Capítulo 12.1

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Pela madrugada, ao (finalmente) me deitar, senti a ansiedade me corroer, não encontrava meu sono de mais cedo, então abri a gaveta da minha cômoda onde eu guardava meu "kit felicidade", e retirei um pequeno saquinho que continha em seu interior um pó fino e branco.

Fiz quatro carreiras sobre a mesa e aspirei cada uma, sem deixar resquício nenhum dele, inalei até que estivesse cheia daquela euforia que só ele me dava.

Eram 2 horas da manhã, pensei então que seria bom dar um mergulho na piscina, ligar o som com a música mais triste e mais alta possível, é uma boa ideia, não acha? 

Desculpe, não te ouço. 

Desci até o andar de baixo, peguei na cozinha uma garrafa do pisco que comprei no ano passado, importado do Peru, da melhor qualidade.

Tomei alguns goles, o gosto forte, o álcool, a uva, me queimavam por dentro, incineravam minha garganta, desciam rasgando, eu gostava daquilo, gostava de estar fora de mim, de ser mera espectadora de tudo por algumas horas. Eu só quero ficar chapada e esquecer um pouco, pare de me julgar, sei que me julga em seu íntimo. 

Deixei minha garrafa depois de beber um terço do litro daquele líquido divino, liguei o som lá de fora, coloquei minha playlist da Lana e mergulhei na minha piscina, sentindo a água molhar minhas roupas (agora me dou conta que não as tirei), por dentro, minha mente inundava com os entorpecentes, a dor da perda se intensificava e caia no tom da música. 

Debaixo d'água tudo ficava com o som meio turvo, abafado, então eu voltava a superfície. Tirei minhas roupas, de uma vez, arranquei-as, ficando completamente nua naquela água fria. 

Quando me dei conta, já sentia meus pulmões se enchendo de líquido, eu não conseguia respirar, meus sentidos pareciam trancados, eu gritava mas a voz quase que não saia, não tinha ar suficiente para gritar em um tom mais alto, foi quando eu vi ela.

—Vem com a mama que te protejo, vem Lise...— ela me estendia a mão, mais viva do que nunca. —Vem com a mama!

Pisquei, com medo de que aquilo desaparecesse, e então desapareceu, se desfez no vácuo. Só uma alucinação, desejei que fosse real.

Agora era Janete que aparecia, correndo e segurando uma toalha:

—ANELISE! O QUE TÁ FAZENDO AÍ?

Ela estendeu o braço e me puxou para fora da piscina, finalmente, a agonia acabou.

Ou não.

Talvez ela tenha começado, de novo.

—Você não tá nada bem, se enrole na toalha e venha para dentro, não pode entrar na piscina nesse estado…

Eu assenti com a cabeça, logo tudo começou a ficar mais confuso, ela dizia palavras que eu não entendia.

Depois desse episódio de quase morte, não me lembro de detalhes da noite, há uma lacuna que não se preenche entre as minhas memórias. Tudo que eu me lembrava era o eigengrau dos meus olhos.

O Último AtoOnde histórias criam vida. Descubra agora