Chu Wanning • I

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A primeira manhã de outono daquele ano não se estendia prazerosamente em uma brisa refrescante. Mas pelo menos era perfumada. Com um cheiro forte de flores. Incomum para a época, mas para muitos era uma dádiva, ser abençoado com tal fragrância tão cedo no dia.

Para outros, aquele aroma era tão adocicado que chegava a ser doloroso.

E esse era o caso de Chu Wanning. O cheiro enjoativo das flores só não era mais enjoativo que a dor em seu peito. Já não era tão estranho o fato de que sua pequena cafeteria cheirava mais a flores do que a café.

O movimento estava fraco, algo que fez Chu Wanning agradecer aos céus interiormente. Ele não tinha mais tanto fôlego para lidar com muitas pessoas.

Após muitos minutos de “fazer nada além de olhar para o teto”, o sino conectado a porta alertou com seu tilintar agudo que havia alguém entrando.

Os pés cobertos com um belo calçado de couro, lustrado e luxuoso, desfilavam exibidos pelo percurso de caminhada. As pernas eram longas, firmes e elegantes, eram um suporte torneado e pareciam inabaláveis, pois, se moviam com equilíbrio incrível.

O tronco, era proporcional e muito bem formado, sustentando ombros largos e um blazer com mangas que destacavam ainda mais as mãos definidas com veias mapeadas. Seus dedos compridos pareciam tão gentis, faziam as pessoas implorar inconscientemente por carícias, em contrapartida, também pareciam fortes o suficiente para esmagar castanhas entre eles, castanhas, crânios e corações.

Wanning engoliu uma tosse e se apressou para dar um beliscão na própria coxa e voltar a si.

“Meu bem?” O sino tocou novamente e o som de passos de saltos altos preencheu o ambiente. Fedia a perfume caro.

Poucos segundos depois, uma beleza muito familiar segurou o braço do homem dos olhos de Chu Wanning com intimidade e delicadeza. Era uma dama muito bela, tanto que parecia até mesmo surreal. Internamente, Chu queria ao menos chegar aos pés daquela beldade, mas ele acreditava fielmente que alguém jamais olharia para aquele par de olhos inclinados demais e sua pele tão desbotada quanto leite. Ele sabia que não era a exata definição do feio, mas ele também era consciente de que não tinha nem mesmo uma minúscula parte da beleza das pessoas que Mo Ran costumava se relacionar.

Enquanto isso, Mo Ran mudou o peso de uma perna para a outra e deslizou a mão educadamente no ombro da jovem, falando algo no ouvido dela e apontando para uma mesa no canto. Ela assentiu e seguiu na direção apontada, deixando na cadeira ao lado sua pequena bolsa, cravejada com singelos cristais tão transparentes e gelados como gelo e como os olhos de Chu Wanning encarando as costas descobertas, lisas e aveludadas da jovem mulher que até certo ponto, estavam expostas, sentindo mais uma vez o desconforto subindo em sua garganta mas forçando-se a não expor sua situação. Qualquer um imaginaria que eram olhos pecaminosos sobre o corpo de uma mulher. E eram. Cheios de ciúmes muito bem escondidos.

   “Wanning? Eu… bem, tentei te ligar mas você sumiu. Algo aconteceu?” Mo Ran falou, dando dois passos para frente, se aproximando, enquanto Wanning cautelosamente e de maneira discreta se afastava, procurando manter uma distância segura. Até mesmo seu maldito hálito tinha o maldito cheiro enjoativo das malditas flores.

   “Meu celular quebrou. Não vou comprar outro.” Respondeu, direto, evitando contato visual porque sabia que aquilo apenas o mataria mais rápido e não dando espaço a mais algum tipo de resposta ou algo subentendido. Não havia razões para comprar um celular novo de qualquer maneira. Ele tinha um total de quatro contatos. Um deles pertencia a uma pessoa morta, outro ao dono do espaço onde sua cafeteria estava instalada e o número do filho desse homem, Xue Meng, que até era uma criança simpática mas passava tempo demais com ele alí, quando não estava na escola, então raramente o contatava pelo celular, e por fim, Mo Weiyu… que era um contato ocasional.

Hanahaki disease - ranwanOnde histórias criam vida. Descubra agora