XIX. BROKEN GLASS

326 40 160
                                    

Louis.

Olhos azuis.

Perfume forte, amadeirado e às vezes com a presença da fumaça de um cigarro.

Sorriso e olhos fechados. Ruguinhas no canto.

Louis jogando futebol. Louis vendo futebol.

Harry se forçava a pensar em qualquer coisa boa que o fizesse não desmaiar. Era difícil. O grande salão estava sufocante, apertado, não havia oxigênio o suficiente para todos ali.

-Desculpe... o quê? - Taylor soou à sua esquerda. A voz calma, oposto de seus batimentos cardíacos.

-Nós vamos explicar, querida - sua mãe respondeu no mesmo tom, mas não pode continuar.

-Que merda é essa?! - Harry gritou. A cadeira foi arrastada bruscamente e bateu forte no chão quando ele se levantou, o barulho fez todos do salão se encolherem. A louça, a prataria e taças em cima da mesa se sacudiram com o empurrão e vinho foi derrubado na toalha branca - Voltamos ao século catorze? Casamento arranjado? Mãe, isso é sério?

Anne apenas abaixou a cabeça. Ela odiava a situação tanto quanto Harry.

-Que porra é essa...? - falou pausadamente cada palavra - Não. Não vai acontecer - Harry gesticulava rápido rindo do quão absurdo aquilo soava - Eu sou gay. Eu namoro o cara mais incrível desse mundo - as lágrimas inundaram seus olhos ao pensar em Louis e não demoraram a despencar - Não posso fazer isso com ele. Não, nem fodendo. Estamos planejando nossos filhos, nossa família...

-Harry, me deixe explicar - Desmond pediu pacientemente

-Pai, não! - cortou sua fala, visivelmente revoltado e faltando pouco para perder o controle. A mandíbula travada, as sobrancelhas num vinco fundo e a mão ajeitando a franja a cada segundo - Você mais do que ninguém sabe de tudo que a gente passou até aqui. Estamos felizes! Em paz, por favor, não tira isso de mim, por favor!

O choro o derrubou de joelhos no chão, machucando sua pele e a ardendo instantaneamente. Mas nada se comparava à dor que sentia por dentro, rasgando-lhe os órgãos e quebrando seus ossos, um sentimento ruim, de gosto amargo. Podia sentir Louis escapando entre seus dedos como areia fina e não conseguia achar uma solução para mantê-lo consigo.

Sentiu o corpo de Gemma contra o seu, os dedos finos passando por seu couro cabeludo e palavras de reconforto sendo sussurradas.

-Harry - Anne agachou em sua frente, segurando seu rosto entre as mãos. Não se importavam mais se estavam fazendo uma cena no meio do jantar - Meu bebê, por favor, me escute - sem sucesso, o garoto continuava a chorar - Olhe para a mamãe, amor, por favor, sim?

Entre soluços, Harry levantou os olhos verdes encharcados em direção à sua mãe.

-Eu sei, meu querido que está doendo. Mas me escute - mãe e filho respiraram profundamente juntos, Anne tentando auxiliar na respiração do primogênito enquanto mantinha seus olhos fixos um no outro - naquele dia, quando os rebeldes invadiram nossa casa, eles juraram que iriam acabar com a nossa família se nós não entregássemos a coroa aos Swifts, você se lembra, certo? A única solução que chegamos durante a mediação foi unificar os reinos. Eu sei que você está pensando que casamento é a pior solução possível, mas eles são arcaicos e conservadores e foram muito duros em seu veredito final. As famílias devem se tornar uma só, um só reino e então haverá paz.

-Mãe, por favor... - Harry implorava, a voz quebrada e os olhos molhados - O Louis, mãe, por favor, não.

-Temos que pensar além disso meu querido, eu sei que ele vai entender que você está fazendo isso pelo bem do seu povo, para garantir paz no seu reinado. É um sacrifício honroso que você fará pelo reino e por seus súditos

Fallen Crown • {l.s}Onde histórias criam vida. Descubra agora