Capítulo 11- Aline

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Enquanto arrumava as poucas roupas que eu tinha em uma mochila, olhava para o pequeno pudim e repensava tudo o que estava acontecendo. O senhor Magalhães deveria me odiar muito mesmo, para se preocupar em desgraçar a minha vida. Acaricio o gatinho em meu colchão, enquanto algumas lágrimas rolavam em meu rosto. Olho todo o ambiente ao redor e me entristeço mais ainda.
Tudo estava dando errado!

Eu não tinha dinheiro para alugar nenhum lugar, por mais barato que fosse. Estava em um beco sem saída.
Ouço batidas na porta e limpo as lágrimas. Abro a porta e ele entra observando atentamente.

_Espero que leve todas as suas tralhas, não quero que fique nada para trás.

_Sim. Eu levarei tudo.

Ele me olha dos pés a cabeça e sorri vitorioso.

_Isso ainda não acabou. - Sua fala me faz arrepiar

_Por favor, me deixe em paz...

_Saia daqui imediatamente. A sua presença aqui está me irritando.

Eu não tinha nada, não sabia para onde ir e nem o que faria. E debaixo do seu olhar soberbo, eu começo a caminhar em direção à rua. Ouço o toque do meu celular. Era o vovô, e eu não tinha estruturas para atendê-lo, mas o fiz.

_Oi vovô. - Tento não transparecer a aflição

_Oi minha filha. Eu estava com saudades. - Diz - Nós estávamos.

_Eu também. Eu estava sem tempo, me desculpe.

_Eu te entendo. Está trabalhando muito e não sabe como me deixa orgulhoso. - Um nó se forma em minha garganta

_É sim. Me desculpe a indelicadeza mas pode ligar mais tarde? Eu estou um pouquinho ocupada.

_É claro, minha filha. Eu não deveria te ligar no horário do seu trabalho. Eu te ligarei outra hora. Eu te amo muito, nunca se esqueça disso.

_Eu também amo você, vovô.

_Tchau irmãzinha. - A voz da minha irmã me fez dar um pequeno sorriso, por mais difícil que fosse fazer isso no momento

_Tchau princesa. - Uma lágrima desce

Caminho sem destino e sem rumo. A noite estava chegando e eu fico sem escolha, então me sento no parque e me adapto ao local. Aquela seria a minha noite mais longa em todos esses anos. Estava vazia mas mesmo assim eu me sentia vigiada.

Pego uma calça e coloco como apoio para a cabeça, eu não tinha nenhum lençol ou cobertor. Então visto uma blusa de manga cumprida para tentar me aquecer naquela noite fria e me deito no banco da praça. Fecho os olhos, e a minha mente me coloca a par de tudo o que estava acontecendo. Tento não pensar mas era inevitável. Eu conseguia sentir os enjôos, mas eu não poderia, ali não. Tento pensar em outras coisas para afastar a crise de ansiedade e funciona.

Cochilo um pouco, mas acordo com um barulho. Abro os olhos lentamente e vejo um homem na minha frente. Ele estava mexendo nas minhas coisas e ainda não havia percebido que eu estava acordada. Faço menção de me levantar, ele se assusta e sai correndo. Sento no banco e pego o meu celular. Eram uma da manhã e eu não tinha sono. Tudo isso que estava acontecendo era demais para mim, a minha cabeça parecia que iria explodir a qualquer momento. Um vento frio passa e eu me encolho no banco sentada, o segurando com o coração doído e aos prantos.
Aquela noite seria longa...

A luz do dia se fazia presente e eu ainda estava na mesma posição. As pessoas começavam a circular e eu estava ali, sem perspectiva, sem rumo e sem forças.
Olho ao redor e o tempo estava nublado, provavelmente iria chover e eu teria que me abrigar em algum lugar.
Mas como?
Pego a mochila e o pudim, indo para debaixo da estação. Encosto a cabeça e fecho os olhos por um instante, mas esse instante foi crucial. Quando abro os olhos, o pequeno pudim caminhava para o meio da rua e muito próximo à ele estava um carro, em alta velocidade. Infelizmente só deu tempo de gritar em desespero.

Saio correndo em direção à rua e paro em frente ao seu corpinho ensanguentado.
O motorista sequer deu assistência.
Eu não conseguia assimilar tantas desgraças ao mesmo tempo. E o que estava ruim, ficou pior ainda. A chuva começa a descer e os carros buzinavam ao redor.

_Saia da rua! - Grita um homem

O seu sangue sujava a minha blusa, as lágrimas se misturavam com a chuva e o meu corpo estava inerte. Ouço gritos e buzinas mas eu simplesmente ignorava. Eu me sentia fora do eixo, o meu corpo se movia, mas eu não sentia nada, não via nada e sequer sabia para onde estava indo.
Ouço um freado brusco e olho para cima.
O motorista sai na chuva.
Eu achei que fosse me xingar, mas não. Ele me olha entristecido, ao mesmo tempo que assustado. Ele se aproxima cautelosamente, me segura e me observa novamente. E eu o reconheço.

_Ricardo...

Foi só o que consegui falar antes de tudo ficar preto e instantaneamente cair sendo segurada por ele.

O outro lado do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora