Superfície

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"Viva o Imperador!" — as ruas estavam lotadas de brasileiros com suas bandeiras patrióticas que eram balançadas ao vento com fervor. Dom Pedro II andava fardado pela cidade e se sentia satisfeito ao ver, no meio da multidão, pelo menos um olhinho masculino brilhar. Ele sabia que aquele rapaz admirado iria se alistar para os Voluntários da Pátria. 

O povo sempre o surpreendia em quanto o amava e, cada vez mais, o brilho no olhar de outros homens surgia. Alguns saíam correndo dali naquele exato momento rumo ao primeiro oficial que encontrassem, sem querer perder tempo para se alistarem e lutarem ao lado do Imperador pelo Brasil.

Dom Pedro II acenava ao povo e desfilava em boa classe acompanhado de seu amigo Samuel que também iria para a guerra.

Chegando no ponto alto da Rua do Ouvidor, o Imperador parou a caminhada e se virou para trás, vendo aquela massa enorme de pessoas que o aclamavam e aplaudiam. Ele sabia o que tinha que ser feito.

— Brasileiros, — entoou com forte voz. O povo gritou em apoio à figura alta da monarquia. O Imperador passava o olhar por cada rosto, tentava o impossível, que era olhar para todos os ali presentes. Um por um. Continuou. — O Brasil é a nossa casa, a nossa nação... O nosso coração! Devemos protegê-lo! — o povo aplaudia. — Como sabem, estamos em guerra contra o Paraguai. — um grupo específico faz mais barulho, comemorando essa anunciação. Pedro os procura com um olhar confuso. Ele via a felicidade no olhar de alguns e a tristeza e o medo no olhar dos outros... — Por que comemoram?! 

O povo se cala de forma imediata. O Imperador respirava de forma pesada enquanto olhava seus seguidores, além de estar um pouco tenso internamente, o calor do Rio de Janeiro sob uma farda escura era motivo para cansaço. Samuel tenta entender o que se passava com Pedro... Há pouco ele estava sorridente e feliz com as pessoas por estarem ali e agora...? Agora ia de frente com o povo, repreendendo os que tinham ânimo para o embate?

Dom Pedro II nunca gostou de guerras. E a festa, a felicidade de seu povo com um evento desses era algo que o incomodava profundamente.

— Eu não vou mentir para vocês. Não farei como estão acostumados... Não farei propaganda de uma guerra como se estivesse chamando a todos para um grande baile comemorativo. É uma guerra! — sua voz forte escondia o que ele pensava ao olhar para cada brasileiro... Uma dor o dominava, mas Pedro foi bem instruído, desde a infância, a guardar suas dores para si. Para o povo ele deveria ser forte, corajoso, justo... Um bom líder. — Eu preciso de vocês. O Brasil — inspira — precisa de vocês. 

Os que antes sentiam medo erguem o braço com o punho cerrado, acompanhado de um grito de força e apoio ao Imperador. Dom Pedro sorri e vê aquele mesmo olhar de inspiração tomar posse de mais rostos.

— Essa felicidade expressada há pouco... Vamos precisar dela transformada em dever. No amor à Pátria. Na fé no Brasil! — a cada fala eram mais e mais salvas do povo. 

— Viva Dom Pedro II! — gritavam — Viva os Voluntários da Pátria!!

Estava feito. O povo estava inspirado. 

Enquanto caminhava rumo à Quinta, um homem mulato de cabelos pretos veio correndo, atravessando por entre os guardas e alcançando o Imperador. Samuel se põe na frente para proteger o Monarca e os guardas agarram o cidadão que estava ofegante e aparentemente desesperado.

Pedro se apressa para libertar o rapaz capturado.

— Imperador! — ele implora enquanto era afastado a força.

— Não... Não é necessário tudo isso! — o Monarca repreende seus guardas que afrouxam a forma que pegavam o rapaz. Samuel abre espaço ao Imperador. — Podem soltar. — sua tranquilidade na voz mostrava a paixão que tinha com o povo. São pessoas... não animais.

Em Campos de GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora