Capítulo 36| Mathilde

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'You're the lock and I'm the key
I got everything you need
Well, only a genius could love a woman like me'

- Genius, LSD (Labrinth, Sia & Diplo)

Terça-feira, 02 de janeiro

Ian estaciona o Porsche no estacionamento do restaurante. A iluminação disposta no meio dos canteiros requintados dá uma dica do luxo de todo o estabelecimento.

O moreno comporta-se como um verdadeiro cavalheiro, abrindo-me a porta e estendendo-me a mão. Seguro o seu braço e ajeito o vestido, antes de pisar a passadeira vermelha que nos leva até à entrada.

O tio dele recebe-nos com um sorriso animado e Ian apresenta-nos. Percebo o nervosismo na sua voz, mas Patrick é super simpático comigo.

- É um prazer conhecê-la. Não sei se sabe, mas é a primeira a ser apresentada à família, por isso sinta-se bem-vinda. Tenho a certeza de que faz muito bem ao meu sobrinho e isso chega-me para aprovar o relacionamento. - sinto as minhas bochechas queimarem.

- Obrigada, senhor. É um prazer conhecê-lo também. - dou um sorriso tímido.

Um casal imponente adentra o espaço e não preciso de observar muitos detalhes para perceber que se trata dos pais do moreno. Patrick modera a sua expressão facial, o que é um forte indicador de que até ele não os suporta.

Cumprimento-os com uma vénia delicada e Ian dá um aperto de mão ao pai e troca beijos com a mãe. Fomos encaminhados para o salão reservado e rapidamente acomodados.

- Devo admitir que me surpreende a sua presença. - o senhor Scott dirige-se a mim.

- É um privilégio ser convidada. - sou simpática, embora me custe dirigir tais palavras a uma pessoa que só vive de aparências.

- Estamos curiosos. - a senhora Scott encara o filho. - Como se conheceram? À quanto tempo estão juntos?

Ian procura contacto físico e eu procuro a sua mão embaixo da mesa, dando-lhe força para responder à mãe.

- A Mathilde estuda na mesma universidade que eu, cursa Direito. - a menção à minha faculdade desperta dois sorrisos cínicos e eu forço-me a esboçar uma reação agradável.

- Fico bastante satisfeito em tomar esse conhecimento. - o pai do moreno ajeita a gravata.

- Não é fácil definir uma data de início da nossa relação. - Ian continua, fitando-me para obter algum tipo de confirmação da minha parte. - Conhecemo-nos no dia em que me mudei para o dormitório.

- Por falar nisso, gostaríamos de saber porque é que decidiste mudar-te para a casa sem falares conosco. - a mulher à minha frente cruza as mãos em cima da mesa.

- A propriedade é minha e eu sou maior de idade. - pontua rudemente. - O meu objetivo é morar com os meus amigos e com a minha namorada.

Aperto mais firmemente a sua mão e bebo um pouco de champagne para disfarçar o impacto das suas palavras em mim, tentando afogar, ao mesmo tempo, as borboletas que agitam o meu estômago.

- Estou deveras surpreendida. - a senhora Scott avalia-me descaradamente. - Tenho a certeza que ainda não o conheces o suficiente, porque duvido que estarias com ele se soubesses que ele está sob investigação.

- Como é que é que uma jovem tão charmosa se prendeu a um criminoso? De certeza que reparou somente na conta bancária. - o homem diz com desprezo.

- O seu filho não é um criminoso, senhor. - indago. - Não o julgo por não se sentir confortável num ambiente onde não lhe oferecem o mínimo de conforto. Dinheiro não compra tudo e muito menos o meu coração.

- Amor... - Ian sussurra, aumentando o aperto na minha cintura. - Não vale a pena, linda.

