Prólogo

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"Soon may the Wellerman come
To bring us sugar and tea and rum
One day, when the tonguing is done
We'll take our leave and go"

Prólogo: Ferrer

— Capitão... — Ao redor deles dois, marujos atentos assistiam no mais absoluto silêncio o destino inevitável de uma prisioneira. Jane se desesperava enquanto tentava lutar com todas suas forças contra os músculos de Arlon enquanto era carregada por ele. Se arrependia mais por ter sido pega usando seus poderes do que de tê-los usado no navio.

— Preparem a corda! — Arlon gritou. A voz firme do capitão do navio chegava a estremecer as pessoas que assistiam.

— Não, não... — ela gritava.

Jane ouviu as sereias passando aos montes pela lateral do navio. Ela sentiu o pavor dominar seu coração e sabia que não tinha o que fazer contra a decisão de Arlon. Uma vez dito que ela seria lançada ao mar, aconteceria. Assim era o homem da cicatriz. A ruiva sabia que como prisioneira, não podia usar nenhum de seus poderes ali.

Foi Kadrish quem preparou a arapuca. O mesmo que horas atrás havia feito um terror ainda pior com a garota que lançava feitiços. Arlon arrastou o corpo de Jane até a borda enquanto o amigo se certificava de que as pernas e braços da ruiva estavam bem amarrados antes que ela fosse lançada ao mar.

— Arlon... — a suplica da jovem não estava sendo ouvida por ele, que naquele momento só tinha em sua mente uma raiva absoluta pelo desrespeito. Fora avisado que a prisioneira não tinha limites e que faria de tudo para voltar a terra firme. Só não contava que precisaria tomar uma atitude tão drástica.

A tripulação por sua vez começava a entrar em choque.

Os mares se agitavam proporcionando um aroma mais salgado. Um vento muito frio atingiu ao mesmo tempo o rosto de Arlon e a pele exposta de Jane que fora amarrada usando poucas roupas junto a si.

— Suas últimas palavras...

— Eu não menti! — gritou, chorando copiosamente. — Capitão, acredite em mim...

Porém nada tirava o plano do homem de sua mente. Arlon deu dois passos para trás, deixando a ruiva aos prantos. Até ele mesmo sentiu a adrenalina quando olhou para baixo.

Arlon via os reflexos das sereias. Suas garras pontiagudas. Seus dentes afiados como de grandes peixes famintos. Não era atoa que a menina esqueceu de todo seu orgulho para implorar por uma morte menos sofrida. Sereias como aquelas despedaçariam seu corpo, mas apesar da fome, tratariam de tornar a dor o mais longa possível.

— Pode lançar... — disse, frio como a própria morte.

Jane olhou pela última vez para o Capitão. Ela queria se arrepender de conjurar. Mas ainda sim não conseguia. Sentia que ali naqueles mares, o poder conferido por Ferrer não era em vão. Dizer que jamais usaria os poderes no navio era uma mentira... Ela usaria se pudesse. Desde que foi vendia ao navio como prisioneira, desejava a oportunidade certa de usar seus poderes. Foi pega uma vez e na segunda não teve nenhum perdão.

Kadrish, sem expressar nenhuma reação, empurrou o corpo da jovem. Toda a tripulação gritou ao mesmo tempo. A corda a segurou. Jane não caiu na água, mas permaneceu pendurada. Arlon realmente havia lançado a prisioneira ao mar. Alguns batiam seus copos. Outros aprovavam ao mesmo tempo. O pirata sentiu mais uma vez a sensação absoluta de poder sob os mares.

Jane estava pendurada pela corda a um metro da água. Ela via o rosto das sereias, ela ouvia seus cantos maquiavélicos. A garota chorava em pavor ao que poderia acontecer. Arlon cumprira sua promessa. Só precisava baixar mais a corda, mas sendo ainda mais cruéu, parecia querer baixar pouco a pouco. Ela tinha a pior visão possível. Tão próxima a água...

Um frio percorreu sua espinha.

Um frio do qual jamais se esqueceria.

— Ferrer... — Jane chamou pela última vez o nome do Deus ao qual acreditava, desejando ser ouvida na hora de sua morte. — Por favor, Ferrer... — A voz da garota se embargava em meio as súplicas. — Eu não fiz nada de errado.

Não sabia ela mesma de onde saia a força para falar. Uma sereia saltou, surpreendendo-a, e com as garras, deixou um corte profundo na perna direita de Jane. Ela gritou de dor e desespero. Um grito tão alto que até alguns marujos se compadeceram.

"O poder foi dado a você por Ferrer, Jane. Não há do que se envergonhar. Eles não entendem que você nasceu com um dom. Te chamarão de coisas horrendas e você terá que entender, mas Ferrer jamais sairá do seu lado".

Jane lembrou disso enquanto sentiu o sangue escorrer pela sua perna, ouviu pela última vez o ranger de dentes das sereias antes do som de algo caindo na água. E ela se deu conta de que agora, as sereias fugiam como peixes fugiam de um predador.

Arlon havia saltado do navio e agora estava no mar. Toda a tripulação estava chocada.

E nenhuma sereia tola ficaria por perto de quem Arlon, mesmo depois de jogar ao mar, decidisse proteger.


Insanidade - Uma fanfic de A Sétima RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora