Ato IV

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  Já era tarde quando Kokonoi havia ido embora, todos os funcionários da casa já haviam se retirado, e eu não encontrava Mikey em lugar algum na casa é provável que ele esteja em seu escritório e então receosa vou até lá, dei algumas batidas na porta e abro, ao olhar vagarosamente no local vejo que o seu escritório está escuro, pouca iluminação e apenas uma pequena parte da janela estava aberta dando a claridade necessária, vou entrando devagar ao cômodo e fecho a porta, olho em direção à mesa e vejo que mikey estava lendo alguma papelada, que por sinal sua mesa estava abarrotada de papéis.
  -Oi? -. Digo enquanto ando em passos lentos até sua mesa.
  -Oi -. Ele me responde largando seus papéis sobre a mesa.
  Me sento na cadeira a sua frente e ficamos em silêncio durante uns segundos.
  -Não precisa sentar nessa cadeira, pode se sentar aqui no meu colo -. Ele fala olhando em meus olhos e faz um leve sinal com as mãos para que fosse até ele e volta sua atenção aos papéis.
  -Me oferece seu colo mesmo sabendo que irei olhar tudo o que tem em cima da sua mesa? -. Falo descontraída e me levanto indo até sua cadeira.
  Ele volta a me observar e atentamente segue cada movimento que meu corpo faz até chegar nele e quando chego ao seu lado ele me oferece seu colo, ao me sentar em seu colo sinto seu calor que atravessa o fino tecido de suas vestes e ele segue me dando beijinhos no ombro, acabo me rendendo aos seus carinhos e faço um cafuné nele, ficamos assim até ele me dar um leve beijo e voltar sua atenção aos papéis.
  -Mikey... não mente pra mim -. Falo me apertando em seu corpo magro.
  -Eu não menti, jamais mentiria só quero deixar você de fora disso, as coisas saíram do meu controle -. Mikey larga os papéis e passa a suspirar pesadamente, em demonstração de cansaço ele joga seu corpo todo para a cadeira e suspira mais uma vez.
  -Fala comigo... -. Peço mais um vez, não é minha intenção pressionar ele até que ele fale comigo, então preciso ir aos poucos com ele.
  -Esse jantar... Preciso que tome cuidado ok? -. Ele me olha sério, a tempos não via seus olhos sem brilho algum, sinto vontade de chorar novamente mas afasto essas sensações de angústia, "se for pra chorar que seja sozinha sem ser na presença dele" penso, tudo que o Mikey iria precisar agora era de uma mulher descontrolada ao seu lado, preciso manter a calma e ser a melhor companhia pra ele.
  -Preciso me atentar a algo nesse jantar? -. Falo enquanto me endireito em seu colo e começo a olhar as papeladas que estavam sob a mesa, haviam relatórios de saídas e entradas de dinheiro em contas fantasmas, criação de empresas no exterior e depósitos milionários e todos em nome de Mikey.
  -Estão tentando te incriminar ? -. Falo enquanto olho atentamente a papelada tentando soar o mais calma e tranquila possível por fora, por dentro sinto meu estômago revirar e meu corpo se cobrir de calafrios.
  -Querem minha cabeça sendo entregue à polícia, Naoto já me contou que houveram várias denúncias relacionadas a mim no departamento de investigação -. Ele diz olhando pra mim, Mikey pega uma mecha de meu cabelo e passa para atrás da minha orelha e move suas mãos até meu rosto para fazer carinho em minha bochecha, ele passa seus dedos frios em meu rosto de maneira tão delicada que em qualquer sinal de força bruta eu poderia desmanchar em suas mãos.
   -Você precisa ter cuidado agora, por que quer um jantar logo dentro de casa ?-. Falo e me desvencilho de seus toques colocando os papéis de volta a mesa, aos poucos sinto meu corpo pesado com essas informações e apoio meu rosto em minhas mãos.
  -Preciso manter meus inimigos por perto, sabe disso -. Ele faz carinho em minhas costas. - Quero que tenha em mente que qualquer coisa pode dar errado nesse jantar, e caso isso aconteça você vai ser a primeira a sair dessa casa entendeu ? -. Mikey me vira pra ele com força, sinto desespero e medo em suas palavras, ele em frações de segundos se tornou alguém totalmente diferente do estava comigo a pouco segundos atrás, agora ele estava com a respiração ofegante e com os olhos profundos que exalavam medo.
  -Eu não vou pra lugar nenhum sem você -. Falo olhando atentamente em seus olhos, dou um leve sorriso pra ele, sinto seu corpo enrijecer mas finjo não me incomodar com isso. -Se for pra algo acontecer eu jamais sairei do seu lado, foi isso que prometi no altar lembra ? -. Abraço Mikey e sinto seu corpo tremer, "você nem deve ter dormido direito" penso enquanto sinto seu abraço.
  Há muito tempo atrás Mikey sofreu ameaças de outras gangues que queriam tomar seu lugar, em todas essas ameaças eu nunca havia visto ele tão frágil como está agora, mas eu entendo seus motivos, ele não consegue aguentar mais traições e perdas, e dependendo de quem seja esse traidor a dor que ele está sentindo agora não irá se comparar ao que ele irá sentir quando descobrir quem está por trás disso.
  -Você é tudo que me sobrou... -. Ele me aperta entre o abraço, sinto sua respiração pesada e seu coração acelerado, me dói ver ele assim, preciso fazer algo para ajudá-lo.
  -Eu sei meu amor, eu sei -. Falo fazendo carinho em seu cabelo. -Vamos deitar antes que você durma aqui -. Me levanto e pego em sua mão guiando ele pra fora de seu escritório, hoje seria um dia difícil pra que Mikey caia no sono, e provavelmente ele não tenha dormido na noite de ontem, logo suas olheiras iram começar a ficar fortes e escuras como ficava no passado.
  -Eu... não quero dormir... não consigo -. Ele para bruscamente no meio do caminho, o que me faz voltar para trás imediatamente.
  Percebo que aos poucos Mikey está se quebrando por dentro, se tornando vazio.
  -Que tal se tomar algo para dormir hoje ?-. Olho em seus olhos em busca de que ele aceite minha condição, a medicação dele é algo difícil de ser falado entre nós, já tivemos muitas discussões com isso, então eu apenas deixei de lado e tento fazer com que ele tome apenas em casos extremos, como este.
  Após o meu pedido Mikey ficou meio inseguro mas acabou aceitando, ficamos abraçados até que ele caísse no sono profundo devido ao remédio, passo meus dedos levemente em seu rosto fazendo carinho e não consigo evitar de sorrir, queria que tudo isso passasse logo, olho em volta de nosso quarto e vejo algumas fotos que temos e de repente observo uma de suas maiores lembranças, o dia em que nós nos conhecemos, não foi um dia memorável pois foi cercado de acontecimentos horríveis.
  Sorrio enquanto me lembro desse dia, fazia algum tempo em que não falava com o pessoal da minha antiga gangue, uma gangue só de mulheres, éramos indestrutíveis e inseparáveis, eu não tinha a mesma ambição de Mikey em se tornar a maior gangue do Japão, mas queria construir uma família onde a gente pudesse se apoiar uma na outra, nessa vida de gangue existem muitas em que crimes contra a mulher é algo normal, criei essa gangue para que isso jamais acontecesse, quando chegava até nós a informação de alguma mulher foi machucada por alguma gangue nós íamos atrás, ficamos conhecidas por toda Tokyo, dava pra sentir o medo deles quando eles percebiam que nós havíamos chegado.
  Quando conheci Mikey foi no pior dia da minha vida...
 

Entre o céu e o inferno (Mikey x Reader) Onde histórias criam vida. Descubra agora