quentes ao anoitecer. Algumas noites aqueles truques eram eficazes, mas em outras, não.

Sentado no chão da sacada da sala, Sunoo se encolhia dentro do grande moletom que vestia, tentando proteger-se da gelada corrente de ar que aquela madrugada fornecia. Poucas estrelas brilhavam no céu triste e o pequeno garoto já tremia pelo frio, mas se recusava a sair dali. Gostava de ficar naquele ambiente, por mais gélido que fosse.

Sunoo ouviu característico barulho da porta de vidro ao ser arrastada e um Sunghoon sonolento surgiu no pequeno ambiente aberto.

— Não te vi na cama — bocejou. — O que 'tá fazendo aqui? Quer morrer congelado? — esfregou os braços arrepiados.

— Eu gosto de ficar aqui. — Sunoo abraçou as pernas nuas.

— Ainda sem sono? — Sunoo assentiu com um bico manhoso. — Você devia ir ao médico — aconselhou, se sentando ao lado do mais novo.

— Não, já disse que não quero isso, não quero depender de remédios — murmurou, apoiando a cabeça no ombro esquerdo de Sunghoon. — Hoje eu levei uma bronca por cochilar na aula — resmungou, fazendo Sunghoon rir.

Infelizmente aquela era a verdade; os únicos horários em que Sunoo sentia o sono lhe dominar era quando o sol ainda brilhava no céu, onde ele acabava sendo obrigado a tirar alguns cochilos na biblioteca do colégio na hora do intervalo ou nos intervalos de quaisquer gravações do seu grupo.

Sunghoon se levantou do chão frio e lhe estendeu a mão.

— Vem. Vou cuidar de você.

Meio desgostoso, Sunoo se levantou e seguiu o amigo até a parte interna do dormitório. A sala estava escura e quente, assim como toda a casa, fazendo seu corpo parar com os tremores.

— Se permanecesse lá fora, acabaria com uma hipotermia — Sunghoon advertiu, fechando a porta e as cortinas.

Sunoo passou a caminhar em direção ao quarto, mas foi parado por Sunghoon antes que completasse seu trajeto. O mais velho o pegou no colo e caminhou até a cozinha, o colocando sentado na bancada de mármore.

— Eu disse que ia cuidar de você, não disse? Agora fica aí enquanto eu esquento seu leite — praticamente ordenou, caminhando até a geladeira.

— Você não está pensando em me curar com leite quente, ou está? — Sunoo perguntou em meio a risadas. — Eu não sou um bebê, Sunghoon.

— Discordo.

Sunghoon ligou o fogo e despejou o líquido da caixinha na leiteira.

— Isso não vai funcionar — resmungou Sunoo, fazendo careta.

— Discordo novamente.

Sunghoon pegou duas canecas no armário e serviu o leite já aquecido nelas, colocando um pouquinho de açúcar para agradar o paladar de Sunoo que adorava alimentos mais doces.

— Quando eu era criança e acordava no meio da noite depois de um pesadelo, minha mãe sempre me servia um desse e logo em seguida eu voltava a dormir como um anjo. — entregou-lhe o copo de leite quentinho e encaixou-se entre as coxas do mais novo cobertas apenas por um short curto. — Não há nada que um pouco de leite quente e amor não possam resolver.

— Acho que o meu problema não é tão fácil assim de se resolver — murmurou, bebendo um gole do líquido branco.

— Não custa tentar, não é? — Sunghoon terminou o seu e deixou o copo na pia ao lado. — Já ouviu falar em calças, Sunoo? — perguntou irônico, apoiando as mãos nas coxas geladas do Kim.

— Não gosto de usá-las para dormir.

Sunoo bebeu calmamente seu leite, enquanto Sunghoon o observava atentamente.

— Tecnicamente você não 'tá dormindo.

— Você me entendeu — resmungou, ouvindo a risada do mais velho.

