Cap. 3

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Marianne

─ E essa é a Mariane, a presidente. ─ Foi como o cabo me "apresentou" ao Cassiano. ─ Mas dela você lembra, tenho certeza.

─ Claro que lembro, ela é muito marcante, a moça do debate. ─ Ele comenta sorrindo mas não ligo muito, só dou a sombra de um sorriso de canto.

─ Eu tenho aula, com licença. ─ Aviso antes de acenar a cabeça com respeito para o Cabo e me retirar junto com a turma do grêmio, que foi se espalhando pelos corredores para entrar em suas salas.

─ Ei presidente. ─ Cassiano me chama e me acompanha perto do bebedouro e eu me viro para olhar. ─ Queria pedir desculpas pelo episódio no cinema, não sabia que aquela menina ia agir assim.

─ Não acredito nisso, homens como o senhor sempre sabem com que tipo de pessoa estão lidando mas às vezes acabam esquecendo. Em todo caso não há o que desculpar. ─ Respondo me virando e voltando a andar em passo contido que ele acompanhou.

─ O que quis dizer com "homens como eu"?

─ Quis dizer que o estereótipo de homem que se acha irresistível e que por isso pode se aproximar de todo mundo especialmente das mulheres, é o mesmo que acha que conhece todo mundo também. No fim acabam conhecendo mesmo mas como já disse, esquecem.

─ Cê é uma menina esperta sabia? ─ Ele cruza os braços nas costas e eu dou uma olhada no topo de uma das mangueiras que ficavam em uma das partes abertas entre os corredores para ver se ainda haviam ninhos lá.

─ E o senhor só tem quatro ou cinco anos a mais que eu, não me chame de menina. ─ Aviso.

─ Desculpa, é só que você tá sempre me chamando de senhor então acabo me sentindo velho...

─ Mas não é. E eu o chamo assim porque sou obrigada, em todas às vezes que eu tive de falar com o senhor eu era a subordinada, como agora. ─ Respondo com um gesto lento de cabeça.

─ Acho que tá meio mau-humorada hoje, certo? ─ Ele tenta com um ar meio constrangido.

─ Errado, só odeio chamar a atenção. ─ Era bom cortá-lo, os militares que tinham contato conosco, garotas da escola ou qualquer outra mulher, sempre se achavam os gostosões.

─ Desculpe.

─ Pela terceira vez? Em menos de cinco minutos, o senhor erra muito mesmo ou só tem medo de fazer isso? ─ Pergunto parando na frente da sala e pondo a mão na maçaneta.

─ Acho que é mais por educação, odeio sentir que incomodo. ─ Ele fala olhando pra mim e eu abro a porta.

─ Devia prestar mais atenção então, bom dia. ─ Aceno pra ele como fiz ao cabo e entro na sala pedindo licença ao professor e faço uma careta ao perceber que havia sido demasiadamente grosseira.

Certo, eu de fato era muito grosseira, um aspecto que eu tentava mas não controlava bem e às vezes só percebia depois de já ter feito algo errado, o que me levava sempre em busca de redenção. Talvez o pouco sono afetasse meu humor mas eu não costumava procurar desculpas para os meus erros, se eu errava eu consertava, sem melodrama, sem martírios, sem complicações, gostava de coisas simples nesse ramo. Durante a semana, não vi mais o Cassiano, só no final dela, na sexta, acho que estava de serviço e só saiu naquela noite pois ainda estava fardado, estava esperando uma oportunidade de poder me desculpar e quando a Dorinha terminou com o pedido dele, que não falou comigo por eu estar observando de longe, fiz o Eduardo, o cara do Milk-shake, colocar um sorvete grande pra ele e claro, alguns minutos depois de o pedido sair, ele me procurou.

Porque Estrelas Duram Mais Do Que as FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora