Capítulo 9.

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Apesar de eu estar adorando a casa passar pelo corredor me dava arrepios, ver o quadro do pai e da avó de Artur me encarando era sinistro, os olhares pareciam me acompanhar e o chão gelado era como se eu estivesse presa em um filme de terror. Puxei as mangas do moletom e pela enorme janela de madeira no fim do corredor, pude ver o sol começar a nascer bem longe. A escada estava contra a luz, o que fazia lá em baixo se tornar bem mais escuro, já que as cortinas não estavam abertas, me arrisquei a pôr só um pé no primeiro degrau e respirei fundo antes de descer.

— Droga, Artur. Por que não concertou a droga do banheiro do quarto?! — falei baixo comigo mesma e em tom enfurecido, enquanto desci rapidamente a escada. Faziam dias que eu pedia para ele concertar a encanação velha do banheiro de cima ou ao menos chamar um encanador, isso me obrigava a descer toda vez que estivesse apertada, era irritante. Fiz o que eu tinha que fazer e senti um alívio imenso, como se os anjos descessem do céu e a paz pairasse no mundo.

— O que está fazendo? — a voz masculina me surpreendeu, me assustei e contorci as pernas para perto do vaso, abri os olhos e o sorriso de alívio em meu rosto se desfez.

— Você nunca viu uma pessoa fazendo xixi? Que susto! — resmunguei, puxei o papel higiênico com força e furiosa por Artur ter atrapalhado o meu momento de paz extrema.

— É que, sei lá! Você parecia tão contente, pensei que estivesse fazendo outra coisa, se é que você me entende. — um sorriso de canto irônico e sacana formou-se em seus lábios finos e ele saiu, me deixando sozinha e de bochechas vermelhas. Após me limpar, me vesti e fui atrás dele, que estava na cozinha servindo um copo de whisky. As pessoas geralmente bebem água para começar o dia bem e para a própria saúde, mas Artur não. Ele bebia, bebia e bebia; parar de fumar o fez beber o triplo, e ainda mais me fez ter que beber junto com ele, nem que seja uma taça de vinho para o acompanhar todas as noites. — Você já vai se vestir? Precisamos pegar a sua família no aeroporto antes do almoço. E não esquece, a consulta é às oito!

— Você não precisa me lembrar isso toda hora, Artur. — revirei os olhos e abri a geladeira, faziam três dias que ele estava sem dormir depois que marquei com o ginecologista, ele falou que estava preocupado com a minha saúde, mas eu sei que ele está mais preocupado ainda em se redimir com os meus pais. — Além do mais, não sei porque insistiu em pagar as passagens de avião, não é tão longe, eles poderiam vir de carro.

— Claro que não! Eu quero que seja tudo perfeito, pegá-los no aeroporto não vai ser nenhum problema, assim o seu pai não se estressa na estrada e... desencana, meu bem. É a primeira vez que eles viajam de avião, ganharam uma experiência nova. — disse, tomando os ovos que estavam em minhas mãos e me ajudando a colocar algumas coisas sob o balcão. — Você acordou tão cedo, tem certeza que não está ansiosa para nada?

— Como não acordar, hein? Você toda hora se remexendo, a Jade choramingando e a droga do frio me faz querer ir ao banheiro a cada uma hora! — falei, fechei a geladeira com o pé e comecei a quebrar ovo por ovo em uma tigela.

— Nossa, você me assusta fazendo isso. — ele arregalou os olhos com o meu gesto e se afastou. — Por favor, não se atreva a tratar os meus amigos assim!

— Idiota. — dei risada e balancei a cabeça negativamente. — Preciso ver Hermione antes da bebê nascer, esses dias estão tão corridos.

— Logo tudo vai se acalmar. — falou, se aproximou logo em seguida e posicionou o corpo bem atrás do meu, apoiou as mãos em meus ombros e subiu massageando a região do trapézio. Os três últimos dias haviam sido apenas correria, organizar a casa, tirar alguns móveis, coisas e mais coisas foram para doação, limpar os mim quartos e tirar todo o morfo e o cheiro de ácaro não foi uma tarefa tão simples. Cuidar do emocional era complicado quando uma coisa que já não acontecia voltou a acontecer, o sangramento por mínimo que fosse era constante, meu corpo não estava bem e gritava por socorro, e esperar pelo melhor ginecologista de Nova York só me deixou mais ansiosa, nas eu estava bem. Em meio ao caos a carreira de jornalista ficou esquecida, todos os meus planos e os meus sonhos, prometi para mim mesma investir nisso, no meu sonho, estudar mais se for preciso e me especializar na área investigativa.

Meu Amado VizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora