Em Destruição

Capítulo 36: O traidor agradece.

Soltei o ar com força quando ouvi o som da arma sendo engatilhada, ao mesmo tempo que a pessoa empurrava mais o cano contra a minha cabeça, me fazendo hesitar ao apertar a arma que estava na minha mão.

—Solte a arma! —A voz feminina mandou, enquanto eu olhava pra Ethan, vendo-o apertar mais a garota no seu colo, como se quisesse protegê-la de ver as duas armas que eram apontadas para nós dois. Comprimi os lábios, observando o rapaz jovem que mantinha a arma contra a cabeça de Ethan. Os cabelos negros e lisos, enquanto os olhos eram escuros e levemente puxados, deixando claro a descendência asiática dele.

—Não me importo de ter uma arma apontada pra minha cabeça. —Afirmei, sentindo meu peito subir e descer com força. —Mas seu amigo está apontando uma arma para o meu irmão.

—Vamos atirar nele se não abaixar essa arma! —A mulher sibilou, me fazendo contrair a mandíbula, a ponto do meu rosto doer. O rapaz ao lado dela olhou pra mim. Os olhos se curvando, enquanto as sobrancelhas se franziam, como se ele me conhecesse de algum lugar. Fiz uma careta pra ele, comprimindo meus lábios para não soltar um xingamento. —Solte a arma, agora!

—Amara, espere... —O rapaz murmurou, dando um passo para mais perto, enquanto a arma oscilava nas suas mãos quando indicou a cabeça na minha direção. —Qual o seu nome?

—Hannah Hawking. —Afirmei, observando-o abaixar a arma na mesma hora, enquanto Ethan girava a cabeça para olhá-lo por cima do ombro, como se não entendesse o que estava acontecendo.  Fiz o mesmo, vendo que a mulher que apontava a arma pra mim tinha pele negra e os cabelos longos presos em várias tranças. Parecia jovem também, com o rosto fino e as bochechas cheias, dando aos olhos claros mais destaque.

—Não acredito! —Ela riu, abaixando a arma também, enquanto eu me virava para encara-la, assim como Ethan, que me lançou um olhar confuso, que deixava claro que ele não estava entendendo nada, assim como eu. —Hannah e Ethan Hawking?

—Vocês nos conhecem? —Ethan indagou, erguendo as sobrancelhas, com uma expressão totalmente desconfiada.

—Estávamos procurando por vocês dois. —O rapaz murmurou, abrindo um sorriso tão animado que me pegou de surpresa, porque ele soava realmente contente por estar na nossa frente.

—O que? —Eu e Ethan falamos ao mesmo tempo, arrancando uma risada do rapaz, enquanto a mulher ao seu lado revirava os olhos, como se estivesse ficando impaciente.

—Quer dizer, não estávamos procurando vocês de fato. Nós sabíamos que vocês eram soldados, só não esperávamos encontrar vocês aqui. —O rapaz parou de falar, erguendo a mão para coçar a cabeça, como se tivesse se perdido com as palavras por um segundo. —Isso não faz muito sentido, eu sei. Mas sabemos quem vocês são. Estávamos procurando vocês, ao mesmo tempo que não estávamos.

—Ignorem ele. —A mulher murmurou, estalando a língua quando percebeu que o que ele disse só nos deixou mais confusos. —O negócio dele é lidar com bombas e não conversar com pessoas de verdade.

—Quem são vocês? —Ethan questionou, deixando a garota deslizar para o chão e se esconder atrás das pernas dele, como havia feito comigo no refeitório.

—Amara e Kai. —Amara apontou entre ela e Kai, abrindo um sorrisinho. —Estamos aqui em uma missão oficial, buscando libertar algumas pessoas e levá-las conosco pra fora desse complexo.

—Rebeldes. —Falei entredentes, vendo-a olhar ligeiramente pra mim. Os olhos me avaliando como se ela fosse um predador e eu uma presa. Aquilo me incomodou, porque a ideia que eu tinha deles não era melhor do que a que eu tinha sobre esse complexo.

—A elite dos rebeldes, na verdade. —Kai ergueu a mão, como se quisesse enfatizar esse fato, antes de apontar para a menina atrás de Ethan. —E eu preciso que me entreguem ela, a propósito. Ela se perdeu do grupo e tivemos que voltar, porque nunca deixamos ninguém pra trás.