As cinzas

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Jane


Íris desenhava graciosamente sua caligrafia pelo papel amarelado. A luz do sol iluminava seus cílios escuros e fazia a pele sua cintilar. Era a visão mais linda que eu já tive o privilégio de testemunhar. Nix ronronou em meu colo, como se concordasse com meus pensamentos. 

— Por que vocês duas estão me olhando assim? — Íris perguntou confusa levantando seus olhos da carta que estava escrevendo. 

— Você está literalmente escrevendo o que decidirá se pessoas morrem ou não — falei acariciando os pelos de minha gatinha. — Isso torna você a mulher mais poderosa do mundo, e eu tenho uma queda por mulheres poderosas. Acho que Nix também. 

Íris inclinou a cabeça e sorriu. 

— Você fez essas leis, estou apenas as ratificando. — Disse voltando a escrever. 

— Eu não fiz essas leis, elas já existiam antes, você sabe disso. Só estamos lembrando aos vampiros que elas existem e, porque existem. 

Íris não se incomodou em olhar para mim quando falou:

— Não lembro existir uma lei contra assassinatos de vampiros, ou lobisomens, ou bruxas… 

— Certo, mas em minha defesa, essa é
uma lei necessária! — Repliquei. 

— É claro que é, Líriozinho — ela falou largando a caneta esferográfica, e colocando a carta em um envelope em tom de pastel. — Acabei com as leis intermináveis, você pode replicar a carta agora. 

— Você é perfeita, eu já disse isso? — Perguntei. 

— Todos os dias. — Íris sorriu calorosamente, e seus olhos vermelhos brilharam.

— Que bom, eu seria burra se não dissesse — levantei da cadeira e apoiei minha mão na mesa para pegar a carta. Os olhos de Íris me acompanharam. 

Estendi minha mão sobre sua carta e pensei em como queria que elas se multiplicassem em várias. Eu havia conseguido fazer isso com vovó, conseguiria fazer sozinha. Meu poder era baseado nos meus desejos e em emoções. Me concentrei no quanto queria fazer aquilo, e quando percebi, a única carta que Íris escrevera havia se transformado em dezenas. 

Íris bateu palminhas e Nix balançou seu rabo elegantemente em comemoração. 

— Sua avó ficará orgulhosa, Jay — disse ela pegando uma das cartas para iniciar a anotar o nome de cada um dos clãs. — Eu estou orgulhosa. 

Sorri observando a caligrafia perfeitamente desenhada de Íris conforme ela escrevia os destinatários de cada carta. 

— Ela diz que eu sou mais talentosa do que ela jamais foi, ou do que minha mãe… — Suspirei. — Mas às vezes acho que Myra só está colocando expectativas demais em alguém que ela passou tanto tempo procurando. 

Íris parou de escrever e me encarou. 

— As pessoas discriminavam você por uma razão, Jane, e certamente não era porque você era fraca. — Ali estava o tom de repreensão dela. Íris odiava quando eu não acreditava em mim mesma.  

Suspirei. 

— Que belo casal formamos, hein? Duas deslocadas…

Íris inclinou a cabeça, como uma gata analisando sua presa.

— Eu havia passado por aquele campo milhares de vezes, sabia? — Perguntei. — Algumas vezes torturava… Bem, você sabe o nome deles. Mas não podia chamar muita atenção para mim. O Brasil não é exatamente um lugar para uma vampira visitar...

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⏰ Última atualização: Nov 27, 2021 ⏰

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