Capítulo 25

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Os olhos de Marta não piscaram por breves segundos, enquanto enacaravam os dele. Ela engoliu à seco aquelas palavras que mal passaram em sua garganta. Algo se desfez, se desmontou dentro dela, algo que ainda estava em reconstrução.

Aquele silêncio, as lágrimas já pingando dos olhos dela.

- Se isso é algum tipo de brincadeira, Zé, não tem nenhuma graça!

Zé não disse nada e muito menos a olhou. Encarava qualquer ponto no chão.

- Fala alguma coisa, Zé...fala!!! Se você não disser nada eu...- ela abaixou a cabeça e engoliu o choro-...Zé.

Ele a olhou, por um minuto ele quis dizer tudo, toda a verdade. Mais não disse, e nem podia, pois se dissesse, perderia Marta para sempre. Preferiu a mentira do que vê-la morta.

- Zé...- os olhos e a voz dela imploraram por uma resposta - Me fala que você não vai fazer isso comigo de novo? Eu consegui te amar de novo, me entreguei para você, te disse que se não fosse para me amar até fim, que me deixasse sair daquela porcaria de quarto, e você me fez ficar, me disse que não voltaria para ela e esta fazendo exatamente isso agora...porque isso? Parece que você gosta de me ver sofrer...- Ela o encarou.- Zé...

Não conseguia dizer nada, e já agoniado e totalmente machucado por dentro, ele saiu do quarto.

Marta viu tudo se desmoronar como um frágil castelo de areia sendo levado pelas ondas. Havia perdido o chão.

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Do lado de fora do hospital, Josué esperava por Zé encostado no carro. O homem de preto apareceu, parecia completamente desnorteado e desligado de qualquer coisa fora de seus problemas.

- Me dê a chave do carro- Zé pediu.

- Comendador, eu posso levar o senhor, é só dizer - ele foi solícito como sempre.

O comendador precisava ficar sozinho, não dava para ter mais ninguém ao redor. Sua cabeça estava cheia, acumulada de muitas coisas, seu coração pesava, precisava da solidão por um momento.

- Não, eu quero ficar sozinho. Me dê a chave. Vamos - Seu tom de voz era seco e ríspido.

Sem questionar mais nada, Josué entregou a chave, saiu da frente do carro, subindo a calçada e viu o amigo entrar no carro e sair tão rápido que deixou para trás marcas de pneus no chão.

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O peito parecia que iria rasgar, aquela dor novamente, por que? Porque tinha que ser assim? Quando estavam tão perto, tudo parecia causar atritos, pareciam estar forjados a dar sempre errado. A felicidade realmente não fazia parte do repertório de vida entre eles - pensou Marta enquanto chorava.

No meio disso, entrou uma médica.

- Com licen...Dona Marta, a senhora está se sentindo bem? Alguma dor?- uma menina, nova, vestida de branco, cabelos amarrados e uma prancheta nas mãos, perguntou se aproximando.

Os soluços da imperatriz não a deixavam falar.

- É uma dor que remédio nenhum cura. Dor na alma - Ela conseguiu dizer brevemente.

A moça se comovel.

- A senhora quer que eu chame algum de seus familiares?

- Não, não. Não precisa - Ela recusou, limpando o rosto.

- Tem certeza?

- Tenho sim. Obrigada.

Logo após aferir a pressão de Marta e entre outras avaliações do estado físico da mesma, a enfermeira saiu.

- Porque fez isso comigo de novo, Zé?- Ela sussurrou para si mesma.

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A praia estava vazia. Na verdade, aquela praia era vazia, quase nunca era frequentada, uma das poucas no rio de Janeiro que ainda são assim. As barras da calça de Zé estavam dobradas, os sapatos na areia e ele sentado olhando as ondas irem e virem, deixando seus rabiscou na areia.

Zé não era um homem dado a chorar por "qualquer coisa" para que tal emoção viesse à tona, teria de ser algo muito importante, pois as circunstâncias de sua vida dura, o fizeram um homem de emoções petrificadas. Mas dessa vez era diferente, havia perdido Marta, doía pensar que na noite anterior estavam se amando como anos atrás, jurando nunca mais ficar longe um do outro. Foi breve! Sim! Mais ele já fazia planos para ambos. E agora ela estava tão perto e tão longe ao mesmo tempo.

Ela era a mulher de sua vida, e ameaça nenhuma, nem mesmo de seu pior inimigo, o fariam ficar longe dela de novo. E foi ali, remoendo lembranças, que ele reuniu forças para traçar um plano que acabaria de vez com Isis. Ele ainda nao sabia como, mais já tinha a certeza que conseguiria, pois sua força vinha de seu "diamond".

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Clara deu duas batidinhas de leve na porta antes de entrar no quarto de Marta. A mãe estava sentada, olhava para um ponto aleatório o quarto, mas quando viu a filha, tentou uma outra feição, não queria que ela soubesse e muito menos queria explicar algo.

- Olá. Vim ver como minha mãe está depois de fazer coisas que não podia e vir parar aqui de novo - Ela disse brincando, enquanto deixava suas coisas num sofá que tinha ali.

Marta tentou um sorriso fraco.

- Oque foi? Aliás, cadê meu pai? Ele não estava aqui com você?

Foi mais forte que Marta pôde aguentar, o cheiro foi inevitável.

- Só me abraça, minha filha, só isso. Não faça perguntas agora, só me abraça.

Mesmo sem entender nada, ou já desconfiando, Clara obedeceu e abraçou a mãe com todo o carinho do mundo.

[...]

Depois de Marta ter aliviado seu peito, Clara não se conteve.

- Mãe, me conta oque houve, hum? Quem sabe eu não possa te ajudar? Você está me deixando aflita dessa jeito - Disse ela preocupada.

- Seu pai mentiu para mim de novo. Sabe com quem ele provavelmente está agora?

Clara recuou e fez uma cara de: "eu não acredito".

- Não, não me diga que ele deixou você de novo para ir atrás daquela vagabunda? Eu não acredito que meu pai teve coragem de fazer isso de novo. Ele jurou que não faria, eu acreditei nele - Ela esbravejou completamente desapontada e decepcionada.

- Já era de se esperar - Ela virou o rosto para o lado direito.

Cortava o coração de qualquer um ver Marta novamente naquela posição. Clara se aproximou e abraçou apenas, não disseram mais nada.

Acreditar no amor não é crime, quando se ama, você acredita que a outra pessoa te ame também. Marta viveu anos ao lado de Zé, o conhecia como a palma de sua mão. Todos os anos de sua vida, ela dedicou a ele, aguentando diversas coisas. Quando descobriu a traição, seu coração se despedaçou como um vaso raro de cristal. E quando esse tipo de coisa acontece, é impossível que seja como antes. Mais esse amor dela por ele era algo tão forte, tão sublime, que excedia qualquer entendimento, ela era capaz de tudo por ele. Mais naquele dia, algo ficou frio dentro dela.


Meu Diamante - MALFREDOnde histórias criam vida. Descubra agora