Capítulo único

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    O céu estava limpo permitindo que as estrelas fossem vistas com facilidade e o clima estava agradável do lado de fora, mas, dentro do carro, era como se uma tempestade caótica tivesse passado e carregados todos os sentimentos felizes do casal que estava dentro do veículo.

    Novamente este sentimento assolava-os e destruiu mais um pedaço de cada um deles. Quando recebeu aquela notícia pela terceira vez, um zumbido alto e insistente começou dentro de sua mente, uma cacofonia completa que o impediu de escutar qualquer outra coisa que fora dito após aquele momento.

Se não tivesse sido segurado pelo marido com certeza teria caído com tudo no chão visto que suas pernas falharam no mesmo instante que seus olhos se encheram de lágrimas. Quis gritar em plenos pulmões para que toda dor fosse embora de uma única vez, gritar até perder a voz e cair cansado e sem forças para se manter acordado, mas o nó em sua garganta não o permitiu ter esse pequeno alívio. Voltava em silêncio olhando para o lado de fora esperando chegarem em casa.

Pousou a mão sobre o joelho do marido que estava no banco do carona sem desviar os olhos da estrada antes de segurar a mão dele que sequer notou. Apertou devagar e por algum tempo até que o aperto fosse retribuído.

Neji olhava pela janela com um olhar distante e perdido, lágrimas grossas e silenciosas escorriam por seu rosto já vermelho, seus olhos começavam a inchar e estava desolado. O sorriso convencido e, por vezes, com ar de superioridade que o marido tanto adorava tinha desaparecido.

Shikamaru estava sério e se esforçava para não chorar, tentando ser forte para dar suporte ao seu esposo e conseguir enxergar a estrada à sua frente com clareza, sua mandíbula estava tensionada com tanta força que poderia acabar quebrando os próprios dentes. O olhar concentrado e que sempre aparentava tédio e o sorriso que surgia de forma preguiçosa e lenta tinha sumido, estavam debaixo de uma grande camada de tristeza e dor.

— Neji…

Se cortou. Não conseguiria dizer que tudo ficaria bem quando nem mesmo ele acreditava naquilo, estava tão arrasado quanto o outro e não conseguia de forma alguma encontrar algo que fosse amenizar a dor de seu amado.

Quando estacionou o carro na garagem da casa para onde tinham se mudado a quase cinco anos, o ômega abriu a porta depressa e entrou em casa a passos largos e apressados. Fechou as portas do carro antes de ir atrás de seu cônjuge.

Parou em frente ao quarto de hóspedes que tinham reformado a duas semanas que estava com a porta aberta, passou os olhos depressa pelo cômodo e, ao constatar que o marido não estava lá, fechou a porta e foi para o quarto do casal. Passaram muito tempo decorando e decidindo onde ficaria cada móvel, mas agora não fazia sentido ter aquele espaço a mais.

O encontrou deitado na cama que dividiam de costas para a porta. Ainda estava com os sapatos que colocou às pressas antes de saírem, então os tirou devagar, com calma e em silêncio antes de tirar os próprios e se deitar ao lado do outro. Estavam de pijama por terem acordado no meio da noite e irem correndo para o hospital, os cobriu e abraçou o corpo de Neji que se virou e o abraçou com força.

Chorou copiosamente até soluçar e perder as forças, nem o aroma natural do beta o estava ajudando. Não muito diferente, Shikamaru também chorava, calado. Não conseguia ser forte naquele momento e sequer o queria fazer.

Apertou mais o corpo do marido contra o seu, não sabiam e nem tinham o que falar, mas, pelo menos, tinham um ao outro. Ambos pareciam pequenos e frágeis no estado em que se encontravam no momento.

Durante a madrugada, quando o choro cessou, fazia um leve carinho nos longos fios castanhos do menos. Não conseguia dormir o que, para si, era algo completamente fora do comum e pensava que o ômega tinha dormido depois de perder o resto de suas forças chorando. Pelo menos um deles conseguiria dormir, era o que achava até escutar uma voz baixa e abafada chamá-lo.

Última tentativa (ShikaNeji)Onde histórias criam vida. Descubra agora