Carvoeiro

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— E você a beijou? Isso é meio estranho, tô ficando preocupada com você. — Carina perguntou depois de ouvir o longo desabafo de Andrew sobre o dia anterior.

— Ela não recuou, achei que ela queria, mas ela ficou tão séria. — Ele suspirou. — Eu vi tanto sentimento nela, achei que ainda tínhamos chance, agora que já era.

— Já vi todo tipo de relação, Andrea: Casual, séria, monogâmica, não-monogâmica, amizade, inimizade, triângulo, círculo, já estive em todas, e acabam sempre do mesmo jeito. Isso nunca dá pé, desite mesmo.

— Fala isso porque não se acertou com a Amelia ainda, que aliás, você nunca não desistiu.

— Nem precisei. — Ela virou um gole do whisky que eles estavam bebendo na varanda. — Ela desistiu de mim.

— Quem disse? Você mesma acreditava que quando voltasse da Itália vocês ficariam juntas para sempre, no Rio ou em São Paulo. — Ele imitou a voz dela.

— Isso era o que eu inventava, a realidade é outra coisa. Você pode inventar que a Meredith vai largar o Nathan e voltar para seus braços, mesmo você indo embora do Rio como um idiota e depois fugindo para Itália, mas, não vai acontecer.

Carina não poderia estar mais errada.

Três dias depois do almoço deles, a dúvida ainda martelava na cabeça de Andrew, tinha prometido pra si mesmo que não seria inconveniente, o silêncio dela era bem claro. Já a Meredith, discava o número dele várias vezes no dia, pensando que se deixasse se envolver, não teria volta, não era o recomendado, mas era o que ela queria. Ele estava trabalhando na agência, tinha entrado cedo e durante uma reunião viu no visor do celular o nome dela, pediu licença, saiu da sala e atendeu no terceiro toque.

— Alô? — Ele não conseguiu controlar a empolgação no tom de voz.

— Tentação. Substantivo feminino. Impulso para a prática de coisas censuráveis. — Ele sorriu a ouvindo. — Quer fazer alguma coisa hoje?

— Claro, sempre!

— Me busca na Nobis as dezenove horas. Um bom dia, Andrew. — E ela desligou.

O dia não poderia ser melhor, apesar de não ter conseguido focar em mais nada no trabalho. A ansiedade — a boa — o consumiu o dia inteiro, ele montou diálogos em sua cabeça e imaginou vários cenários onde todos terminavam com um beijo e juramentos eternos.

Meredith avisou Nathan que sairia com Andrew, ele não era o maior fã da ideia, mas não reclamou, com ela era só um passo em falso para desmoronar, ele estava apaixonado disposto a aceitar o que fosse para estar ali no conforto desconfortável da relação. Desde o começo, ela se envolveu para mostrar a si mesma que não tinha bloqueio emocional nenhum, que poderia sim estar em um relacionamento, e também para se convencer que não pensava mais no italiano e que tinha sido estúpida o suficiente para perde-lo, mas, falhou duas vezes, e ter o Andrew por perto de novo, era confuso.

Quando deu a hora do "encontro", Deluca estava, novamente, encostado no carro com um sorriso patético esperando a mulher que mexia com todas suas estruturas. Quando ela o viu, tentou ao máximo controlar a vontade de sorrir e falhou.

— Chaves. — Ela estendeu a mão esperando ele lhe entregar a chave do carro.

— Você vai dirigir? Meu carro é novo!

— Eu dirijo bem, vai logo, quero te levar para um lugar sua cara. — Ela sorriu, e com aquele sorriso ela conseguiria ter o que quisesse dele, inclusive as chaves.

Ela era a pior motorista que ele tinha visto na vida, ele disse isso e ela nem teve tempo de responder, porque metade de São Paulo estava buzinando para ela. Era "horário de pico" e a péssima motorista fez as piores escolhas os levando por um trânsito infernal, mas ela estava rindo e achando as reclamações do Andrew super divertidas.

Ela finalmente estacionou na frente de um lugar aberto, com várias mesinhas e cadeiras e alguns garçons passeavam entre elas, na frente, tinha um palco iluminado por luzes led, com microfone e uma televisão do lado, uma mulher estava cantando desastrosamente. Um karaokê.

— Tcharam! — Meredith gritou empolgada depois que eles desceram do carro. — Gostou?

— Eu adorei. Você vai ir cantar para mim?

— Só se você cantar para mim. — Ela segurou a mão dele de maneira espontânea e o arrastou para uma mesa.

Eles passaram pelo menos duas horas só conversando e bebendo, viraram os maiores críticos do bar. Quando já não controlavam mais o tom de voz e as risadas, a Amelia chegou com a Callie.

— E ai casal? — A Shepherd sentou na mesma deles provocando.

— Não fui eu que convidei. — Meredith disse levantando os braços como se estivesse se rendendo.

— Ih, estamos realmente invadindo o date, Amelia. Deixa o Nathan saber.

— Não tem nada para ele saber, até poderia, mas vocês atrapalharam. — Andrew brincou e a Grey revirou os olhos.

— Por que vocês tão sentados? Bora cantar! Vamos, Mer.

Amy pegou ela pelo braço e arrastou para o lado do palco, elas demoraram pelo menos cinco minutos para escolher a música e fizeram a mais previsível: Menina Veneno. Cantaram desastrosamente, mas foram aplaudidas pela simpatia. Depois o Andrew cantou Mais Uma Vez, ele cantava realmente bem, e a maioria das mulheres se derreteram, com razão. Os quatro cantaram Linger juntos, e claro que soou como uma declaração entre os dois, mas ignoraram ad piadas de Callie e Amelia e fingiram que não.

— Tá gostando? — Meredith perguntou arrumando um cacho do cabelo de Andrew enquanto as meninas estavam no banheiro.

— Muito, você sempre me surpreende. — Ele sorriu.

— Desculpa pelas meninas, eu comentei que ia te trazer aqui e...

— Relaxa Mer, a Callie é namorada da minha melhor amiga e a Amelia minha futura cunhada, eu gosto delas.

— E de mim? — Ela disse brincando.

— Você sabe a resposta. — Ele segurou a mão dela por cima da mesa.

Ela queria entrar no assunto delicado, mas não queria estragar a noite perfeita que estavam tendo, então do deixou ele tocar sua mão e se deixou se perder no olhar dele. Aquilo tudo era muito perigoso e irresponsável, ela tinha um namorado incrível e só pensava em beijar o Andrew, e saber que o beijo dele é ótimo, só dificultava.

Em questão de segundos, eles sentiram as gotas de água em seus corpos, estava começando a chover e todo espaço era aberto, eles se olharam e saíram correndo do bar, ela sempre frequentou o lugar, então sabia que não teria problemas em deixar a conta pra outro dia. Andrew e Meredith pararam do outro lado da rua em uma fachada coberta.

— Melhor a gente ir pro carro.

— Espera as meninas, se não elas não vão achar a gente.

— Mas você tá se molhando.

— O que tem? Tá na chuva é pra se molhar. — Ela sorriu.

— Aham, mas só até você ficar resfriada. — Ele disse colocando a jaqueta dele nos ombros dela.

Eles ficaram uns minutos esperando até a Callie avisar que elas já tinham ido embora. Os dois correram até o carro, as chaves estavam no bolso da jaqueta, Andrew se aproximou e colocou a mão no bolso de mesma, Meredith colocou a mão por cima da dele, atraindo seu olhar, a mão dela estava quente e a dele fria, aquele contato causava um choque térmico interno em ambos, os dois sabiam o que estava acontecendo ali, e o quão era errado, mesmo sabendo, juntaram os corpos e iniciaram um beijo, calmo e molhado, por conta da chuva. Ele apertou a cintura dela e a empurrou contra o carro, o beijo tranquilo de antes virou quente e desesperado, ela puxava levemente o cabelo dele, até ele se afastar.

— Desculpa, eu... Você namora... A gente devia ir com calma...

— Não! Vamos pra sua casa. — Ela tirou a chave do bolso e entregou para ele.

Entraram no carro e fizeram o caminho em silêncio, ou quase, já que a Meredith estava quase em cima dele, beijando seu pescoço enquanto ele tentava focar em dirigir.

ClareiamôOnde histórias criam vida. Descubra agora