- A minha família, felizmente, tem condições para me proporcionar os luxos que eu desejo e deu-me educação e bons princípios. O vosso filho é muito mais do que aquilo que pensam. Não estou com ele por ser um jovem endinheirado, até porque não sabia desse detalhe quando o conheci. Além disso, ele próprio fez questão de me contar tudo. - levanto-me. - Ian é um homem com um futuro brilhante pela frente e, embora o tentem derrubar, não vão conseguir tirar-lhe isso. Não entrei na vida dele para retirar proveito, mas sim para oferecer.

- Saia já daqui! - o senhor Scott acerta um murro na mesa.

O olhar mortífero dele não me intimida nem um pouco. Se o pai do moreno acha que consegue me persuadir a deixá-lo, está muito enganado.

- Com todo o gosto, senhor. - dou um passo triunfante em direção à saída e o meu namorado segue-me.

- Desculpa, filho. - a mãe dele digna-se a pedir, sob a repreensão do marido.

- A Mathilde só disse verdades e vocês sabem disso, mas são demasiado orgulhosos para admitir. - Ian responde. - Ela já fez mais por mim em três meses do que qualquer outra pessoa em anos. A vossa atitude não só a desrespeita como pessoa, mas também desrespeita o nosso relacionamento, além de me desrespeitar profundamente. Contudo, não se preocupem, porque eu já não espero nada vindo de vocês.

Saí disparada do restaurante, sem me despedir de Patrick e sem olhar para trás. O meu coração estava tão agitado que nem sequer ouvi o moreno. O meu ódio pelos pais dele é tão grande que não consigo acalmar-me.

- Morena! Espera! - ele aumenta o tom de voz.

Paro de andar e ele consegue alcançar-me e abraça-me atordoado. Respiro fundo, mas falta-me o ar. Sinto a ansiedade a consumir-me. Penso nas palavras rudes que proferi e tento justificar-me a mim mesma, perdida nos meus próprios pensamentos.

- Obrigado por tudo. Por absolutamente tudo. - diz baixinho, tentando a todo o custo acalmar-me. - Não enchas a cabeça com isso, amor. Olha para mim. Eles não merecem o teu arrependimento.

Fito-o com ternura, percebendo a sua profunda preocupação comigo e o incómodo por toda esta situação. Subo a minha mão até a sua nuca, brincando com os cabelos curtos. Ele beija o dorso da minha outra mão.

- Não me agradeças por destruir um idiota. - sorrio. - Lamento que ele seja teu pai. Como é que um ser tão desprezível concebeu um indivíduo tão gostoso?

- És incrível, morena. Nunca me defenderam tão afincadamente. Senti-me tão seguro que confiaria em ti de olhos fechados para seres minha advogada.

- Agradeço o elogio, principalmente porque estou somente no primeiro ano da faculdade. - comento com humor. - Não aceito que te acusem desta forma. Não mereces, amor. Eles são teus pais, deviam apoiar-te incondicionalmente.

- Os meus pais têm razão, pelo menos em algo. - admite e eu fico confusa. - Não podes ser real, morena. Eu não te mereço.

- Nada disso! - repreendo-o.

Inclino-me para o beijar e Ian abre a porta do carro, puxando-me para o seu colo. As minhas mão percorrem o seu corpo lentamente e ele arfa.

- Minha. - sussurra, o seu olhar negro a queimar a minha pele. - Única e exclusivamente minha.

O seu polegar desliza pelo meu decote discreto, revelando os meus seios que são expostos com marcas que ele próprio deixou, o que lhe agrada imenso. Os arranhões nas suas costas também me agradam. Ian parece muito mais bonito com as minhas unhas marcadas na sua pele.

- Não me lembro de ter sido pedida em namoro. - provoco-o.

- Eu arranjo uma forma de me ajoelhar aqui e agora, se for esse o problema. - confessa.

- Por enquanto, o único problema é a tua boca estar demasiado longe da minha. - admito, colando os nossos lábios novamente.

Não me deixesOnde histórias criam vida. Descubra agora