Parte 01 - O Presente Misterioso

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Tem um pacote de chocolates em frente a porta da minha casa.

Ou, pelo menos, é isso que eu concluo quando abro a porta, morrendo de sono, depois de um soar de campainha.

Porque é lógico que meus pais são totalmente incapazes de se levantar da cama para ver quem tocou, devido ao fato deles terem voltado de uma dessas festas high society deles eu nem sei que horas da madrugada.

Então sobra pra quem? Para pobre filha única da casa.

Que apesar de ser chamada para todas essas festas, nunca vai. Pelo simples fato que detesta. Detesta de verdade, não importa que todas as suas amigas morram de inveja e sonhem em ir numa delas um dia. Jesus, elas não sabem como aquilo é chato.

Mas enfim, pelo menos fui eu quem vi os chocolates primeiro.

Estranhamente, o pacote – em forma de coração, já mencionei isso? – é a única coisa que eu encontro lá fora. E, se eu me lembro bem, pacotes de chocolates não tocam campainhas. Por isso, mesmo morrendo de sono e meio chocada, eu olho em volta procurando por alguém que possa ter deixado aquela coisa bonitinha ali.

Só que, ah, nada.

Tá que eu demorei a descer as escadas, de olhos parcialmente fechados e resmungando, e deu tempo de sobra pra uma pessoa botar o pacote aqui nas escadas e ir embora. Mas... Por quê?

Ainda meio sonolenta, pego a embalagem para examiná-la de perto. Eram os meus favoritos, trufas. Pequenas trufas arrumadas lado a lado, contornando um coração. Uma fita com a temática de anjos envolve a caixa, com um laçarote bonito na frente dela.

Já penso que isso é coisa do Lucas, mas aí me lembro que ele não tem idéia que eu adoro anjos e pondero se ele sabe se trufas são meu tipo de chocolate preferido (acho que não). Poderia ter sido só um chute certeiro do meu namorado?

Então eu vejo o cartão pendurado.

Numa letra de forma, apressada e garranchuda, leio:

SINTO SUA FALTA.

Só isso.

Eu quase deixo as trufas caírem todas no chão quando leio e releio várias vezes essa frase. Um calafrio estranho percorre minha espinha e eu não ligo nada pro fato de meus vizinhos provavelmente estarem me achando uma louca de pijamas compridos de ursinho olhando espantada para uma caixa de trufas.

Porque definitivamente não pode ser coisa do meu namorado.

Pelo simples fato de que, mesmo que ele saiba das trufas e dos anjos – o que eu acho difícil, ele não tem como dizer que sente minha falta.

Eu o vi ontem a noite!

Meio tremula, eu caminho de volta para dentro. Enquanto bato a porta, penso em que poderia ser o remetente dessa mensagem. É meio difícil fazer isso quando você meio que é a garota mais popular da escola. Sabe como é, eu realmente tenho muitos admiradores (secretos ou não), além do meu namorado capitão da equipe escolar.

Só que esse bilhete descarta todos eles. Desde Jorge, meu admirador nerd até Lucas. Nenhum deles sabe das minhas preferências. E muito menos podem estar sentindo minha falta. A maior parte deles não sabe nem meu endereço!

Então de quem é essa caixa, caramba?

SINTO SUA FALTA.

Sento-me no sofá e, com a caixa no colo, disco o número de Lucas. Ele atende, com aquela voz de sono bem característica.

─ Oi Lú, sou eu – digo.

─ Oi – ele responde – O que foi?

─ Nada não – procuro algum jeito de comentar sobre a caixa. – Você vem pro almoço amanhã, né?

Reencontros, trufas e anjosOnde histórias criam vida. Descubra agora