Sol de Malibu

A grande ideia de Daisy

        Já se passaram duas horas desde que eu cheguei em casa com a perna ensanguentada e o coração partido. Já fazem duas horas que espero uma ligação de August dizendo que foi uma péssima e tudo foi efeito da bebida, mas no fundo, sei que ele não vai ligar, e isso dói.
         Me levantei da cama bagunçada e me fui até o banheiro ver como estava. Estava péssima. Doeu muito todo aquele esforço que fiz para tirar aqueles cacos de vidro, depois lavei a perna assim como minha mãe me ensinou, e enfaixei, não era nada muito sério, era só um pequeno corte, mas não gostaria de ter uma infecção e meus pais acabarem descobrindo.
          Depois voltei para o quarto e o organizei deixando-o milimetricamente organizado e limpo, parecendo que nada havia saído do normal.
         Passaram-se meia hora, eu estava deitada na cama com as pernas cruzadas até que Florence bate na porta, minha irmã enxerida sempre aparece em boas horas. Ela nem espera para que eu a deixe entrar, só bate e entra, é como sempre fazemos. Ela se deita ao meu lado na cama sem trocar uma palavra comigo, de repente só se vira de lado para mim.
          - Angel? - Angel é como ela me chama, nosso jeito carinhoso, posso não gostar de muita gente, mas com certeza gosto muito de minha irmã. Viro meu rosto para ela e espero que continue. - Vou passar nos Moore's agora, quer que eu peça para que Daisy venha pra cá? Mamãe e papai só chegam tarde da noite. - Concordei com a cabeça de modo simples, mas Florence continuou. - Ele te machucou de novo?
         - Acontece as vezes Flo, mas não vai acontecer de novo, pode ficar tranquila.
         - Foi o que você disse da última vez...
         - Só não comenta com ninguém, por favor. Principalmente com papai e mamãe.
        Florence não disse nada, só me abraçou e saiu do quarto, fechando a porta de modo delicado.
         E pronto, agora preciso colocar uma roupa de gente para receber Daisy em casa. Ela é minha melhor amiga, mas não precisa me ver deste jeito. Fui até o guarda roupas cheio de fotos minhas com August, isso machuca, então tento não reparar e me forço a mentalizar que logo estarei tirando essas fotos do armário logo, mas sei que não tenho toda essa força. Pego um dos pijamas mais fofos que tenho, gosto dele, ele cheira a August no dia que fizemos aquilo, e isso já me enjoa, procuro outro pijama que gosto.

        Não demora muito pra que Daisy chegue aqui, e ela estava linda, tinha saído de uma festa para vir ficar comigo, e confesso que fiquei me sentindo mal por isso.
        - Flo me contou. Você devia ter me ligado assim que chegou em casa. - Daisy me abraçou com força, parecendo que queria me segurar porque eu estava prestes a fugir de seus braços. - Eu sinto muito mesmo por essa merda, Angel. - Droga, vou desabar de novo. Desabei. Desabei. Chorei no ombro de de Daisy e não tinha nem noção do que estava acontecendo, quando percebi, estava deitada na cama com o rosto molhado por causa das lágrimas e Daisy entrava no quarto com dois potes de sorvete, um de flocos e outro de morango, ela sabe que eu amo morango e flocos desde que somos crianças, e sinceramente, ela se lembrar disso me deixa um pouco mais emotiva do que já estou. Amo Daisy.
           Ela se senta do meu lado e me estende um pote de um sabor que não pude identificar, estava escuro, só tinha a luz da televisão do meu quarto que agora apresentava Simpsons.
           No meio de um episódio qualquer, ela me vira na maior naturalidade do mundo e diz:
           - Vamos pra Malibu semana que vem?
           - Que? Malibu, Daisy? Do nada?
           - Não é do nada, Angelina. É verão, você é bonita e tem dinheiro, e pretende mesmo passar todo o verão dentro do quarto por um garoto filho da puta que não te merece?- Daisy franze a testa.
          - Eu pretendo!
          - Cala sua boca, Angelina. Para de ser idiota, chega de chorar, chorar não vai dar em nada, você vai continuar triste do mesmo jeito se você continuar chorando por ele. Se for pra ser triste, fique triste em uma festa chique de Malibu enquanto bebemos coquetéis e espumantes caros. - Ela estava certa.
           Nesse momento algo estalou em minha mente, alguma luz brilhou, algo me iluminou, eu tenho que ir pra Malibu.
           - Ok, eu vou pra Malibu. Mas sem piadinhas sobre como você sempre está certa sobre as coisas.
           Daisy sorriu sem mostrar os dentes, mas podia-se ver que ela estava satisfeita.
            - Ok, ok, ok. Aceito, acho justo.