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Any Gabrielly

O leve vento que sopra é suficiente para que o velho balanço se mova, rangendo por estar velho e acabado. Enquanto nos dirigimos até ele flashbacks surgem em minha mente, brincávamos de pega-pega envolta do velho balanço, fazíamos piqueniques no gramado e minha vó sempre me contava histórias fantasiosas que ela mesma criava.

Nos sentamos no velho balanço e Josh me abraça, deito minha cabeça em seu ombro e encaro a velha árvore onde nós costumavamos ir quando era criança.

– Bem ali, embaixo daquela árvore, minha vó me contava histórias de contos de fadas. Histórias que ela mesma criava, era sempre uma história diferente mas todas com algo em comum, um final feliz e alegre.

– Sua vó era um doce de pessoa.

– Era, se preocupava mais com os outros do que com si mesma. Colocava a prioridade dos outros a cima da sua. – Assim como eu, sempre pensando no outro e menos em mim mesma. – Espera, sua mãe não chegava hoje?

– Sim, enquanto estava a caminho, a avisei que não estaria quando chegasse mas deixei a chave no lugar de sempre e que voltaria logo.

– Você é doido Josh. Veio de Los Angeles em um voo só para ficar do meu lado.

– Eu não sou louco por isso, louco rasga dinheiro, louco perdi tudo em apostas. Eu só sou seu melhor amigo que prometeu ficar do seu lado para o que der e vier, se lembra?

Como não lembrar.

– Você não existe garoto!

– Eu sei, igual a mim você não acha.

– Graças a Deus, preguiçoso, bagunceiro, encrenqueiro e folgado em dobro não aguentaria.

– Haha, diz isso mas sei que gosta de todos meus defeitos, caso contrário não seríamos melhores amigos.

– Uma coisa é gostar, a outra é aturar. São lados diferentes...

– Ok, tem razão. Eu sou um pé no saco né? Tiro você da cama na madrugada para me socorrer, faço você fingir ser minha namorada, você banca a minha mãe cuidando de mim enquanto ajo como um adolescente rebelde.

– Isso você tem razão, mas faço isso pela nossa amizade. Cuido de você pois é meu melhor amigo, se eu não fizer, ninguém irá fazer.

– Tem razão, é nós dois contra o mundo.

– Isso aí bubble.

– Esse apelido não Any!

– Ok, além de nós, só minha vó sabia do seu apelido. Acabei deixando escapar em um dos natais.

– Não me importo com isso, sei que ela guardava segredos.

– Minha maior confidente.

– Não quer voltar para lá não é? – Nego com a cabeça. – Vem cá. – Josh envolve seu braço em roda de mim, em um abraço gostoso. Deito minha cabeça em seu peito sentindo a leve brisa balançar meus cabelos soltos.

– Eu não quero sair daqui.

– Podemos ficar no balanço o quanto quiser.

– Estou falando do abraço.

– Também, pode ficar o tempo que quiser.

E assim se fez, fiquei em seus braços por longos minutos, estou devastada mas estaria pior se Josh não estivesse comigo. Quando se passava das onze voltamos para casa da minha família, deixei a mala de Josh junto a minha no meu antigo quarto. Descemos e o jantar foi em silêncio, todos abalados pela perda, o lugar dela estava lá, com sua cadeira especial para as suas costas machucadas com o tempo e a idade.

Só o que se ouvia era os poucos barulhos dos talheres nos pratos e mais nada. Todos estavam exaltos e precisavam estar recuperados para o outro dia, onde iremos espalhar as cinzas da minha avó como ela queria.

Entro em meu antigo quarto a passos lentos e cansados, Josh entra atrás de mim e fecha a porta, paro olhando para os lados vendo que cada mínima coisa me lembra dela. Sinto suas mãos acaricarem meus braços e respiro fundo, estou em um conflito inteiro nesse momento.

Um lado agradece por Josh estar aqui e sendo tão atencioso comigo, já o outro luta para cumprir a promessa que fiz a mim mesma, esquecer Josh, mas com seu jeito carinhoso e protetor é impossível.

– Vem, você precisa dormir.

Josh puxa a coberta para os pés da cama e espera que me deite, puxa a coberta de volta e me cobre. Deposita um beijo na minha testa e se afasta. Seguro em seu pulso e o mesmo direciona seu olhar para mim.

– Dorme comigo? Não quero dormir sozinha hoje.

– Claro que durmo com você, achei que queria ficar sozinha.

– Eu preciso de você comigo. – Afirmo.

Josh da a volta na cama e se deita ao meu lado, me puxa para me deitar em seu peito e assim faço, adormeço em seus braços, me sentindo acolhida. Por mais que minha mente me alerte que isso não é bom para mim, as palavras de Sabina surgem em minha mente, como se ela me alertasse mas não ligo, eu só quero ficar aqui, com ele.

Todos nós um dia seremos uma pequena estrela que brilhara no céu. Seremos apenas um a cima das nuvens, a morte não é o fim mas sim um recomeço, fim de um ciclo mas não o fim de tudo. – Cecília Soares.

Me movo na cama, sentindo um peso resoavel em mim, ainda dormindo acho que estou sonhando e me movo. O tal braço se move, me puxando para mais perto, colando meu corpo ao de alguém. Observo as mãos grandes, uma está na minha frente por estar deitada no braço esticado no travesseiro e a outra me mantém firme, me sinto acolhida, protegida de certa forma aí me toco que Josh está abraçado em mim.

Não farei como da última vez, sair correndo como uma doida sem dar explicações, aproveito o momento, me aconchego mais perto de Josh e sinto a ponta de seu nariz atrás da minha orelha, Josh se acomoda, se arrumando, nos deixando colados.

Fico encarando o nada apenas ali, aproveitando o momento, eu sei que isso pode piorar a minha situação mas está tão gostoso. Não sei se terei isso novamente então irei aproveitar.
Acaricio os nós de seus dedos pensativa, estou melhor do que ontem, foi tudo tão rápido que a notícia me derrubou completamente. Fiquei devastada ao saber da morte da minha avó, saber que não pude dar o último adeus olhando em seus olhos mas o que me acalma é que ela está lá em cima, se encontrando com meu avô, o amor da sua vida.

– Bom dia.

Josh diz sonolento, movimentando a ponta do seu nariz atrás da minha orelha.

– Não é bom dia, não quero sair daqui. Quero ficar aqui e esquecer que ela se foi.

– Eu sei que dói Any mas ela não gostaria de ver você assim.

– Eu sei, ela iria me repreender por isso. Dizia que não queria ninguém chorando por sua morte. Queria que todos sorrissem assim como ela sempre sorria.

Nos levantamos e nos arrumamos, descemos para o café da manhã, foi o café da manhã mais triste que já tomei na vida. Ela faz uma falta tão grande, sinto falta dela reclamando do pão endurecido que meu pai compra na padaria da cidade.

Como combinado, no final da tarde, suas cinzas foram jogadas no mar, assim era seu desejo, se juntar ao seu amor através do vento. Queria poder ficar mais mas além de Ursula estar sozinha na casa de Josh, preciso trabalhar. Tenho meu aluguel para pagar, caso contrário sou despejada apesar de quase não dormir em casa.

A despedida foi difícil como sempre é todas as vezes que venho, estou levando comigo o quadro que dormi abraçada e o velho livro de receitas que minha vó escondeu de todos mas que descobri, quando retirei a imagem do porta retrato vi uma pequena chave, a última gaveta estava trancada e a minha curiosidade falou mais alto, achei esse livro com meu nome nele, escrito pela minha vó, pois sua letra é inconfundível.

Na carta que estava na primeira página do livro dizia que após ela se for, esse livro deveria ser direcionado a mim sem que ninguém o abrisse, apenas eu, você não existe mesmo vó. Levarei ele comigo para Los Angeles como forma de recordação.

Não esqueçam da "⭐" pois ajuda demais e comentem, os comentários me motivam a continuar.💕

Destiny [ Short fic ]Onde histórias criam vida. Descubra agora