II

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Esse capítulo contêm um gatilho, irei colocar um aviso na parte onde ele começa e quando termina.

Presente

As lembranças do meu último aniversário ainda estavam claras em minha mente, eu sonhava em ser "feliz" como antes, mas tudo mudou após a mudança para os Estados Unidos. Fui transferido para uma das faculdades e, podemos dizer que... As pessoas ali não eram tão legais e não estavam muito animadas com um aluno novo.

Todos que frequentavam aquela instituição estavam fazendo da minha vida um grande inferno, mas eu não comentava sobre com meus pais, eles diziam que era a melhor da cidade e eu não teria porquê reclamar.

Pelo menos fiz um amigo, o nome dele é Jeff, foi o único que fez questão de me mostrar toda a escola e fica junto comigo desde então. Ele é um pouco nerd e sinto que as pessoas também não gostam tanto dele pelo jeito que é tratado.

Ainda não havia desistido do meu sonho, mas podia senti-lo cada vez mais distante e parecia que todos ao meu redor faziam questão de me lembrar isso. Tudo estava diferente, não sentia que me encaixava nos lugares, era como se todos estivessem esperando que eu fosse o melhor na faculdade e eu estava falhando.

Meu pai me levava para o escritório e dizia que um dia seria eu ali, não conseguia me imaginar sentado em uma cadeira esperando meu próximo cliente entrar pela porta para que eu pudesse defendê-lo e fingir que eu realmente me importava com algo.

Depois de alguns anos fazendo tudo que meu pai queria que eu fosse, aprendi que fingir ser alguém que você não é, cansa mais do que correr uma maratona.

Todos os dias eu sentia que minha vida não tinha sentido, tudo me cansava de forma extrema - mesmo as coisas mais simples como tomar banho estavam ficando cansativas - não tinha motivação para comer ou me esforçar um pouco para atingir os objetivos que meu pai estabeleceu para mim na faculdade. Eu chorava todas as noites me perguntando o que eu fiz de errado, mesmo achando que não era minha culpa, algo dentro de mim dizia que era.

Parecia que tudo estava desabando aos poucos e eu não conseguia lidar com nada, cada erro que eu cometia parecia que eu havia matado uma pessoa só pelo tanto que todos me julgavam ou faziam questão de dizer que eu estava errado. Perceber como tudo estava desmoronando aos poucos e saber que eu não poderia conversar sobre isso com ninguém - afinal, meus problemas não merecem atrapalhar a vida alheia - me matava aos poucos.

Alerta de gatilho: auto mutilação.

Peço para que pule essa parte (deixarei sinalizado quando ela terminar) e priorize sua saúde mental, esse foi seu último aviso.

***

Me encontrava no chão do meu quarto e com as costas da minha mão em minha boca para abafar o barulho do meu choro. Eu estava tendo outra recaída, era a terceira naquela semana e ainda era quarta-feira. Já não conseguia dizer se eu estava apenas tendo uma crise de choro ou se eu também estava tendo uma crise de ansiedade, de qualquer forma, estava começando a ficar sem ar.

Parecia que havia uma voz em minha cabeça que insistia em me dizer o quão esúpido eu era e eu a escutava. Realmente, eu era uma pessoa incapaz de fazer coisas básicas de qualquer outro ser humano, tudo que estava acontecendo na minha vida era minha culpa, eu deixei com que meu estado piorasse, eu devia ter pedido ajuda, eu devia ter dito não ao meu pai, eu devia me esforçar mais.

Eu, eu, eu, eu... Tudo estava acontecendo por minha culpa, eu merecia ser punido, merecia estar no estado que eu estou e merecia piorar.

Sentia como se eu já não tivesse mais controle de minhas ações, não sabia ao certo o que eu pegava, mas pude ter consciência do que eu estava prestes a fazer quando sentia a lâmina em contato com a minha pele.

Parte de mim dizia que eu merecia aquilo, outra parte dizia que não era minha culpa.

Eu tentava controlar meus próximos atos, porém tudo era em vão. Sentia aquela ardência misturada com a dor rasgar minha pele, comecei a chorar mais no instante em que eu percebi que havia feito aquilo novamente. Corri para o banheiro em uma tentativa falha de limpar aquilo, de tirar aquela marca do meu corpo, nada funcionava. Meu choro era incontrolável e minhas mãos estavam trêmulas, eu estava cansado.

Amarro um pedaço de pano em meu pulso para evitar que minha irmã e minha mãe vejam todas aquelas marcas. Já era normal que eu usasse isso como "acessório", nunca mostrava meus pulsos, e parecia que ninguém se importava.

Eu sentia como se todos soubessem o que eu estava passando e era horrível sentir como se escolhessem ignorar.

***

Fim da parte que contêm gatilho.

Finalmente estava de manhã.

Me arrumei rapidamente e sai de casa antes que alguém acordasse, não queria que me vissem naquele estado.

Coloquei meu fone de ouvido e acendi um maço de cigarro enquanto andava e chorava até o parque mais próximo. Não sabia ao certo o motivo de eu estar indo para lá, meus pensamentos continuavam muito barulhentos e a maconha parecia não fazer mais efeito.

Por puro azar, encontrei Alex, um dos meninos que frequentava a mesma universidade que eu, e ele não pode deixar de me zoar. Não julgo, também zoaria um fracassado como eu.

— Chorando, Styles? O que aconteceu? Lembrou que você jamais vai conseguir ser alguém na vida? Sabe... Eu tinha plena consciência que você era esquisito, imagino que todos na faculdade vão adorar ver o quão acabado você está - ele retira o celular do bolso e tira uma foto minha.

— Cara? Que merda você está fazendo? Você não pode tirar fotos minhas sem minha autorização

— Ah é? E você vai fazer o quê? Acha que seu papaizinho vai te ajudar? Ele deve olhar para você e pensar que você não passa de um desperdício de esperma.

Essa é a última coisa que ele diz antes de seguir seu caminho. Não conseguia entender exatamente em qual momento da minha vida eu havia deixado com que toda aquela minha personalidade antiga fosse embora. Se tudo tivesse acontecido há alguns anos, eu jamais teria deixado com que ele seguisse o caminho com uma foto minha em mãos, aquilo era ilegal, mas eu não tinha mais forças para protestar contra algo.

Eu aceitava tudo que fizessem comigo e me culpava depois, era um ciclo.

Já não estava tão longe do parque, porém meu choro era mais intenso, agora eu sabia o que faria lá.

Era como se eu estivesse perdendo uma batalha interna, eu era fraco e meus pensamentos me machucam.

***
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La di die [larry stylinson]Onde histórias criam vida. Descubra agora