One shot

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                                                           Wildest Dreams

Observo de longe as pessoas da vila pegarem pedaços de madeira para prepararem como lenha ou fabricação de algum móvel. As crianças brincavam e ao fundo som de pássaros cantando numa bela e fria manhã.

Eu tentava não me concentrar muito no que acontecia do lado de fora, havia coisas boas, claro, mas há muitas coisas negativas também. O mundo está se transformando rapidamente, Phastos deve estar feliz ao ver suas contribuições seguindo com a humanidade, espero que ele não se decepcione como eu me decepcionei.

Qual eterno não se decepcionou além de Ajak? Talvez Gilgamesh com seu inabalável bom humor, e claro, Makkari ainda deve manter a sua fé. Como sempre meus pensamentos de alguma forma me levam até ela, pensar no passado é algo que me deixa melancólico, eu poderia ter pedido para ela vir comigo mas ela não iria concordar, ela não concordou com o que eu fiz na época.

— Hoje você parece mais taciturno que nos outros dias, meu senhor. – uma mulher comenta no idioma nativo ao me ver sentado em um banco de madeira observando tudo e todos com a minha habitual carranca que os eternos tanto reclamavam, exceto, ela. Sempre ela.

— Pensando em alguém? – ela para e observa seus filhos brincarem no chão, um vem para perto e a segura pelas saias longas.

— Na verdade sim. – evito falar mais, eles já sabem como sou.

— Um amor perdido? – segura as mãos do filho já se preparando para sair – Reconheço essa expressão. Espero que vocês possam ficar juntos de novo. – continuo em silêncio mesmo quando ela sorri para mim com óbvia pena de meu sofrimento amoroso e parte com o filho a tira colo.

— Eu também espero. – digo baixo para mim mesmo.


O inverno está se aproximando, mesmo com a descoberta da eletricidade e alguns objetos sendo criados para podemos usa-la, o inverno é ainda motivo de preocupação em todo mundo. Sem colheitas, caças são algo mais raro e em alguns cantos do mundo a neve impossibilita muita coisa.

Aqui, é claro, estamos preparados. Ando pela nossa pequena vila conferindo tudo durante o final da tarde, indo de casa em casa e logo depois ao redor. As vezes intrusos precisavam ser repelidos. Sem o uso de violência, claro. O que eu não esperava com a vinda do inverno era a visão de alguém com um longo casaco e vestido arrastando ao chão, como se fosse o vislumbre de um sonho.

Makkari surge das árvores com uma bolsa grande presa ao ombro e os cabelos enrolados ao topo da cabeça. Imagino que tenha corrido até aqui, por isso prendeu os cabelos sem ser nas habituais tranças de que tanto gostava e facilitava a sua vida.

— Olá linda Makkari. – cumprimento enquanto me aproximo dela que vem a passos lentos como se não tivesse certeza de que eu a receberia.

— Então é aqui que você se esconde? – assina e olha ao redor curiosa, não há pessoas em volta já que estamos longe da área de trabalho, mas as vezes poderia surgir alguém passando por aqui. O Sol mal aparece, mas sinto o costumeiro calor quando Makkari se aproxima.

— Não diria que estou me escondendo, mas sim. – abro os braços e ela me olha intensamente – Você continua a mesma de sempre, talvez até mais bonita, mas eu sou suspeito de afirmar algo assim.

Ela sorri pela primeira vez que chegou aqui e parece que o tudo ao redor se torna mais luminoso graças ao seu sorriso. Me pego sorrindo de volta antes de pigarrear e a levar para onde eu vivo agora.

Wildest DreamsOnde histórias criam vida. Descubra agora