1 - Quem sou eu

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Abril. Uma noite qualquer no meio da semana. Eu já estava cansada e com os pés inchados, cabeça doendo, toda suada quando cheguei em casa. Sair de casa já não é mais para mim.


Desde que comecei a trabalhar em casa, digitando e traduzindo eu passei a gostar mais e mais da segurança e do aconchego do meu humilde lar. Este cantinho que eu chamo de lar é um pequeno apartamento no centro da cidade, onde cuido das minhas plantas e do meu gato, assisto minhas séries, invento minhas receitas na minha pequena mas aconchegante cozinha.


A vida não está ruim. Contas pagas, lugar tranquilo para viver, trabalho sempre aparecendo.O problema é quando saio de casa. Gente falando alto no mercado, luzes fortes no rosto, pessoas se esbarrando e trocando grosserias... Definitivamente eu prefiro o sossego do meu lar.Mas... Nem tudo é perfeito, eu sei... E alguma coisa sempre falta.


As vezes acordo no meio da noite desejando alguém que morda meus ombros, me segure e aproveite o momento do meu corpo relaxado, sem oferecer qualquer resistência para descer a cabeça até o meio das minhas pernas e... putz, como eu sinto falta disso.


Minhas últimas relações já tem um bocado de tempo que acabaram. Ela era uma mulher carinhosa e atenciosa, e sabia fazer uma pessoa gozar como ninguém. E ela amava fazer uma mulher gozar. O problema é que ela amava tanto isso que fazia com várias pessoas, como eu acabei descobrindo depois. Antes dela, namorei um rapaz que eu achei lindo desde a primeira vez que vi. Assim como eu, ele também curtia ficar em casa... mas não tirava os olhos (e as mãos) do videogame... nunca. Eu ficava ali ao seu lado, igual uma das almofadas do sofá, só esperando o momento em que ele resolvesse deitar a cabeça pro meu lado e dar um pouco de atenção. Depois de algumas discussões eu simplesmente pedi para ele ir embora. E ele foi.


Engraçado é que apesar de sentir falta de um companhia para o meu dia a dia, alguém para assistir Netflix junto e traçar teorias sobre os próximos episódios das séries, eu não sei se vejo isso como uma atividade íntima.


Ver TV, cozinhar, tomar cerveja ou os drinks que resolvo inventar com o que tiver em casa... tudo isso é para mim entra numa categoria de atividades para serem feitas com amigos. Não que eu tenha muitos. Bem poucos na verdade, e quase nunca os vejo.


O que sinto falta mesmo, de verdade no que diz respeito à esfera íntima da minha vida, é o sexo. Sinto falta de gozar feito louca, até não poder mais e cair na cama (ou no chão) com o corpo todo mole igual geléia, sem forças para mais nada, só sentindo aquela sensação de ter chegado ao limite. Essa sensação, de minutos (ou às vezes horas) onde mergulho neste estado entorpecido do pós gozo, onde meu corpo fica ali, inerte, pesado e ofegante, sem conseguir nem se mexer, e só tendo alguns pequenos espasmos retardatários dos orgasmos que ainda estão se despedindo...


Eu quero muito isso... Mas só essa parte. Sem o estress de ficar mendigando atenção, ou ter que lidar com traições e desconfianças... Quero só a parte boa das relações. Depois cada um vai para sua casa e vida que segue, pelo menos até a próximo encontro, o próximo orgasmo.


Por isso decidi que de agora em diante, vou procurar pessoas exclusivamente só para isso. Sem amarras ou outras questões para lidar. Se depois disso alguma relação evoluir para algo mais sentimental ou emocional, tudo bem. Mas isso vai ser uma consequência, e não um objetivo.Então decidi que primeiro vou conhecer o sexo da pessoa, e talvez (e bota talvez nisso), se eu quiser, daí vou conhecer outras coisas do indivíduo.


Então, se esse é o ponto de partida, o plano agora é começar a busca. E é claro que vai ser online. Obviamente não vou chegar numa pessoa estranha no mercado e dizer: "E aí, bora trepar?"... Bom, até poderia, mas ainda acho que online é mais seguro.


Por isso entrei em alguns aplicativos para tentar a sorte. Escolhi 3. Um é um app de namoro mesmo, mas eu sei que a maioria das pessoas estão ali só procurando uma transa, e todo mundo ali está OK com isso. 


O outro é um específico para sexo, tem até site com assinatura, e tal... Mas vou manter um perfil básico e gratuito para ver qual é a pegada disso primeiro. 

O terceiro é um que descobri faz pouco tempo que existia. É um aplicativo específico para fetiches e fantasias, sem nada de sexo "comum". Talvez tenha algumas coisa interessantes. Vamos ver.

É isso, 3 perfis, em 3 locais diferentes, e vamos ver no que dá. E óbvio que como não sei ficar sem escrever, vou separar um tempinho aqui para ir narrando essa jornada neste meu diário. 


Aqui nasce a experienciadora. É esse nick mesmo. Porque não é aénas vivenciar ou experimentar que está jogo aqui. É vivenciar a experiência (ou melhor, experiências, no plural). Foi uma grata surpresa saber que ninguém usava esse nome ainda nos aplicativos... Eu sei, é um neologismo, um adjetivo criado baseado no verbo experienciar, mas é o que melhor define mesmo... Experienciadora... Me desejem sorte.

A ExperienciadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora