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Meu corpo fica gelado ao ver meu pai. Eris ri pelo nariz e cumprimenta meu pai com um aceno de cabeça. Cassian encara Eris com desdém e raiva.

—Oi pai — atraio a atenção dele para mim e fico a uma distância segura de Eris —Veio conhecer a cidade? — pergunto e me aproximo dele, o que foi um erro pois ele me fareja. Desde o nascer do sol não sai do lado de Eris, o cheiro dele deve estar em todo o meu corpo. Seus Sifões brilham ainda mais ao sentir o cheiro de Eris em mim e vejo o maxilar dele contrair.

—Porque está com o cheiro desse porco? — meu pai sequer olha para mim ao perguntar. Ouço uma risada de Eris e ele se aproxima de Cassian.

—Ah talvez seja porque tomamos banho juntos hoje — ele dá de ombros e meu rosto esquenta. Um rosnado saiu da garganta de meu pai. Um borrão de asas e magia vermelha invade minha visão e meu pai ataca Eris. Os dois saem rolando para longe, grunhindo, derrubando árvores pelo caminho, meu pai acerta socos no rosto de Eris e pude jurar que sentir o golpe em minha alma.

—E foi ótimo se quer saber — Eris fala grunhindo e ofegante. Esse maldito não ia deixar barato, ele vai provocar Cassian. E o pior...vai aceitar a surra. Sei disso, posso prever isso apenas olhando para o rosto de Eris. Ele não revidaria, como fez com Tryn mais cedo. Não sei porquê, mas Eris apenas fechou os olhos e aceitou os vários socos de meu pai. Pelo Caldeirão, eu podia sentir cada golpe como se fosse em mim. Podia sentir o chão tremer com a raiva de Cassian.

Não foi Nyx ou Kaia que contou ao meu pai... não. Foi aquela imunda da Hemety. Devia ter matado ela quando tive a oportunidade. Minhas mãos tremem de raiva. Raiva de todos. Hemety por se meter onde não deve. Meu pai por querer me controlar tanto assim. Eris por falar o que não deve.

—Não tem um pingo de respeito — meu pai rosna no rosto de Eris e ele sorri, seus olhos brilhando como brasa. E com um soco, ouço o barulho do nariz de Eris, ou a mandíbula, não tenho certeza. O ar foge de meus pulmões e tento controlar a vontade de ir para cima de meu pai.

—Esses rosnados não me dão medo — Eris fala rouco e sangue sai aos montes do seu nariz. Meu coração está tão acelerado que tenho medo dele saltar de meu peito. Meu pai ameaça dar outro soco em Eris mas eu corro na direção deles, empurrando meu pai para longe de Eris. Cassian é jogado contra uma árvore e fica de pé em um instante, os cabelos agora bagunçados.

—Perdeu a cabeça? — falo com os dentes trincados — Tudo que fiz foi porque quis e você não tem nada a ver com isso. — olho meu pai ofegar e Eris continua no chão, sangue ainda saindo de seu nariz.

—Vai ficar com ele mesmo depois de tudo que ele fez com Mor? — meu pai pergunta com os dentes trincados, gesticulando com as mãos. Vejo minha mãe atrás de Cassian e me analisar inexpressiva, de longe.

—Mor, alguma vez, já te contou tudo o que aconteceu? — é a vez de Eris falar e em resposta meu pai grunhiu para ele. Eris se aproxima de mim com dificuldade, ficando ao meu lado. O colar em meu peito queima de uma forma reconfortante, como se ele soubesse que esse momento é tenso. Não sei como, mas sinto Eris ficar triste. Seu rosto estava sério, com um pouco de deboche, mas por dentro ele parecia...quebrado e exausto.

—Ela não precisou dizer nada para eu entender — meu pai se aproxima de Eris, cuspindo as palavras na cara dele. Ah...Eris aceitaria a surra novamente. E dessa vez meu pai o mataria se ele não revidasse. —Tentou tirar minha parceira de mim...mas minha filha não — Cassian fala e pega Eris pelo colarinho.

Me aproximo lentamente por trás de meu pai, sentindo o olhar de minha mãe em mim, e acerto uma parte específica de seu joelho. Sua perna perde a força e ele larga Eris, me olhando desacreditado.

Cortes de Chamas e MemóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora