— Harry, entre, está frio, não quero ver você resfriado e depois ver todo mundo pegando resfriado também. — ouço meu pai dizer.
Solto um leve suspiro, tomo um gole do vinho que está na taça e dou mais uma tragada no cigarro de menta que está entre meus dedos.
— Se está frio, o que está fazendo aqui?
— Vim trazer alface pra Cecil. — ele diz se abaixando na frente da tartaruga ainda dentro do casco, mas desvio o olhar, voltando a olhar para as várias mansões bonitas que dá pra ver aqui da sacada.
— Posso te fazer uma pergunta? — digo ao meu pai e ele fica alguns segundos em silêncio, talvez imaginando qual seria a pergunta ou algo do tipo... não sei.
Ouço ele puxar uma cadeira e logo ele se senta ao meu lado.
— Faça, Harry.
— Por que é tão cruel comigo? — pergunto e em seguida tomo mais um gole do vinho.
Meu pai fica em silêncio outra vez, sendo possível escutar somente o som do vento, de sua respiração e da tartaruga comendo o alface.
— Se você me acha cruel é porque não estava na minha pele quando eu tinha um pouco menos da sua idade. — ele solta um riso — Você pode me julgar agora, Harry, mas só estou fazendo o que é melhor pra você, não posso deixar que seja um sem futuro. Eu te dou tudo que você me pede, você já tem uma vaga garantida em uma das melhores faculdades do mundo... tem tudo! Eu nunca tive nada do que você tem hoje em dia. Você acha que eu estaria vivo se eu dissesse que gostava de homens quando tinha sua idade? Seu avô teria um infarto como teve naquele almoço em família quando você disse que gosta de homens, mas quando ele estivesse bem novamente me bateria.
— Está querendo me dizer que gosta de homens?
— Estou querendo dizer que seu avô foi um pai cruel, você pode me achar um péssimo pai, mas entre eu e ele nem tem comparação. Seu avô me batia tanto que eu ficava com marcas na pele por dias, uma vez quase desmaiei quando ele me bateu, já eu nunca toquei um dedo sequer em você.
— Imagino que deve ter sido uma tortura apanhar do meu avô, mas... — começo, mas ele me corta.
— Você nem consegue imaginar, Harry, você nunca vai saber como eu me sentia. Fui obrigado a trabalhar aos 13 anos engraxando sapatos, ele gastava todo o dinheiro com o que a gente precisava e o resto guardava na esperança de ficar rico juntando dinheiro. — ele solta um riso — Era patético! Quando explodia de raiva, ia gastar tudo com bebidas e me batia quando chegava em casa... aos 17 anos conheci sua mãe, ela era filha do dono de um jornal bem famoso naquela época, ela tinha dinheiro e se apaixonou por mim. Namoramos e construímos tudo o que temos hoje em dia, hoje em dia o sobrenome: "Styles" é um dos mais conhecidos em todo o mundo, somos uma família popular... foi tudo bem planejado, até você e Gemma foram muito bem planejados, sempre demos tudo pra vocês e dou graças a Deus por isso, sempre dizia que quando eu tivesse filhos, eu ia dar pra eles tudo que eu não tive... dito e feito, não é mesmo, Edward?
— Entendo que meu avô era o capeta encorporando em gente... ele te fez sentir a dor física, já você me faz sentir a dor psicológica. Você destruindo minhas pinturas ou jogando meus materiais de pintura fora não me fazem desistir da arte, a arte acaba virando um desafio que quero enfrentar. Você nunca vai saber como me sinto quando... hm, por exemplo quando pego um pincel e começo a pintar, tenho que admitir que consigo fazer desenhos incríveis, desenhos que você acha uma verdadeira merda, mas que nem você mesmo consegue fazer. Posso até ser um pintor um dia, posso até mesmo fracassar e começar a vender pouco ou por um preço baixo, mas vou estar fazendo uma coisa que eu amo. Eu amo a arte, pai!
— Eu faço isso para o seu bem, Harry, um dia você vai ser pai, você vai pensar nesse dia e vai dizer: "porra, meu pai estava certo, agora vendo arte na praia, sou um fracassado e meu filho de 18 anos está seguindo o mesmo caminho e nem quer saber de faculdade".
— Pai, eu tenho 17.
— Não importa, não quero isso pro seu futuro, me desculpa se estou parecendo um babaca arrogante.
Sinto uma grande vontade de chorar e por pra fora essa sensação horrível de estar me sentindo um fracassado, como meu pai diz.
Vou estudar administração no ano que vem, assim que eu concluir o ensino médio. Meu destino é Harvard, uma ótima universidade e o sonho de muita gente, que tenho em minhas mãos.
Acho que está tudo perfeitamente ótimo.
Sou um adolescente de 17 anos aproveitando minha vida, tenho boas notas na escola, tenho uma faculdade garantida quando terminar o ensino médio. Vou seguir a faculdade de administração — como meu pai sempre sonhou pra mim — e como tenho um grande amor pela arte, posso até mesmo abrir uma galeria de arte, a MINHA PRÓPRIA GALERIA DE ARTES, vender algumas pinturas minhas que talvez pelo sobrenome da família faça sucesso e pronto, tudo feito.
Após alguns minutos de silêncio, meu pai quebra o silêncio, dizendo:
— Me dá essa merda. — e pega o cigarro de minha mão, que já estava quase virando cinzas e dá uma longa tragada... senhor...
Tomo o restante do vinho, me levanto e olho pra ele.
— Vá a terapia e tente ser um pai melhor.
Não sei se estou dizendo isso pelo pouco efeito do vinho que já estou sentindo ou se é porque estou irritado com isso.
Desmond Styles não diz nada, apenas continua olhando pra frente e eu entro de volta em casa, indo diretamente para meu quarto, logo trancando a porta.
Entro em meu banheiro para tomar um banho quente, pra tentar me relaxar mais. Um cigarro de maconha cairia muito bem agora.
Quando termino meu banho, saio do banheiro me secando, visto apenas uma boxer e uma bermuda, pego meu caderno pequeno, do tamanho de uma agenda que é onde desabafo, onde digo coisas "uau" que rolou no meu dia e faço mais um desabafo sobre meu pai.
O assunto é sempre sobre meu pai.
Sempre começa com:
"Querido diário, meu pai e eu discutimos mais uma vez sobre arte..."
Me pergunto se eu morrer e se encontrarem esse diário, se vão começar a odiar o famoso Desmond Styles por saber a tortura psicológica que sofro com ele ou se vão simplesmente dizer: "ele fez tudo pelo bem de Harry, então tudo certo".
Quando termino de escrever, fecho o caderno, o coloco da gaveta da mesinha de cabeceira da minha cama, deito minha cabeça no travesseiro branquinho e macio e fecho meus olhos, tendo a mente levada para Louis, acho que ele conseguiria me distrair agora, não somente com sexo, mas conversar com ele é muito bom, mesmo que as vezes ele fique falando de seus animes favoritos e que está assistindo sem parar, quando acaba me irritando um pouco. Solto um riso com esse pensamento.
— Louis... — digo em um sussurro e sorrio.
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Preso Em Você (l.s)
FanfictionHarry é conhecido por ser da família Styles, uma das famílias mais ricas dos Estados Unidos e como uma pessoa milionária, ele tem um certo preconceito com pessoas que não são da mesma classe social. Louis, seu colega de classe das aulas de biologia...