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Esse capítulo contêm um gatilho, deixarei sinalizado onde ele começa e quando termina.

O caminho até minha casa nunca pareceu tão longo. Eu me tremia de frio e sentia vergonha quando alguém passava por mim e falava algo, não conseguia fazer outra coisa a não ser chorar.

Queria saber o que eu fiz de tão ruim para estar sendo punido dessa forma. Eu pediria perdão pelos pecados cometidos por três gerações passadas se isso fizesse com que todo esse sofrimento acabasse.

Como sempre, nada é tão ruim que não possa piorar.

Quando chego em casa, vejo meu pai sentado no sofá com minha guitarra ao seu lado, eu estava com medo.

— Você vai começar explicando por que não foi para aula hoje ou pelo fato de você estar completamente sujo? - ele pergunta enquanto me olhava com desgosto.

— Me desculpa por ter faltado aula hoje, eu perdi a hora... Alguns garotos da universidade fizeram isso comigo, eu já estou indo me limpar

— Você faltou aula para vadiar com seus colegas da faculdade?

— Não, pai. Eles me levaram a força até o lago, me jogaram lá e depois jogaram farinha em mim, por isso estou todo sujo

— Isso é culpa sua. Se você estudasse um pouco mais, seria aceito no grupo deles. Eu sinto vergonha de você, Harry. Eu gasto meu dinheiro pagando sua faculdade e é assim que me agradece? Fazendo com que todos te odeiem? Como você acha que minha imagem vai ficar?

— Você escutou o que eu acabei de te contar?

— Agora estou sendo chamado de surdo? Você tem uma vida ótima e não sabe aproveitar isso. Você não se esforça na faculdade porque acha que vai ter algum futuro como cantor, olha para você, mal consegue se defender e acha que vai chegar em algum lugar... Não vou mais gastar meu dinheiro com você, ou seja, isso aqui - ele caminha para perto da minha guitarra e a segura — Jamais te trará futuro e, como fui eu que comprei...

Sentia minha cabeça girar e lágrimas rolarem pelo meu rosto enquanto meu pai jogava minha guitarra no chão diversas vezes, até que ela estivesse completamente quebrada. Ele gritava comigo e repetia como eu nunca teria futuro se não estudasse e que tudo que estava acontecendo em minha vida era minha culpa.

Alerta de gatilho: auto mutilação

Por favor, não leia se for sensível a esse tema ou se achar que possa ser um gatilho para você. Priorize sua saúde mental. Esse foi seu último aviso.

***

Não consegui jantar naquela noite, fiquei chorando em meu quarto após ter tomado um banho, nunca desejei tanto morrer. Minha vida era horrível e eu não conseguia ver uma solução para que tudo melhorasse.

Mais uma vez eu me encontrava no chão do meu quarto tentando controlar meu choro de alguma forma, mas nada parecia funcionar. Sentia como se minha garganta estivesse fechando e tudo girava, novamente, eu não consegui ter controle dos meus atos. Me levanto do chão e penso comigo mesmo "será só mais um corte", nunca era só mais um.

Sinto toda aquela ardência misturada com a dor me invadiu mais uma vez e me xingo mentalmente antes de correr para o banheiro em uma tentativa falha de fazer com que todas aquelas marcas fossem embora. Meu choro aumentou ainda mais quando percebi que as marcas estavam consumindo meu antebraço por completo.

Fim da parte explícita do gatilho.

Mas hoje foi diferente.

Meu coração acelerou e eu pude sentir um calafrio percorrer meu corpo assim que escuto a porta do meu quarto ser aberta.

— Hazza? - escuto a voz tímida da minha irmã e me desespero por não saber como iria esconder as marcas — Maninho? Tive um pesadelo...

Aquilo partiu meu coração, ela precisava do irmão e eu estava ocupado demais pensando nos meus problemas. O quão egoísta eu sou?

Apago as luzes do banheiro e saio de lá com os braços escondidos .

— Oi meu amor, deixa só o maninho pegar um casaco, ok? - ela concorda com a cabeça e eu pego um moletom que ficava grande em mim, tentando ignorar ardência causada pelo tecido em contato com a minha pele — Vem cá, o que aconteceu?

— Não sei... Eu acordei num susto - ela diz após deitar ao meu lado em minha cama e me abraçar apertado — O papai disse que sua guitarra quebrou, você não vai mais tocar?

— Não vou... Eu não posso mais tocar

— Por quê?

— Uma pessoa foi muito má comigo e disse que eu não podia mais tocar, disse que meu sonho de ser uma estrela do rock não me levaria a lugar nenhum

— Hazza, bobinho - ela riu — Essa pessoa está errada! Eu amo ver você tocando e também amo escutar você enquanto canta, não é você que sempre me diz que eu não devo escutar o que os outros falam sobre mim? Não sei se você lembra, mas você me disse uma vez: "Se você está feliz fazendo o que você ama, ninguém pode te falar que você não tem sucesso com isso". Sei que eu só tenho oito anos, mas eu sei que você e o papai não se dão bem e eu imagino que ele tenha te falado que você não teria sucesso, não foca na negatividade, maninho.

— Quando foi que você ficou tão esperta? - perguntei enquanto algumas lágrimas rolavam por meu rosto

— Não chora, maninho, não gosto quando você chora - ela seca minhas lágrimas e deixa um beijo em minha testa — Mamãe sempre faz isso quando eu choro

— Você tem que dormir senão vai acordar com sono amanhã - ela concorda com a cabeça e me abraça mais forte — Eu te amo, maninha, não esquece disso.

— Eu te amo mais!

E assim ela dormiu.

***

Não se esqueçam de votar <3

Oi gente! Vim aqui rapidinho para agradecer a todes que estão lendo a fic, vocês não fazem ideia do quanto isso me deixa feliz. Obrigada de verdade!

La di die [larry stylinson]Onde histórias criam vida. Descubra agora