Vida nova

75 8 10
                                    

Havia um silêncio total na Central do Tempo de Manzanares, salvo os bipes de alguns aparelhos. Todos estavam muito concentrados olhando para seus monitores, prestando atenção a qualquer irregularidade nas linhas.

Estava tudo tão quieto, que Cecília acabou se assustando quando uma mão pousou no ombro dela de repente, quase fazendo-a derrubar sua caneca inspirada no episódio especial de Galactica (uma espécie de universo paralelo em que os personagens eram transformados em cães aliens).

— Cecília, preciso que você confira se está tudo certo na antiga Mesopotâmia, por favor.

A jovem guardiã disfarçou o ocorrido  olhando para a tela, ignorando as batidas frenéticas de seu coração acelerado.

— Acabei de olhar. Os sumérios não aprontaram nada dessa vez e os assírios estão calmos... do jeito deles, mas calmos.

— Ai, que bom! Falta mais alguma época pra ser revisada?

— Só a Antiguidade Clássica. Houve uma briga feia entre Diógenes e um mercador. O filósofo ia bater as botas mais cedo, então a Dione e o Argos foram lá salvar a pele dele.

— E eles já voltaram?

— Eles me mandaram uma mensagem há uns 10 minutos atrás dizendo que já iam voltar pra central. Não devem demorar.

— Ótimo! Já está tudo preparado pra chegada dele. Espero que ele tenha uma boa impressão.

Sofi estava nervosa desde a notícia da visita do convidado de honra. Cecília e Diana tentavam tranquilizá-la, mas sem sucesso algum.

— Não esquenta, Sofi. Você é uma chefe excelente e consegue deixar esse lugar em ordem como ninguém. Vai dar tudo certo. — a morena levantou-se da cadeira e colocou a mão sobre o ombro da loira. Isso pareceu deixá-la mais calma.

— Obrigada, Ceci. Se não fosse a minha melhor guardiã, eu não sei o que faria.

Cecília abriu um sorrisinho.

— É melhor não deixar a Diana escutar isso, hein?

Ela mal pronunciou as palavras quando foi surpreendida por um abraço apertado. Tinha certeza que recebia um abraço de Sofi pelo menos uma vez ao dia e até que gostava (na maior parte das vezes) apesar de não ser muito chegada a contato físico.

— Tá bom, Sofi. Já tá me a-apertando.

— Opa, desculpa. — a chefe riu com sua risada difícil de não reconhecer e soltou a parceira de trabalho.

— Incomodo?

As duas se viraram ao ouvir uma voz atrás delas.

— Claro que não, Mateo. Aconteceu algo?

— Só queria avisar que o senhor Leonardo já está a caminho, chefe.

=======

— E então a sereia me capturou e me levou para os profundezas do Triângulo das Bermudas! Eu me debati como um bagre fora d'água e depois...

A rua multidimensional era um saco e, na opinião de Nero, Barba Negra só a deixava pior.

Ela servia como uma espécie de prisão aos piores criminosos do tempo, unindo várias dimensões como se fosse uma grande teia, o que impossibilitava os detentos a escaparem, mesmo se fizessem uso de uma tecnologia avançada.

Apenas aqueles guardiões do tempo selecionados, rigorosamente, sabiam entrar e sair dali, e eram poucos. Os delinquentes ficavam numa cela, junto com outros companheiros. Os mais rebeldes permaneciam isolados. Eles só poderiam sair da cela 2 vezes ao dia, acompanhados de um guarda para realizarem caminhadas regulares, sem saírem da rua multidimensional.

— Ele nunca vai parar com isso? — sussurrou Victor, que estava sentado ao lado de Nero num banco improvisado de pedras.

— O que você acha? Esse aí até sozinho não fecha essa matraca. — o ex-guardião virou-se e começou a rabiscar na parede de pedras.

Essa era a sua "diversão" desde que foi capturado pelos guardiões do tempo há 3 meses atrás. Desde que foi traído há 3 meses atrás.

Nero pressionou o pedregulho que estava usando sobre a parede com mais força, transformando-o em pó. O ato repentino acabou atraindo a atenção do companheiro de cela ao seu lado.

— Você ainda não superou, não é?

— Do que tá falando? — o homem soltou entre dentes, voltando-se para Victor com um olhar fulminante que o fez se retrair no banco.

— S-sabe do que eu tô falando.

Os dois não eram exatamente amigos. Somente trocavam umas palavras porque não tinham nada melhor pra fazer.
Victor acreditava ser impossível evoluir sua relação com Nero, considerando que o cara era mais fechado do que uma rocha e o intimadava tanto que o ex-guardião poderia jurar que ele lhe daria um soco na cara a qualquer momento. Se admirava pelo rapaz ter conseguido manter uma relação amigável com a tal de Cecília por tanto tempo.

— Não, eu não sei. E mesmo se soubesse, a minha vida pessoal não lhe diz respeito. — Nero disse simplesmente, recebendo um suspiro frustrado de Victor.

— E... como sabe que eu estou me referindo a sua vida pessoal? — arriscou.

— Porque você é um intrometido que não me deixa em paz.

Ok, aquilo era difícil, mas Victor não iria desistir tão rápido.

— Queria saber porque você tem tanto problema em falar sobre os seus sentimentos.

— Talvez seja porque eu não estou a fim.

— Nem um pouco?

Nero suspirou irritado. Aquela insistência toda já estava o deixando fora dos eixos e a tagarelisse daquele pirata aloprado não ajudava em nada.

— Não, nem um pouco "psicólogo Victor" — fez aspas com os dedos. — Agora, se me der licença...

O ex-guardião fez menção de se levantar para ir ao banheiro, mas o ruído da cela se abrindo fez parar o que estava fazendo. A caminhada seria mais cedo hoje?

Um guarda trajado de preto adentrou a cela, atraindo a atenção de todos (inclusive de Barba Negra, que estava absorto em contar suas histórias).

— Prisioneiro Nero, preciso que me acompanhe.

Barba Negra e Victor trocaram olhares apreensivos. Nero engoliu em seco. Os guardas não costumavam chamar os detentos separadamente.

O homem fez de tudo para que a sua voz não saísse falha.

— Algum problema, senhor guarda?

— Isso você só irá descobrir quando falar com o Da Vinci.

Seu sangue gelou no mesmo instante.

O que o futuro nos reserva (Cancelada)Onde histórias criam vida. Descubra agora