Sunoo terminou seu leite e encarou Sunghoon, esperando pelo próximo cuidado que ele teria consigo. O Park sorriu e passou o dedo sobre o rosto do mais novo, retirando o pequeno bigode de leite que havia se formado acima de seus lábios. Aproximou-se e deixou um selar sobre os mesmos, que estavam quentinhos.

Sunoo resmungou.

— Ei!

— O quê? — Sunghoon perguntou travesso, deixando outro e mais outro beijinho sobre o biquinho manhoso que se formara nos lábios de Sunoo.

— Para com isso! Alguém pode aparecer! — esbravejou, empurrando o corpo quente do amante para longe do seu.

Sunghoon nunca perdia uma oportunidade de beijar Sunoo. Não importava onde estivessem, se não houvesse um único ser vivo os observando, Sunghoon logo tratava de dar ao seu garoto um selar rápido e carinhoso, deixando o Kim todo vermelho e com uma falsa irritação.

Eles não se consideravam namorados, mas também não eram apenas amigos. Aquele relacionamento sem uma forma fácil de explicar havia começado um pouco depois da estreia dos garotos. Sunghoon e Sunoo se aproximaram muito com o passar dos dias e se apoiavam incondicionalmente em momentos que ficava difícil ser uma pessoa pública.

Sunoo se lembrava perfeitamente da primeira que Sunghoon havia o beijado. Ele estava irritado na volta para casa depois de uma performance que insistia em dizer que não havia se saído bem, apesar do resto do grupo afirmar o contrário. Sunghoon, para irritá-lo, começou a lhe fazer cócegas enquanto eles conversam deitados na cama do mais novo. Sunoo nem mesmo percebeu quando Sunghoon já estava por cima dele, o encarando de um jeito diferente. Tímidos, seus lábios se encontram, fazendo os dois garotos ficarem estranhos um com o outro naquele momento e nos dias seguintes. Porém aquele estranhamento não durou muito, pois logo eles já estavam se irritando novamente e trocando selinhos para equilibrar a relação de gato e rato que tinham.

Aos poucos foi se tornando completamente natural, mas optaram por não dizer nada ao resto do grupo, pois seria difícil de explicar e aquilo era bom o suficiente apenas entre eles.

— O que vamos fazer agora?

— Agora nós vamos pra cama.

Sunghoon, circulando os braços na cintura do mais novo, que em resposta entrelaçou as pernas em seu quadril, o carregou até seu quarto, abrindo a porta sem muita dificuldade e a fechando com um pequeno chute, tomando cuidado para não acordar os outros membros. Caminhou até a cama e deitou Sunoo sobre ela, para logo se deitar junto. Ajeitou a cabeça do menor sobre seu braço e os cobriu com a coberta grossa, abraçando o corpo pequeno.

— Seu perfume é muito bom — Sunoo murmurou, inalando o cheiro que vinha do pescoço de Sunghoon.

— Bom o suficiente pra te fazer desmaiar? — tentou brincar, mas recebeu apenas uma careta em resposta.

—  Eu ainda não estou com um pingo de sono.

— Então eu ficarei acordado com você até que consiga dormir — selou-lhe a testa carinhosamente.

E Sunghoon ficou. Conversaram sobre coisas aleatórias. Sobre os shows, novelas, sobre a possível existência de extraterrestres e até sobre como o ronco de Jay era alto o suficiente para acordar os outros meninos. Mas Sunghoon não aguentou por muito tempo e seu sono lhe traiu.

Sunoo olhou admirado para o mais velho adormecido, atraente para si até desmaiado de sono como estava no momento, apenas faltando a clássica saliva escorrendo pelo canto da boca.

— Acho que agora eu consigo dormir... Com você aqui comigo — murmurou, finalmente bêbado pelo sono.

Depois de um bocejo, Sunoo se abrigou melhor no corpo de Sunghoon entre as quentes cobertas e fechou os pequenos olhos.

E no final da noite, Sunghoon estava certo. Um pouco de leite quente e amor  poderia sim, resolver os problemas de Kim Sunoo.

Insônia (sunsun)Onde histórias criam vida. Descubra agora