01°♥︎ Emoção

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Narração de Hectos

Era um dia de chuva intensa, os pingos caíam pesadamente no chão, proporcionando-me um relaxamento nos braços da minha deusa. Seus braços magros e confortáveis me faziam sentir seguro. A noite já havia caído, e a chuva só aumentava. Camilla estava comigo, e tínhamos planejado passar o fim de semana juntos para celebrar nossos dois anos de namoro. Eu estava imensamente feliz, ou melhor, era o homem mais feliz do mundo por tê-la ao meu lado. Ela completava o que faltava em mim, me fez enxergar a vida de outra maneira, sentir borboletas no estômago ao seu toque, algo incrivelmente maravilhoso para um homem apaixonado como eu. Seu sorriso e seus beijos sorridentes me desarmavam completamente.

Ela é uma das pessoas mais sensatas que conheço, sempre disposta a ajudar quem precisa. Conquistou meu coração durante um evento do colégio,  quando eu tinha dificuldades com uma matéria. Ela se aproximou sorridente, como se para ela a vida fosse perfeita. Seus olhos negros me encantaram desde aquele momento.

Estávamos assistindo ao filme "Crepúsculo" na Netflix, um dos nossos romances favoritos. Decidi que pediria sua mão em casamento no dia seguinte, assim que ela acordasse, estaria ajoelhado, pronto para dar todo o amor que ela merece. Minha mãe me ajudou a comprar a aliança.

Estávamos abraçados, assistindo ao filme, quando ela recebeu uma ligação urgente de sua mãe, pedindo que voltasse para casa rapidamente, pois precisava cuidar do seu irmão caçula, já que a irmã mais velha teria que ficar de plantão no hospital de última hora.

Camilla: "Minha mãe!" - apontou para o celular - "Vou ter que ficar com o MEU irmão, ela terá que ficar de plantão no hospital hoje!" - fez um biquinho fofo, amolecendo meu coração.

Hectos: "Eu vou com você então!" - levantei-me do sofá.

Camilla: "Não precisa! Fica aí, assim que ela chegar eu volto para ficar com você!" - caminhou até a porta com seu andar desengonçado, suas madeixas curtas, negras e lisas balançando - "Nosso fim de semana ainda está de pé!" - sorriu, seus lábios rosados eram tão lindos.

Então, decidi ficar, já que era uma oportunidade de preparar a surpresa para ela enquanto estivesse ausente.

Hectos: "Tá bom! Te espero ansioso!" - dei um beijo em sua testa - "Melhor ir com você, está chovendo muito!" - olhei pela janela, o frio e o sereno dominavam a escuridão lá fora.

Juro que, se soubesse, teria lhe dado o melhor beijo que nunca dei antes.

Camilla: "Sou melhor que você no volante!" - piscou o olho, vestiu sua jaqueta de couro e sorriu, deixando seus olhos ainda menores.

Fechei a porta e respirei fundo. Comecei os preparativos da surpresa, e minha mãe me ajudou. Ela sempre me apoiou em tudo e sempre gostou da Camilla.

Comprei balões em formato de coração, escrevi um texto enorme que coloquei em um envelope vermelho junto com os chocolates que ela adorava, arrumei tudo em uma cesta e coloquei sobre a cama. Estava animado e feliz, mas o nervosismo tomou conta de mim, ansioso pela reação dela, pois ela sempre sonhou em se casar comigo.

Espalhei velas pelas mesinhas de canto e pétalas vermelhas pelo chão. Tomei um banho, e já eram quase duas horas da madrugada. Esperava ansioso por seu retorno, que seria por volta das seis da manhã, quando seu pai buscaria o irmão para passar o fim de semana com ele. Mal consegui dormir.

Acariciei a caixinha de alianças enquanto sorria, respirando fundo. Adormeci e acordei assustado com a claridade invadindo meu quarto. Eram 5:40 da manhã.

Ouvi alguém bater na porta, meu coração disparou.

Hectos: "Entre!" - levantei-me da cama.

Terê: "Filho!" - colocou a cabeça dentro do quarto.

Hectos: "Entra mãe! Achei que era a Camilla!" - sorri.

Vi minha mãe abaixar a cabeça, e a felicidade em meu rosto se desfez.

Hectos: "O que foi? Que cara é essa?" - caminhei até ela.

Terê: "É a mãe da Camilla no telefone! A Milla sofreu um acidente enquanto ia para casa, filho!" - uma lágrima desceu de seus olhos, e sua voz ficou rouca de repente.

Hectos: "O que? Meu Deus! Ela está bem? Mãe? Deixa eu falar com ela!" - estendi a mão, mordendo os lábios para controlar a vontade de chorar que vinha com tudo.

Terê: "Sinto muito, filho! Ela disse que foi grave! E a Milla não, não..." - abaixou a cabeça, segurando o pulso no nariz.

Hectos: "Como? Isso não pode estar acontecendo, não! Por favor, Deus!" - deixei a caixinha de aliança cair, junto com meu corpo pesado no chão, sentindo uma escuridão invadir minha alma, meus olhos se encheram de lágrimas, e revivi cada segundo que tive com ela em minha mente, passando como um filme. Gritei alto, e minha mãe me abraçou forte.

Hectos: "Camilla! Camilla! Não, não! Mãe, por favor! Não! Isso não pode ser verdade." - parecia que o mundo havia desabado sobre mim, e juro que não soube ser forte, não soube lidar com a dor de perder o amor da minha vida.

Hectos: "Foi culpa minha, mãe! Eu deveria ter ido com ela, deveria ter sido eu no lugar dela! Por que, Deus?" - olhei para cima, enquanto minha mãe segurava meu rosto.

Terê: "Filho! Não fale besteira! Não foi culpa sua! Para de falar isso!"

Hectos: "Deveria ter insistido mais em acompanhá-la, ou, ou!" - chorei alto.

Terê: "Você não podia fazer nada, filho! Olha pra mim!" - olhei para ela, em lágrimas, e ela continuou - "Você precisa ser forte agora! Tá?" - me abraçou forte.

Perder Camilla foi a pior coisa que me aconteceu, a pior dor que já senti desde que me entendo por ser humano. Ela era a luz dos meus dias, o conforto do meu amor, a dona do coração mais lindo e puro e do sorriso mais esplêndido. Eu não entendo as vontades de Deus.

Hoje já faz quase um ano que isso aconteceu. Estou no meu quarto há meses, emagreci quase cinco quilos, não consigo me redimir. Sei que deveria me esforçar mais, mas não dá, minha vida não continua sem a Milla! Ela era parte de mim, éramos unha e carne.

Não consigo voltar à minha rotina normal, nem consegui me despedir dela no velório. A dor despedaçou meu coração, deixando-me completamente incapaz de seguir em frente.

Tento ser forte para não preocupar minha mãe, me afastei da faculdade e dos poucos amigos que tinha.

Hoje não consigo ser nem a metade do que já fui.








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