Capítulo 3

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- H-arry?

- Não, infelizmente não sou o Harry.

A pessoa que não era o Harry (mas se parecia muito com ele) sorriu para mim mais uma vez, como se estivesse se divertindo com meu desespero.

- Você é filho de uma cigana não é? - Olhou para frente e suspirou alto. - Já deve ter ouvido que a morte tem o rosto da pessoa que você mais ama no mundo.

Eu arqueei os dentes, entortando os lábios e diminuindo um dos olhos numa expressão de total "O que porra você tá falando?"

- Como? - Falei em voz alta e ele riu da expressão estranha que eu estava fazendo.

- Sou a morte. - Deu de ombros.

Eu ia falar alguma coisa mas minha boca se fechou no mesmo instante quando ele tocou a borboleta e ela caiu dura no chão, perdendo todas as cores.

Eu não sabia como reagir. Uma das várias opções e a mais convidativa é correr para bem longe mas de algum modo eu não conseguia sair dali.

Ele levantou do chão e eu fiquei em alerta, me arrastando um pouco para trás e arregalando os olhos.

- O que você quer?

- Relaxa, eu não estou aqui pra te levar... - Ele riu, parecendo achar a última frase engraçada. - Eu estou aqui para realizar um desejo seu.

- Desejo?

- Sim, vou te dar a chance de salvar Harry Styles.

- C-como a-assim? Ele já morreu, não tem como ser salvo.

- Acredite em mim quando eu digo que existe uma remota chance de salva-lo. - Parou ao lado da minha mochila e tirou de lá a jaqueta de couro que Styles havia me dado no dia do beijo. - Você está mesmo disposto a fazer isso? Digo, de todo o coração?

- Sim. Eu quero salvar ele! - Digo sem nem ao menos pensar antes.

Ele sorriu para mim novamente, era muito irônico pensar em como a morte adorava sorrir.

- Use isso, você vai precisar. - Jogou o casaco em mim e quase no mesmo instante começou a chover. - Você tem trinta dias, começando agora.

Deu meia volta e começou a caminhar para longe. Eu estava mortalmente confuso, não sabia se isso estava acontecendo de verdade ou era apenas fruto da minha imaginação culpada, estava em estado de inércia.

Era impossível isso estar acontecendo, certo?

- Espera! Por que está fazendo isso por mim?

Ele se virou, caminhando de costas.

- Digamos que eu gosto de você. Considere isso um pedido de desculpas pelo o que aconteceu com seus pais.

E em um piscar de olhos ele não estava mais lá.

Continuei parado por alguns minutos, enquanto uma poça de lama de formava ao meu redor. Se isso realmente estava acontecendo, como eu iria salvar Harry?

Me levantei, vesti a jaqueta de couro e coloquei o capus do meu casaco na cabeça, caminhando lentamente de volta para o prédio.

E assim que entrei de novo na faculdade percebi que havia algo errado.

Estava tudo colorido, barulhento e vivo. Tudo isso tinha se perdido quando Harry morreu, as pessoas tinham se transformando em zumbis fofoqueiros... Ou talvez elas já fossem assim e eu não tinha notado porque Styles deixava aquele lugar melhor de se viver.

Algumas bailarinas de nariz empinado passaram por mim, me empurrando no processo e logo atrás delas alguns alunos do curso de música.

Sorri, sentia falta dessa correria toda.

- Meu Deus, o que aconteceu com você pinto pequeno? - A imagem de Zayn se fez presente na minha frente.

Olhei para mim mesmo.

- O que foi?

- Seu cabelo está horrível, você está todo molhado e parece um mendigo que veio mendigar aqui.

- E qual a novidade disso?

- Sei lá, achei que você teria um pouco de bom senso e se vestiria que nem gente hoje. - Ele revirou os olhos.

- E por que eu faria isso?

- Ai meu Deus, você se esqueceu, não foi? Os olheiros do Ballet Bolshoi estão aqui em busca de novos talentos.

Ballet Bolshoi?

Eles só vieram em Londres uma vez.

- Qual a data de hoje? - Pergunto com um nó descendo a garganta.

- Primeiro de dezembro.

- Você está falando sério?

- Estou. - Ele disse confuso.

Então aquela cena de minutos atrás realmente havia acontecido?

Ele me fez voltar um mês no passado.

Coloquei as mãos na cabeça e comecei a puxar o cabelo com nervosismo. Minha respiração estava pesada, empalideci e senti meu peito se apertar em desespero.

Zayn rapidamente veio até mim e segurou minhas mãos, me impedindo de puxar os cabelos novamente.

- O que houve? Está tendo outro ataque de ansiedade? - O mesmo perguntou preocupado.

- N-não. Você viu Styles hoje?

- Sim, ele está na sala de ensaios mas...

Não consegui escutar mais nada, me soltei de seus braços e corri, corri o mais rápido que conseguia. Pouco me importando se estava batendo nas pessoas ou no que elas estavam pensando de mim. Eu tinha que saber se aquilo era verdade, tinha que saber se ele estava mesmo vivo.

E depois de tropeçar e cair quase sete vezes, finamente consegui chegar a sala de apresentações. Empurrando as duas portas de madeira com toda a minha força e caindo nos meus próprios joelhos ao ver quem estava no palco.

Harry Styles estava na minha frente. De verdade. Tive que me beliscar para saber se aquilo não era apenas mais um sonho.

Rodopiando por todo o palco as vezes se abaixava e rodopiava o corpo todo no joelho esquerdo e em um milésimo de segundo estava em pé novamente. E em um rond de jambe dançou até o início no espaço. Sem sombra de dúvidas aquela era uma das coisas mais lindas que eu já havia visto na vida. Ele não dançava automaticamente como a professora de dança ou como qualquer outra pessoa que eu tenha visto dançar de perto, ele dançava com sentimento, como se entregasse coração e alma em uma só dança.

Nem preciso dizer que todos os olheiros se levantaram para o aplaudir de pé.

Styles apenas agradeceu, sorrindo orgulhoso. E de repende o palco foi invadido pelos dançarinos mais velhos e dois deles o ergueram em seus ombros enquanto o auditório se transformava em uma festa de gritos e aplausos, Styles ergueu as mãos, sinalizando para que todos gritassem mais alto; o que foi automaticamente obedecido.

Ele ficou mais um pouco sobre os ombros dos garotos e depois desceu, recebendo orgulhosos tapinhas nas costas quando os pés já estavam no chão, o círculo de garotos só se afastou dele quando uma bailarina se aproximou, sorrindo e mostrando todos os dentes. Todos gritaram quando Styles a pegou pela cintura e a fez entrelaçar as pernas em volta de seus quadris como se a mesma não pesasse nada. Então a beijou.

Ah.

Styles agora era um bailarino da Ballet Bolshoi (que era uma das melhores do mundo), era popular e namorava a menina mais linda da faculdade.

O que tinha de ruim na vida dele?

Efêmero - [adaptação larry]Onde histórias criam vida. Descubra agora